domingo, 25 de setembro de 2016

Na Tela: Chocolate

Chocolate e Footit: uma relação delicada. 

O cubano Rafael Padilla ficou famoso por seu trabalho no circo na França no início do século XIX. Padilla era negro num lugar onde poucas pessoas haviam visto um negro de perto, tanto que no início de sua carreira seu número se limitava a comportar-se como um selvagem vindo de alguma tribo distante... Padilla era filho de escravos e trabalhou como tal antes de tornar-se uma estrela do circo, principalmente ao lado do palhaço Footit que percebeu que o rapaz tinha carisma e talento suficiente para ir além do número que lhe exigia apenas assustar a plateia com urros e roupas feitas com peles de animais. A dupla revolucionou o humor nos circos e conseguiu fazer muito dinheiro quando estava no auge, tanto que Chocolate foi consagrado como o primeiro artista negro famoso na França e o diretor Roschdy Zem constrói um filme onde revela-se muito do racismo e preconceito que cercava a carreira de Padilla. Ao trabalhar com Footit, o número dos dois muitas vezes consistia na humilhação de Padilla, que na pele de Chocolate ouvia insultos e era agredido fisicamente para a diversão da plateia, no entanto, a atuação irrepreensível de Omar Sy demonstra que o carisma do personagem era maior do que isso - tanto que ao subverter esse estereótipo grosseiro, a plateia mostra que nos palcos era ele o centro das atenções. Em entrevistas Zem afirmou que escreveu o papel especialmente para Omar Sy, que está muito a vontade na pele do personagem, seja nas cenas cômicas ou trágicas. Através de sua atuação podemos perceber o delicado momento em que Padilla percebe que havia algo de errado nos números que realizava - e pagou um preço alto por isso quando resolveu tornar-se ator de teatro na França - tendo que superar não apenas o preconceito pela cor de sua pele, mas também por ter começado a carreira como palhaço. O filme ainda consegue explorar a complexa relação do protagonista com  Footit (em ótima atuação de James Thierrée) que alterna as emoções de amigo, em parceiro enciumado, proprietário de Chocolate, colega fiel e ator presunçoso, as atuação de Sy e Thierrée faz a química entre os dois transcender os palcos. Com boa reconstituição de época, roteiro bem amarrado e atores inspirados, Chocolate conta uma história triste com uma fluência que faz até parecer fácil rever a história de um personagem importante para a cultura francesa que andava esquecido. 

Chcolate (Chocolat/ França - 2015) de Roschdy Zem com Omar Sy, James Thierrée, Clotilde Hesme, Frédéric Pierrot, Alex Descas e Xavier Beauvois. ☻☻☻☻

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