quarta-feira, 21 de junho de 2017

CICLO DIVERSIDADESXL: Eu Sou Michael

James e Zachary: personagem polêmico, filme idem. 

Em tempos em que tudo vira polêmica eu ainda consegui me surpreender com as críticas recebidas por Eu Sou Michael quando ele começou a ser exibido em festivais. O problema todo era que o diretor estreante Justin Kelly (que depois dirigiu King Cobra/2016) resolveu fazer uma cinebiografia controversa do pastor Michael Glatze, que de ativista gay se tornou hétero  ao encontrar Deus. Diante desse vespeiro, nem o envolvimento do sempre simpatizante da causa James Franco, dos assumidos Zachary Quinto, Gus Van Sant (o produtor do filme) e o próprio Kelly evitou que fosse considerado um verdadeiro desfavor à causa GLSBT. O motivo para tanta polêmica é que a história do personagem poderia incitar ainda mais o preconceito e o discurso de que para deixar de ser gay basta querer. Não é bem assim. Sinceramente, acho que a maioria das críticas vieram de pessoas que não assistiram ao filme e - influenciadas pela figura real de Glatze é mais do que compreensível todas as críticas. O fato é que Kelly consegue explorar de forma bastante equilibrada os conflitos do personagem, sugerindo que debaixo do seu discurso de "ex-gay" existem ainda sentimentos um tanto confusos que ele prefere esconder, especialmente motivado pelo medo da morte e preceitos religiosos. No início do filme ele mantem um relacionamento duradouro (e aberto) com Bennett (Quinto) e trabalha numa revista voltada para o público gay ao lado dele. Depois eles se mudam para o Canadá, aceitam outro parceiro em suas vidas - o jovem Tyler  (Charlie Carver) - e Michael começa a fazer palestras voltadas para jovens gays. Das palestras ele tem a ideia de fazer um documentário, uma nova revista e, após alguns problemas de saúde ele começa a ter dúvidas sobre se é certo ou não ser gay. Estranho? Então espere até descobrir que a mudança não é apresentada através da perda do desejo por outros homens ou pelo personagem conhecer uma mulher que o faz deixar seu "estilo de vida", mas porque o personagem deseja ir para o céu e reencontrar os pais. Michael procura refúgio na  meditação, no budismo, em retiros espirituais, escola de estudos bíblicos e gera controvérsias pelo que escreve na internet condenando a homossexualidade, que segundo ele, trata-se de uma questão de escolha. Apesar de  Eu Sou Michael abordar um tema polêmico, buscando sempre um (des)equilíbrio entre religiosidade e homossexualidade, o filme pode ser bastante interessante por ser uma nota dissonante entre os filmes com temáticas gay. Assim, ele reflete, ainda que por um caminho inusitado, os estigmas que ainda recaem sobre quem sente desejo por pessoas do mesmo sexo. Quem se interessar pela história já está no Netflix o registro do reencontro de Klatze e Bennett depois da repercussão do filme (basta procurar Michael Lost and Found). 

Eu Sou Michael (I am Michael/EUA-2015) de Justin Kelly com James Franco, Zachary Quinto, Emma Robers e Charlie Carver. ☻☻☻

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