segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

PL►Y: Caça-Fantasmas

Wiig, Kate, Melissa e Leslie: roteiro que é um terror. 

Eu nunca vou entender o que se passa na cabeça de um produtor que pega um filme icônico para toda uma geração e o transforma em outro sem qualquer consideração por tudo o que ele representa. Esse é o caso de Caça-Fantasmas. O filme de Ivan Reitman se tornou um enorme sucesso em 1984 ao brincar com filmes de terror - e fez tanto sucesso que virou desenho animado, gerou toda uma série de brinquedos e gerou uma continuação cinco anos depois. Quem viu o filme sabe exatamente porque Peter (Bill Murray), Ray (Dan Aykroyd), Egon (Harold Ramis) e Winston (Ernie Hudson) eram tão queridos pelo público, afinal eles não apenas enfrentavam fantasmas, mas tinham que lidar com seus próprios medos e a descrença de grande parte das pessoas. Fora isso o filme contava com um roteiro esperto de Aykroyd e Ramis, efeitos especiais bacanas, trilha sonora pop (que teve a canção original indicada ao Oscar) e coadjuvantes do porte de Sigourney Weaver e Rick Moranis. Enfim, um filme pop de entretenimento que os anos 1980 sabiam fazer tão bem. Por muito tempo se falou em um novo Caça-Fantasmas, cogitando astros cômicos que faziam sucesso em cada tempo (de Jim Carrey a  Steve Carrell), passando de mão em mão o projeto saiu do papel quando convidaram o diretor Paul Feig para fazer uma versão estrelada por mulheres. Particularmente não vejo problema algum em ter quatro mulheres caçando assombrações por aí - e a ideia de juntar Feig com suas amigas no divertido sucesso Missão Madrinha de Casamento (2011), Kristen Wiig e Melissa McCarthy, parecia promissora. O problema foi que quando o filme estreou todo mundo se perguntava se valia a pena mexer em nossa memória afetiva cinematográfica para fazer um filme tão pior que o original. Caça-Fantasmas não chega a ser um remake ou uma continuação, mas um reboot com cara de paródia sem graça sobre um grupo de pessoas que fazem o que o título promete. Assim como Feig não consegue achar o tom da história, suas atrizes estão à deriva durante todo o filme. Se Wiig se esforça, mas não faz milagres com um roteiro insípido, McCarthy nunca esteve mais chata com uma personagem tagarela sem graça. Pelo menos as duas outras atrizes que compõem o elenco não comprometem o programa, a comediante Kate McKinnon (do Saturday Night Live) cria uma personagem de humor esquisito e que sempre parece divergir nas cenas com as suas parceiras de cena, enquanto Leslie Jones demonstra ter carisma, mas assim como todas as outras, não consegue fazer muito com o fraco roteiro que tem em mãos. A surpresa fica por conta de Chris Hemsworth (a "Janine" do grupo feminino), que rouba a cena  com excelente talento cômico num filme que carece de graça. Para os fãs antigos resta as pequenas participações do elenco original e a estranha sensação de já ter visto a cidade de Nova York assombrada por um texto muito mais interessante. 

Caça Fantasmas (Ghostbusters/EUA-2016) de Paul Feig com Kristen Wiig, Melissa McCarthy, Kate McKinnon, Leslie Jones e Chris Hemsworth. 

PREMIADOS SCREEN ACTORS GUILD 2017

Octavia, Taraji, Janelle e Kirsten: Surpresa boa no SAG!

