domingo, 25 de junho de 2017

KLÁSSIQO: Dr. Fantástico

Strangelove: Dose tripla de Peter Sellers. 

Recentemente depois que uma legião de pessoas ficaram decepcionadas com a produção original Netflix "War Machine" (estrelada por Brad Pitt), muita gente lembrou do que Stanley Kubrick foi capaz de fazer há 53 anos sobre a atração americana por paranoias e guerras. Não por acaso, a identificação foi tão grande que Dr. Fantástico foi o primeiro filme que rendeu uma indicação ao Oscar de direção e roteiro para Stanley Kubrick (pois é meus amigos, mesmo com todo o sucesso e 4 Oscars de Spartacus/1960 aqui ele foi lembrado pela Academia pela primeira vez). Dr. Fantástico ainda é um tipo de filme bastante arriscado de se fazer, especialmente por sua dualidade perante o público, afinal, trata-se de um filme de guerra que faz chacota da tensão da Guerra Fria sem perder a pose de filme sério. Muita gente demora para captar a mensagem se pode ou não pode rir de determinada cena, até que a sucessão de absurdos não deixa dúvidas de que tudo aquilo é uma grande piada. Da insistente trilha sonora de batalha (os tambores rufam o tempo inteiro, especialmente quando aparece em cena os aviões que carregam as bombas nucleares capazes de destruir o mundo) às inúmeras situações debochadas, o filme diverte com seu humor esquisito que ainda se mostra atual. O filme gira em torno de um grupo de personagens envolvidos com a rivalidade entre a União Soviética e os Estados Unidos. Três dos personagens são interpretados pela versatilidade do mito Peter Sellers (que foi indicado ao Oscar por seu trabalho e, visivelmente, inspirou o título do filme em terras brasileiras). Sellers vive o diplomático presidente Merkin Meffey (que tenta manter a cabeça fria diante de tudo o que acontece), o perdido Capitão Lionel Mandrake e o bizarro Dr. Strangelove. Ainda que Mandrake tenha ótimas cenas (a cena onde fica perdido num escritório que vira um campo de batalha é de rolar de rir), o destaque fica mesmo com Strangelove, que chama atenção mesmo quando a câmera o capta de longe pela primeira vez. O doutor é um cientista alemão, naturalizado americano e excitado com a perspectiva destruidora da nova arma desenvolvida pelo exército americano. Com sorriso estranho, olhos alucinados e o braço direito rebelde sempre disposto a saudar "führer", ele talvez seja a maior alfinetada de Kubrick em todo o filme. Afinal, os nazis também eram contra os comunistas e, no fim das contas, quem tem o maior poder de destruição nas mãos tem sempre jeito de vilão. Ao lado de Sellers existe ainda a paixão pela guerra personificada pelo General Buck Turgidson (George C. Scott, que desde a primeira cena transborda testosterona ao lado de sua secretária discretíssima), o general teme ataques soviéticos em solo americano e defende que a melhor defesa é atacar primeiro. Embora tenha tiros, bombardeios e várias cenas de estratégias de Guerra, Kubrick trata tudo isso como se fosse trivial, gerando momentos inspirados como o roubo das moedinhas na máquina de Coca-Cola ou diálogos do porte de "Vocês não podem brigar dentro da Sala de Guerra". A cereja deste circo é o mirabolante plano final de Strangelove para repovoar a Terra (e que colocará em risco as bases da monogamia). Ainda hoje o filme figura entre os filmes mais estranhos que já concorreram ao Oscar de Melhor Filme. Curiosamente, o tom de chacota sobre a guerra foi explorado novamente por Kubrick em Nascido para Matar/1987 que valeu ao diretor mais uma indicação da Academia ao prêmio de melhor roteiro.

Dr. Fantástico (Dr. Strangelove: or how I learned to stop worryng and Love the Bomb/EUA-Reino Unido - 1964) de Stanley Kubrick com Peter Sellers, George C. Scott, Peter Sellers, Sterling Hayden, Peter Bull, Tracy Reed e Peter Sellers. ☻☻

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