terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Na Tela: Thelma

Eilie: A Carrie do Século XXI.

O norueguês Joaquim Trier tem 43 anos e quatro longas no currículo. Nos quatro ele privilegia acompanhar personagens jovens em seus dilemas realistas que nunca parecem repetitivos. Em Thelma, ele utiliza pela primeira vez elementos fantásticos em sua narrativa e, embora flerte com o sobrenatural, o uso deste recurso serve para enfatizar ainda mais os conflitos vividos por sua protagonista. Thelma é uma tímida jovem universitária que pela primeira vez se afasta dos olhares da família religiosa conservadora. Desde a cena inicial percebemos que há algo de diferente na relação da personagem com a família e aos poucos o belo roteiro do filme dá conta de explicar um pouco mais sobre esta relação. Entre pesadelos, pássaros que se chocam com vidraças e convulsões, a jovem revela ter poderes especiais que podem colocar em risco a si mesma e quem estiver ao seu redor -  especialmente uma colega que nutre um carinho especial por ela. Thelma tenta experimentar sensações que antes eram negadas, sempre em dúvida sobre o caminho que deve seguir e o que se passa com seu corpo. O filme avança em uma narrativa lenta, utilizando flashbacks para contar detalhes da infância da personagem e o resultado consegue ser sempre instigante. Se de início parece uma X-Men desgarrada dos filmes de super-herói, aos poucos a personagem se revela uma espécie de Carrie - A Estranha do Século XXI. As semelhanças da história de Trier com a contada por Brian dePalma (a partir da obra de Stephen King) não são poucas, mas troca o banho de sangue por um tom mais sutil e melancólico. Embora a atmosfera seja dramática, o diretor sabe exatamente como usar os enquadramentos, os sonhos elaborados e a trilha sonora para emular um suspense instantâneo num clima que, não raro, flerta com o terror. Existem construções visuais impressionantes no filme e a atriz Eilie Harboe dá conta de transmitir as angústias da personagem com um olhar ou gesto de forma bastante convincente, assim como os atores que interpretam seus pais. Para além do fantástico, o filme consegue ter um desenvolvimento mais do que satisfatório nos embates da personagem com o sagrado e o profano, o divino e o pecado, principalmente no que diz respeito à sua sexualidade. Embora narrativamente o filme seja envolvente, o problema de Thelma está praticamente em seu desfecho. Até chegar lá existe um trabalho meticuloso do diretor, mas resulta o final soa apressado, deixando de explorar plenamente as possibilidades de catarse que a personagem merece. 

Thelma (Noruega - Dinamarca - Suécia - França / 2017) de Joachim Trier com Eilie Harboe, Kaya Wilkins, Henrik Rafaelsen, Ellen Dorrit Petersen e Oskar Pask. ☻☻☻☻

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