O SAG Awards deste ano trouxe algumas surpresas que só comprovam como a corrida pelo Oscar ainda não está incerta em várias categorias. Vale lembrar que La La Land não concorria ao maior prêmio da noite, o de melhor elenco, mas acabou cedendo espaço para um filme de sucesso que até agora corria por fora das grandes premiações. Da mesma forma, Denzel Washington prova que ainda pode rir por último diante de toda a polêmica sobre assédio sexual envolvendo seu maior concorrente da temporada (será que Casey Affleck perdeu o fôlego com isso?), da mesma forma Emma Stone mostrou que está no páreo firme e forte, seja com Natalie Portman ou até Isabelle Huppert (que estava fora do SAG). O que isso importa? São os atores que compõem o maior corpo votante da Academia para o Oscar, portanto, ganhar o prêmio do Sindicato é sempre um bom sinal (ainda mais numa temporada disputada feito esta)! Nos prêmios para a televisão, a Netflix tomou de assalto a noite e deve ter deixado a HBO com a pulga atrás da orelha! A seguir os premiados da noite de ontem:

CINEMA

Melhor elenco
“Estrelas além do tempo”

Melhor ator
Denzel Washington / “Um limite Entre Nós”

Melhor atriz
Emma Stone / “La La Land’

Melhor ator coadjuvante
Mahershala Ali / “Moonlight”

Melhor atriz coadjuvante
 Viola Davis / “Um Limite Entre Nós”

TELEVISÃO

Melhor ator em filme para TV ou minissérie
Bryan Cranston / “All The Way”

Melhor atriz em filme para TV ou minissérie
 Sarah Paulson / “American Crime Story: The People vs. O.J. Simpson”

Melhor ator em série dramática
John Lithgow / “The crown”

Melhor atriz em série dramática
 Claire Foy / “The Crown

Melhor ator em série cômica
William H. Macy / Shameless

Melhor Atriz em série cômica
 Julia Louis Dreyfus / “Veep”

Melhor elenco em série dramática
 "Stranger Things”

Melhor elenco em série cômica
“Orange Is The New Black”

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

FILMED+: O Homem Elefante


Bancroft e Hurt: a triste história de Joseph Merrick. 

Embora tenha ficado conhecido pelas toneladas de esquisitices em seus filmes, o cineasta David Lynch sempre deixou claro que era um genial criador de atmosfera nos seus filmes. Essa capacidade ímpar de Lynch era perceptível em cada segundo de estranheza de Eraserhead/1977 seu filme  de estreia e um verdadeiro marco na capacidade criar um universo capaz de estimular o espectador a ter sensações poucas vezes (ou nunca exploradas até então) nas salas de cinema. Portanto, não foi surpresa quando o diretor foi escolhido para levar para as telas o roteiro inspirado na vida de Joseph Merrick (1862-1890) um homem que sofria de uma doença rara que lhe causava vários tumores pelo corpo até o dia de sua morte. A enfermidade ficou conhecida como "Síndrome de Proteus" e Merrick ficou famoso como atração de um circo de aberrações até ser descoberto por um médico que estudou o seu caso. Embora o roteiro não seja absolutamente fiel à história de Merrick, o filme se tornou um grande sucesso de bilheteria com sua história assustadora sobre a crueldade humana. Merrick ganha vida na atuação inesquecível de John Hurt, que sob pesada maquiagem (que demorava 12 horas para ser feita) consegue proporcionar ao protagonista uma alma encantadora. Durante todo o filme, são os olhos de Hurt que traduzem para o espectador todas as emoções de um personagem que sofre bastante, seja ao ser considerado atração de circo ou sendo uma atração no hospital perante médicos curiosos com sua aparência. Perante todo o horror que cerca o personagem, Lynch cria uma atmosfera tensa, que em várias cenas gera um riso nervoso no espectador diante dos maus tratos vividos pelo personagem, mas é impossível não se comover com as desventuras enfrentadas por ele (a cena em que ele é perseguido e grita que é apenas um ser humano é de partir o coração). No entanto Joseph tem seus (poucos)  momentos de sossego, seja ao lado do amigo médico vivido por Anthony Hopkins ou da Srª Kendall (Anne Bancroft, magnífica), mas O Homem Elefante é um filme não sobre a aparência ou vida de seu biografado, mas do terrível hábito do ser humano maltratar o que lhe causa estranhamento (e ninguém melhor do que Lynch para traduzir isso em imagens). Por sua atuação brilhante John Hurt levou o Globo de Ouro de Melhor Ator, além do BAFTA daquele ano (a premiação britânica ainda considerou o longa o melhor filme do ano e Lynch o melhor diretor). No entanto, o aclamado filme, elevado ao posto de obra-prima através do tempo. foi indicado a oito Oscars  e não recebeu nenhum - se tornando um dos grandes filmes mais esnobados de todos os tempos junto à Academia. 

