domingo, 30 de julho de 2017

Na Tela: O Mínimo para Viver

Lily: a vida na balança. 

Nos últimos tempos se tornou comum fazer filmes bem humorados sobre temas sérios, só a temática de jovens com câncer rendeu dois que colheram boas críticas e sucesso de público - me refiro a 50% (2011) e A Culpa é das Estrelas (2014). Agora chegou a vez da Netflix lançar seu filme engraçadinho sobre um tema sério: To the Bone tem como protagonista uma jovem vítima de anorexia e, ao ser protagonizado por adolescentes, sempre busca equilibrar drama e bom humor. O resultado rendeu críticas pela forma como apresenta a doença, mas, ao meu ver, o filme da diretora estreante Marti Noxon alcança seus objetivos. Penso que a ideia nunca foi ser didático sobre o tema (e existem trocentos materiais por aí sobre o tema), não se trata de um documentário, mas um longa de ficção. Vale destacar que ainda que seja recheado com humor mordaz, existem momentos em que os perigos da anorexia ficam claros, sem perder de vista a relação da internet com este perigoso distúrbio alimentar. O filme conta a  história de Ellen (Lily Collins), adolescente diagnosticada com anorexia e que alcançou algum sucesso na internet com seus desenhos sobre o tema no tumblr. No entanto, a fama lhe trouxe um efeito colateral que agravou ainda mais seu quadro, motivo pelo qual a madrasta procurou tratamentos alternativos para evitar que o corpo de Ellen chegasse ao colapso. É assim que a personagem conhece o doutor Beckham (Keannu Reeves em um bom momento) que irá lhe convencer a fazer um acompanhamento intensivo numa casa - junto com outras pessoas de sua idade  - que precisam melhorar o relacionamento com a alimentação. São nos personagens que compartilham aquela casa que a diretora (que também assina o roteiro) nos insere num mundo bastante particular e assustador. Da mulher grávida (Leslie Bibb) que precisa se alimentar para manter o bebê, passando pela garota que esconde uma sacola mal cheirosa embaixo da cama, o filme utiliza seus personagens para mostrar que os distúrbios alimentares são bem mais complicados do que a tentativa de se enquadrar em padrões estéticos. O filme também evita buscar justificativas fáceis para a anorexia, mas no caso de Ellen demonstra como o mais importante é o relacionamento dela consigo mesma - afinal o pai nunca está presente, a mãe é autocentrada demais para perceber o que acontece com a filha e a madrasta, por mais bem intencionada que seja, às vezes fala demais. Sorte que outro paciente, o expansivo Luke (Alex Sharp), cruza o seu caminho e mostra para Ellen que viver a vida com leveza é fundamental (e ele não está falando de quilos). A relação entre Ellen e Luke faz lembrar a forma como as obras de John Green lidam com temas sérios para os chamados young adults - o que deve ter sido a maior inspiração de Marti Noxon para construir o filme. Neste aspecto, Lily e Alex merecem destaque pela química que constroem em cena. O casal nascido no Reino Unido se destacam entre o bom elenco. Lily prova que dá conta de fazer papéis complicados, sabendo ser cômica e comovente sem exageros, já Alex marca aqui sua promissora estreia em filmes. O rapaz (de 28 anos) já se tornou o mais jovem ganhador do prêmio Tony em 2014 por sua atuação na Broadway e em breve estará no aguardado How to Talk to Girls at Parties de John Cameron Mitchell (ou seja, é um nome para se ficar de olho). O Mínimo para Viver (nome horroroso para o bom sugestivo título em inglês - "Até o Osso") sabe que a comédia serve para desarmar o espectador na abordagem de temas sérios e aqui utiliza o senso de humor para aproximar o público e fazê-lo pensar nos efeitos devastadores da anorexia. 

Lily e Alex: compatriotas de talento. 

O Mínimo para Viver (To the Bone/EUA-2017) de Marti Noxon com Lily Collins, Alex Sharp,  Carrie Preston, Keanny Reeves, Liana Liberato, Lily Taylor, Leslie Bibb, Maya Eshet e Brooke Smith. ☻☻

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