segunda-feira, 21 de maio de 2018

KLÁSSIQO: Mississipi em Chamas

Dafoe e Hackman: dois agentes no calor do Mississipi. 

O inglês Alan Parker foi um dos diretores mais badalados dos anos 1980 e 1990. Em sua carreira ele foi indicado ao Oscar duas vezes, mas poderia ter sido indicado o triplo de vezes. Capaz de dirigir musicais cheios de energia e dramas densos repletos de melancolia, o diretor não filma desde 2003 (quando lançou o controverso A Vida de David Gale). Em uma entrevista, o cineasta afirmou não filmar mais porque percebeu que os "diretores não melhoram com o passar do tempo, eles apenas se repetem". Olhando a carreira de Parker, fica evidente sua preocupação em não se repetir, já que o diretor de The Commitments (1991) e Evita (1996) é o mesmo responsável por Asas da Liberdade (1984) ou O Expresso da Meia-Noite (1978), filme que lhe rendeu a primeira indicação ao Oscar de direção. Após enveredar pelo terror noir de Coração Satânico (1987), Parker realizou o filme que lhe rendeu a segunda indicação ao prêmio da Academia, o contundente Mississipi em Chamas (1988). O realismo do filme concorreu a sete estatuetas, mas levou apenas o de melhor fotografia. Obviamente que a repercussão da obra afetou seu desempenho entre os votantes, já que, até hoje, o filme incomoda e se tornou uma referência quando o assunto é a segregação racial nos Estados Unidos. O roteiro de Chris Gerolmo (que ficou de fora das indicações) é por si só explosivo ao enveredar pelas investigações sobre o desaparecimento de um rapaz negro no estado do Mississipi nos anos 1960. Se você já viu alguns filmes sobre o assunto, saberá que naquele tempo os estados sulistas formavam uma verdadeira panela de pressão, onde a luta pelos direitos civis dos afro-americanos incomodava muita gente. É neste ambiente que dois agentes do FBI aparecem para investigar o sumiço de militantes pelos direitos civis. O agente Ward (Willem Dafoe) logo capta a tensão entre os moradores e como eles sabem mais do que dizem, mas, por outro lado, seu parceiro, agente Anderson (Gene Hackman) naturaliza aquelas tensões raciais e tende a fazer vista grossa para os males da cidade em que se instalam. Intimidações e novos crimes acontecem, tornando as investigações quase insustentáveis e, aos poucos, o envolvimento das autoridades locais começam a se tornar indisfarçáveis junto aos desaparecimento e ações racistas. Tenso do início ao fim e ainda atual, o filme conta com uma marcante atuação de Hackman (indicado ao prêmio de melhor ator), que transmite a transição de seu personagem com um simples gesto) e Frances McDormand (indicada pela primeira vez ao Oscar, concorreu como atriz coadjuvante) provando que dava conta de voos longe do universo dos irmãos Coen. Beneficiado pelo seu olhar estrangeiro sobre uma dura realidade, a direção de Parker é visceral e demonstra que o veterano cineasta faz falta no cenário cinematográfico atual. Violento e amargo, Mississipi em Chamas é um clássico ainda perturbador. 

Mississipi em Chamas (Mississippi Burning/EUA-1988) de Alan Parker com Gene Hackman, Willem Dafoe, Frances McDormand, Brad Dourif, Stephen Tobolowski e R. Lee Earney. ☻☻☻☻

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