O Homem Elefante (The Elephant Man / EUA - Reino Unido / 1980) de David Lynch com John Hurt, Anthony Hopkins, Anne Bancroft e Freddie Jones. 

4EVER: John Hurt

22 de janeiro de 1940 25 de janeiro de 2017 

John Vincent Hurt nasceu na cidade de Chesterfield no condado de Derbyshire na Inglaterra. Filho de uma atriz amadora e um matemático que se tornou clérigo, John cresceu diante de uma educação tão rígida que não lhe era permitido frequentar o cinema que tinha em frente de casa. Foi na Anglican St Michael's Preparatory School que desenvolveu sua paixão por atuar nas peças da escola desde os oito anos de idade. Ao lado da mãe começou a frequentar espetáculos teatrais e aos 17 anos tornou-se aluno da Grimsby Art School. Em 1959 ele estudou para se tornar professor de Artes na  Saint Martin School of Art antes de sua carreira de ator no cinema decolar em 1962 com Um Grito de Revolta. Ao longo de seis décadas de carreira, Hurt realizou mais de 200 filmes e foi indicado a vários prêmios, incluindo o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante (por O Expresso da Meia-Noite/1979, pelo qual recebeu um Globo de Ouro) e Melhor Ator (por O Homem Elefante/1979). Extremamente versátil, o ator transitava em vários gêneros, basta ver os seus sucessos mais recentes, o aclamado O Espião que Sabia Demais (2011), o cult Amantes Eternos (2013), o sci-fi O Expresso do Amanhã (2013) e Jackie (2016). Hurt faleceu em consequência de um câncer no pâncreas. Hurt estava entre os meus dez atores favoritos de todos os tempos. 

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

INDICADOS AO CÉSAR 2017

Isabelle Huppert com o diretor Paul Verhoeven: 11 indicações para Elle. 

Há quem diga que o Oscar despreza um grande sucesso do cinema francês, eu discordo, mas diante da esnobada que Elle do diretor Paul Verhoeven recebeu da academia ao ser rejeitado na categoria de filme estrangeiro (afinal, uma história de estupro que foge dos manuais de Hollywood deve ser demais para os votantes),  no entanto Isabelle Huppert segue firme e forte no páreo de melhor atriz (após uma gloriosa vitória no Globo de Ouro). Eis que o César, a maior premiação do cinema francês resolveu colocar Elle no posto de favorito de sua premiação com 11 indicações bastante robustas. Os franceses ainda celebraram a investida do canadense Xavier Dolan com astros franceses, concedendo à É Apenas o Fim do Mundo seis preciosas indicações, incluindo Melhor Filme Estrangeiro (do qual saiu na última peneira do Oscar) além de Aquarius, que figura na mesma categoria e encerra seu ciclo de admiração francesa, afinal, o filme de Cléber Mendonça Filho começou a carreira elogiado no Festival de Cannes e agora é aclamado mais uma vez na França. A seguir todos os indicados da premiação:

Melhor Filme
Divines
Frantz
Agnus Dei
Mistério na Costa Chanel
Mal de pierres
Victoria

Melhor diretor
Houda Benyamina | Divines
Francois Ozon | Frantz
Anne Fontaine | Agnus Dei
Bruno Dumont | Mistério na Costa Chanel
Nicole Garcia | Mal de Pierres

Melhor Atriz
Judith Chemla | Une Vie
Marion Cotillard | Mal de Pierres
Virginie Efira | Victoria
Marina Fois | Irrepreensível
Sidse Babett Knudsen | La fille de Brest

Melhor ator
Francois Cluzet | Médecin de campagne
Pierre Deladonchamps | The Son of John
Nicolas Duvauchelle | Não Sou um Canalha
Fabrice Luchini | Mistério na Costa Chanel

