quinta-feira, 15 de junho de 2017

BREVE: A Última Família

A família Beksinski: filme simpático com desfecho assustador. 

Exibido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo no ano passado e aclamado em vários Festivais (sobretudo europeus), A Última Família poderia ser um olhar interessante sobre o passar do tempo em uma família comum, mas se trata da biografia do artista plástico polonês Zdzslaw Beksinski. O roteiro de Robert Bolesto e a direção de Jan P. Matuszynski ousam na proposta de acompanhar 28 anos da vida de Beksinski ao lado de sua família e o resultado consegue ser bastante interessante ao  mostrar o protagonista como um sujeito que poderia ser até o seu vizinho. Do relacionamento com a esposa compreensiva, passando pelo relacionamento cansativo com o filho problemático e as mães idosas do casal (que moraram com eles por algum tempo) o filme capta com maestria este cotidiano que oscilava entre a tranquilidade e o conturbado. Por mais que Zdslaw (o ótimo Andrzej Seweryn que em vários momentos parece o velhinho de Up-Altas Aventuras/2009) e a esposa, Zofia (Aleksandra Konieczna) tentassem fazer o filho sentir-se bem, a instabilidade emocional de Tomasz (Dawid Ogrodnik) sempre está presente. O rapaz tenta morar sozinho, pensa em suicídio algumas vezes, tem relacionamentos amorosos que nunca avançam, trabalha como crítico musical, DJ, tradutor... mas sempre arranja tempo para deixar seus pais preocupados. A ênfase no relacionamento com o filho único é um aspecto interessante do filme sobre um artista que ficou conhecido por misturar vários estilos em sua carreira - chegando a criar algumas imagens perturbadoras, repletas de surrealismo e horror. O filme resiste à tentação de correlacionar o que acontecia em sua vida com as pinturas que realizava, mas, por isso mesmo, fica ainda mais interessante já que se tem a impressão que aquele simpático velhinho guardava angústias que não era capaz de compartilhar com ninguém - nem mesmo com a esposa (este aspecto aparece logo na primeira cena quando ele relata em uma entrevista as suas fantasias com... Alicia Silverstone!). Matuszynski cria um filme que surpreende por flui naturalmente, contando com uma bela fotografia, ótimo trabalho de edição  e reconstituição de época (destaque para a trilha sonora). O cotidiano retratado no filme mistura drama e um irônico senso de  humor, o que pode agradar até o espectador que nunca ouviu falar do artista, no entanto, o desgosto com a cruel cena final é inevitável. Mesmo em se tratando de uma cena real eu sempre penso que Matuszynski poderia ter colocado o ponto final em seu filme de uma forma mais sutil (eu imaginava que ele terminaria com Zdslaw sentado com os parentes que se foram se aproximando dele e olhando diretamente para a câmera), mas não deixa de ser corajoso terminar o filme com uma cena que destoa de todo o resto - o que a deixa tão assustadora quanto alguns quadros do artista. 

A Última Família (Ostatnia Rodzina/Polônia-2016) de Jan P. Matuszynski com  Andrzej Seweryn, Aleksandra Konieczna, Dawid Ogrodnik e Andrzej Chyra. ☻☻☻☻

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