Melhor atriz coadjuvante
Valeria Bruni Tedeschi | Mistério na Costa Chanel
Melanie Thierry | La danseuse

Melhor ator coadjuvante
Gabriel Arcand | The Son of John
Vincent Lacoste | Victoria
Melvil Poupad | Victoria

Melhor atriz estreante
Oulaya Amamra | Divines
Paula Beer | Frantz
Lily-Rose Depp | La danseuse
Noemie Merlant | Le ciel attendra
Raph | Mistério na Costa Chanel

Melhor ator estrante
Damien Bonnard | Na Vertical
Corentin Fila | Quand on a 17 ans
Kacey Mottet Klein | Quand on a 17 ans
Niels Schneider | Diamant noir

Melhor filme estrangeiro
Bacalaureat
A Garota sem Nome
Eu, Daniel Blake

Melhor roteiro original
Divines
O Efeito Aquático
Agnus Dei
Mistério na Costa Chanel
Victoria

Melhor roteiro adaptado
La Fille de Brest
Frantz
Mal de pierres
Réparer les vivants

Melhor documentário
Derniers Nouvelles du Cosmos
Fogo no Mar
Thanks Boss!
Swagger
Voyage à travers le cinéma français

Melhor primeiro filme
Cigarettes et chocolat chaud
La danseuse
Diamant noir
Divines
Rosalie Blum

Melhor trilha sonora original
Dans les forêts de Sibérie
Frantz

Melhor som
Frantz
Mal de Pierres
L’odyssée

Melhor montagem
Divines
Frantz
Mal de Pierres

Melhor fotografia
Frantz
Agnus Dei
Mistério na Costa Chanel
Mal de Pierres

Melhor figurino
La danseuse
Frantz
Mal de Pierres
Mistério na Costa Chanel
Une vie

Melhor longa-metragem de animação
La jeune fille sans mains
A Tartaruga Vermelha

Melhor curta-metragem de animação
Cafe Froid
Celui Qui a Deux Ames
Journal Anime
Peripheria

Melhor curta-metragem
After Suzanne
Au Bruit des Clochettes
Chasse Royale
Mamans
Vers la Tendresse

4EVER: Mary Tyler Moore

29 de dezembro de 1936   25 de janeiro de 2017

Nascida no estado de Nova York e criada em Los Angeles, Mary ficou famosa como comediante em sua participação no programa Dick Van Dyke Show na década de 1960, mas na década seguinte ela ganhou seu próprio programa - e se tornou ícone da cultura americana com The Mary Tyler Moore Show, que foi  ao ar entre 1970 e 1977. Mary interpretava uma mulher solteira, independente que trabalhava como produtora de TV, foi o suficiente para sua personagem inspirar toda uma geração de mulheres ao redor do mundo. No cinema participou de quinze produções, sendo a mais lembrada sua performance como a mãe que tenta superar a morte do filho em Gente Como A Gente (1980) de Robert Redford,  o longa recebeu o Oscar de Melhor Filme e rendeu à Mary sua única indicação ao Oscar de melhor atriz, sendo um marco para seu reconhecimento como atriz dramática. A atriz continuou trabalhando na TV, participando de episódios das séries Thats' 70s Show, foi a mãe de Brooke Shields em Lispstick Jungle e Diane em No Calor de Cleveland. A atriz faleceu aos 80 anos após complicações respiratórias provocadas por uma pneumonia. 

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

INDICADOS AO OSCAR 2017: Ator Coadjuvante

Dev Patel (Lion)
O ator britânico, filho de pais de origem indiana ficou famoso mundialmente após, ainda adolescente, protagonizar o ganhador do Oscar Quem Quer Ser um Milionário/2008 de Danny Boyle. Desde então, Patel se dedicou a alguns filmes e à série de TV Newsroom. No entanto é na pele do indiano que se perdeu da família aos cinco anos que ele alcança seu melhor momento no cinema. Ele encarna o personagem crescido, justamente quando parte em busca de suas origens. Esta é a primeira indicação do ator de 26 anos ao Oscar!

Embora Bridges faça cada vez mais do mesmo, Hollywood gosta cada vez mais dele. Desta vez ele vive um Texas Ranger prestes a se aposentar, mas que pretende cumprir com seu dever pela última vez na caçada a dois irmãos assaltantes de banco num Texas castigado pela crise econômica. Ele é o único no páreo com um Oscar na estante - por Coração Louco (2010). Ele conta com outras indicações no currículo (a primeira foi com A Última Sessão de Cinema/1971 e a última pela refilmagem de Bravura Indômita/2011). Ele concorreu quatro vezes ao Oscar de Melhor Ator e esta é sua terceira ao prêmio de coadjuvante

Hedges tem vinte anos de idade e dez anos de carreira. Porém, já trabalhou com diretores renomados como Terry Gilliam, Jason Reitman e (duas vezes com) Wes Anderson. Considerado por muitos uma das grandes revelações do ano, ele vive o adolescente cheio de conflitos que fica sob os cuidados do tio após uma tragédia familiar. Sua atuação é um dos pontos altos do filme e já lhe rendeu uma indicação ao BAFTA de ator revelação e o Critic' Choice Award de Melhor Jovem Ator. É um ator para se ficar de olho nos próximos anos! 

Desde que o filme começou a ser exibido em festivais teve início um dilema: como escolher somente um ator diante de todas as boas atuações que ele possui? No meio das votações, o californiano Mahershala Ali despontou como o grande favorito da temporada por viver o mentor do protagonista de uma história que atravessa três fases distintas. Na pele do traficante Juan é um vínculo forte para a história funcionar - e rende um dos movimentos de câmera mais bonitos da temporada. Atuando desde 2002 para séries de TV (incluindo a recente Luke Cage do Netflix) esta é sua primeira indicação ao Oscar. 

Pelo número de interpretações inesquecíveis, você deve imaginar que Shannon foi indicado uma dezena de vezes ao Oscar... mas na verdade ele só tem uma indicação no currículo, também de coadjuvante pelo vizinho do doloroso Foi Apenas um Sonho (2008). Aqui ele acrescenta mais um personagem endurecido para sua coleção na pele do xerife que perpassa a narrativa mais sórdida do filme. Eu não ficaria surpreso se o ator fosse finalmente reconhecido pela Academia, afinal, faz alguns anos que ele é o ator favorito para viver vilões em Hollywood (e já filmou com uns dois terços dos votantes). 

Depois de levar para casa do Globo de Ouro de ator coadjuvante e concorrer ao BAFTA da mesma categoria, o inglês de 26 anos deve ter levado um susto ao ter ficado de fora das indicações ao Oscar. A explicação está na divisão de votos provocada pela atuação de seu colega de cena Michael Shannon (mas se até Amy Adams ficou de fora pelo mesmo filme e por A Chegada, Aaron deve ter relaxado depois). Na pele de um dos bandidos que assombram o casal do filme o ator de Kick-Ass (2010) tem uma atuação arrepiante em vários momentos. Fica para a próxima, rapaz!

.Doc: A 13ª Emenda

Ava (de costas) e a militante Angela Davis: como alimentar o preconceito.  

Ano passado o Oscar gerou uma polêmica danada ao não render indicações a nenhum ator negro. As reclamações ficaram ainda mais intensas ao lembrarem que no ano anterior acontecera exatamente a mesma coisa. Se ano passado era Idris Elba que estava no centro da discussão por sua espetacular performance em Beasts of No Nation (2015) que ficou de fora do Oscar, anteriormente era Ava Duvernay que frustrou todas as apostas de que seria indicada ao prêmio de direção pelo arrebatador Selma (2014), mas tanto ela quanto o elenco ficou de fora perante os votos da Academia. É verdade que além de negra, Ava é mulher e o peso desses dois fatores não podem ser desprezados (principalmente se lembrarmos que em toda história do Oscar somente duas diretoras americanas foram indicadas ao prêmio de direção até hoje, Ava seria a primeira negra da lista). Duvernay poderia ter alimentado polêmicas, debates e tudo mais, mas a diretora sabia que a melhor forma de ser reconhecida era trabalhando. Embora tenha sido cotada para dirigir a aventura do super-herói Pantera Negra para a Marvel, Ava acabou recusando o trabalho e investindo o seu tempo num documentário que deu o que falar, lhe rendendo uma indicação ao Oscar na categoria de melhor documentário. A 13ª Emenda pode ser visto no Netflix e faz um levantamento assustador sobre como as políticas governamentais colaboraram para aumentar o preconceito nos Estados Unidos. Para isso, ela parte da emenda que acabou com a escravidão na Terra do Tio Sam, mas que parece nunca ter sido bem digerida pelos governantes que se seguiram. A partir de estatísticas sobre a população carcerária dos EUA (assustadores 25% da população carcerária do mundo, ou seja, um em cada presidiário é americano!), o filme traça um perfil de como o imaginário popular foi conduzido para pensar que os afro-americanos são ameaças. Nesse processo nem mesmo o cinema sai ileso, afinal, em vários momentos o documentário cita como O Nascimento de Uma Nação (1915) de D.W. Griffith como exemplo dos estereótipos que até hoje permanecem vivos no imaginário estadounidense. Afinal, dá para você imaginar um filme onde atores brancos se pintam de negros para violentar mulheres brancas? Ou que a Ku Kux Klan é mostrada como verdadeira salvadora da pátria? Entre discursos históricos, entrevistas e medidas governamentais o que o filme apresenta é a continuidade de políticas legislativas para colocar o maior número de negros atrás das grades. É verdade que o filme esbarra num tema delicado, ao associar a "guerra contra as drogas" como uma medida voltada para excluir afro-americanos do convívio social, mas assusta ainda mais os mecanismos que começam a existir em volta da temática. Seja um grupo de consultores legislativos que opera em função do interesse de grandes corporações (que vendem armas entre outras coisas), o aumento do discurso de ódio e até as instituições que lucram com a iniciativa de penitenciárias privadas (e onde o número de presos gera mais lucro). Ava Duvernay contrói uma narrativa perturbadora e que faz pensar, sem perder de vista como a cultura pop se encaixa nesse universo (ótima ideia utilizar músicas conhecidas - e outras nem tanto - para ilustrar as transições entre as décadas e seus governantes) e como um país que se considera tão democrático pode ser tão truncado com questões de sua própria história social. Mesmo que você discorde dos argumentos do filme, A 13ª Emenda faz pensar e repensar em vários discursos que vemos aparecendo cada vez mais no Brasil  e não me admiro se em breve tivermos um Trump para chamar de nosso. Como diria a ovelha de Zootopia/2016: O medo sempre funciona!

A 13ª Emenda (13th / EUA-2016) de Ava Duvernay com Cory Booker, Angela Davis e Craig DeRoche. 

INDICADOS AO OSCAR 2017

Oscar 2017: Nove filmes concorrem ao prêmio principal.


Durante todo o período de especulações sobre o Oscar ficou claro que se La La Land despontava como favorito do ano, porém, entre os prêmios dedicados às interpretações havia um equilíbrio que há muito não se via! Portanto, sabíamos que haveria surpresas pelo caminho - e houve mesmo! O Oscar acontecerá no dia 26 de fevereiro e em breve comentarei os filmes que concorrem e indicarei meus favoritos! Por enquanto teço breves pareceres perante os indicados à maior premiação do cinema americano em 2017:

Melhor Filme
Todos os que eu esperava estão por aqui. 

Melhor Diretor
Villeneuve conseguiu mais indicações para seu filme do que o Globo de Ouro poderia supor (8 - e isso é ótimo!). Enquanto  Mel Gibson parece ter sido perdoado de seus pecados - resta saber até quando (ou quanto perante a Academia).  

Melhor Atriz
Num ano disputadíssimo todas tem chances, mas Huppert deve render arrepios por aparecer na lista por um filme francês que foi logo banido do páreo de filme estrangeiro, além disso Meryl bate recorde de indicações ao Oscar (a vigésia - e sabíamos que isso aconteceria).

Melhor Ator
A tristeza é que Joel Edgerton (Loving) ficou de fora! Porém, Viggo Mortensen prova que ainda tem fôlego junto à Academia (ninguém esperava que ele aparecesse) por aqui, mas... com Casey Affleck envolvido em polêmicas, as chances de Denzel e Gosling crescem consideravelmente. 

Melhor Ator Coadjuvante
A surpresa foi ver Shannon cravando a única indicação de Animais Noturnos, deixando o parceiro de cena Aaron Taylor-Johson (que ganhou o Globo de Ouro e está indicado ao BAFTA) de fora. Destaque para o garoto revelação Lucas Hedges e o favorito Mahershala Ali, que deve dar trabalho para todos os outros concorrentes.  

Melhor Atriz Coadjuvante
Poucas vezes vi um grupo tão seleto e justo de indicadas - o que tornará ainda mais gostoso ver Viola Davis ser finalmente premiada. Para além disso, Kidman implorou para fazer o papel maternal de Lion e Michelle Williams tem poucos minutos em cena para rasgar o coração... se Viola não levar (o que beira o impossível) pode ser qualquer uma delas a levar a estatueta para casa. 

Melhor Roteiro Original
Chazelle deve levar essa, mas a surpresa ficou pelo roteiro "grego" de O Lagosta (mas a Academia ama o cinema subversivo de Lanthimos desde que o descobriu em Dente Canino/2009), mas minha a alegria foi ver Mike Mills indicado. 

Melhor Roteiro Adaptado
Os votantes terão trabalho, mas ainda acho que Moonlight vai levar essa... 

Melhor  Animação
Zootopia deve levar, mas Moana e Kubo tem seus fãs fieis! Mas... não se surpreenda se o poético A Tartaruga Vermelha levar essa!
A Tartaruga Vermelha

Melhor Documentário em Curta-Metragem
Alguns você encontra na internet, vale conferir. 
Extremis
4.1 Miles
Joe's Violin
Watani: My Homeland
Os Capacetes Brancos

Melhor Documentário em Longa-Metragem
Vale procurar nos serviços on demand. 
Fogo no Mar
Eu Não Sou Seu Negro
Life, Animated
O.J.: Made in America

Melhor Longa Estrangeiro
Triste por Elle, Neruda e o novo de Xavier Dolan (que passou nas telas daqui meio de qualquer jeito) ficar de fora! A surpresa foi o Tanna ser indicado com sua trama antropológica! Mas quem deve levar é O Apartamento, outra pérola do diretor Asghar Farhadi ou a pérola alemã (garimpada desde Cannes) Toni Erdmann
Terra de Minas (Dinamarca)
Tanna (Austrália)

Melhor Curta-Metragem
Procurem todos! 
Ennemis Intérieurs
La Femme et le TGV
Silent Nights
Sing
Timecode

Melhor Curta em Animação
Idem! 
Blind Vaysha
Borrewed Time
Pear Cider and Cigarettes
Pearl
Piper

Melhor Canção Original
A favortia é City Of Stars (desde o trailer do dilme de Chazelle), mas... se dividir os votos pelas duas canções de La La Land não me surpreendo se Justin Timberlake ficar dançando ao levar a estatueta para casa (e a apresentação musical dele promete)!
"The Empty Chair" (Jim: The James Foley Story)
"How Far I'll Go" (Moana: Um Mar de Aventuras)

Melhor Fotografia
O novo filme de Martin Scorsese conseguiu aparecer somente por aqui. Silêncio demorou tanto para ser lançado que pouca gente teve tempo para se empolgar com ele. 

Melhor Figurino
Bons indicados de gêneros variados...
Aliados
Animais Fantásticos e Onde Habitam

Melhor Maquiagem e Cabelo
Adorei ver Esquadrão Suicida por aqui! Se levar eu fico até feliz! Afinal, sua concepção foi boa até ter sido mutilado na sala de edição e virado uma confusão na tela. 

Melhor Mixagem de Som
Ficção Científia, Ação e Musical... a categoria tem para todos os gostos!  
13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi

Melhor Edição de Som
O novo de Clint Eastwood apareceu somente por aqui (e não deve levar).  
Horizonte Profundo: Desastre no Golfo
Sully: O Herói do Rio Hudson

Melhores Efeitos Visuais
Apesar de Kubo ser um dos raros casos de aniamação da categoria eu queria ver Doutor Estranho ser premiado por aqui. 
Horizonte Profundo: Desastre no Golfo

Melhor Design de Produção
Eu adoro Ave, César - e pelos cenários de várias correntes cinematográficas adoraria vê-lo levar essa única categoria em que aparece!
Animais Fantásticos e Onde Habitam
Passageiros

Melhor Edição
Difícil... não sei opinar (desculpe, não resisti kkkk)

Melhor Trilha Sonora
Se tem um musical que se tornou recordista de indicações (14) você deve imaginar quem leva essa! 
Passageiros

sábado, 21 de janeiro de 2017

Na Tela: Invasão Zumbi

Dong, Soo e Yo: os zumbis não são os únicos vilões. 

Acho que já mencionei aqui no blog que o zumbi é o personagem de horror da moda em Hollywood dos últimos anos, tomando o trono que antes era do vampiro. É verdade que os mortos-vivos tiveram que passar por uma repaginada, se tornaram mais agressivos e, por isso mesmo, mais ameaçadores correndo atrás de suas vítimas feito cadáveres selvagens. O sul coreano Invasão Zumbi estreou por aqui no finalzinho de 2016 (dia 29 de dezembro) após se tornar o filme mais visto em seu país de origem no ano passado com base em uma história que já vimos dezenas de vezes: pessoas comuns precisam lidar com um bando de zumbis famintos e com fome de carne humana (afinal, foi-se o tempo que eles queriam só comer os miolos de suas vítimas). No entanto, o filme de Sang-Ho Yeon traz um tempero diferente para essa carnificina apoiado nos sentimentos de seus personagens perante a catástrofe. Seus personagens vivem no contraste entre a solidariedade com os demais ou a postura individualista para salvar a própria pele - é neste embate que o filme consegue se sustentar com um diferencial até o final. O protagonista é Seok (Yoo Gong), nunca fica muito claro o que ele faz para se sustentar, mas sabemos que tem muito dinheiro vindo do ramo administrativo. Yoo é divorciado e não passa muito tempo com a filha que está sob seus cuidados. Num fim de semana ele terá que levar a menina para passar alguns dias com a ex-esposa e não faz ideia do que enfrentará no caminho de Seul para Busan, afinal, o trem que embarcaram será atacado por um grupo de zumbis que desejam devorar todos os passageiros durante o trajeto. Na viagem, pai e filha irão lutar pela sobrevivência, Yoo irá revelar alguns traços pouco nobres de sua personalidade e verá o feitiço virar contra si mesmo em alguns momentos, mas o que poderia ter um ímpeto moralista torna-se uma forte analogia com o mundo que vivemos hoje. O diretor ainda consegue manter o ritmo durante toda a sessão, sempre caprichando no suspense e na dramaticidade da situação, com destaque para o casal formado por Yumi Jung e o parrudo Dong-Seonk (excelente em cena) que terão participação importante na transição emocional do protagonista.  Com tanta eficiência na condução do filme, não pude deixar de lembrar de outro filme dirigido por um coreano que também se passa quase todo dentro de um trem, Expresso do Amanhã/2014 de Joon-ho Bong, que também toca em algumas questões sociais mas não foi bem nas bilheterias. O melhor é que Invasão Zumbi poderia ser só mais um filme descartável de terror, mas agrada por não se contentar em ser apenas isso.

Invasão Zumbi (Coreia do Sul/2016) de Sang-Ho Yeon com Yoo Gong, Soon-an Kim, Yu-mi Jung e Soohee.