sexta-feira, 9 de setembro de 2016

CICLO VERDE E AMARELO: De Onde eu Te Vejo

Denise e Domingos: separação bem próxima...

Li em algum site um espectador reclamando que pelo trailer ele já sabia o final de De Onde Eu Te Vejo - e por isso mesmo o filme merecia apenas uma estrela (numa cotação de cinco, sendo que o site classificou o filme com quatro). Sinceramente, não me importo se um trailer já me mostra como o filme termina, o que me interessa é como o diretor irá manter minha atenção até chegar no final da história que ele conta - e isso Luis Villaça faz muito bem. Faz tempo que Villaça e sua esposa, Denise Fraga, investem num tipo de filme bastante específico no cinema brasileiro, longe de apelação e do humor fácil, sempre buscam contar histórias de pessoas comuns com bom humor e sensibilidade para abordar os problemas que encontram pelo caminho (seja no cinema ou na televisão). Em De Onde eu Te Vejo, a dupla toca em questões importantes enquanto nos fazem pensar que estamos diante de uma comédia romântica das mais simpáticas. Ana Lúcia (a sempre interessante Denise Fraga) decidiu se separar de Fábio (Domingos Montagner, ótimo em seu primeiro papel de destaque no cinema) após vinte anos de união. Ela ficou com o apartamento, onde mora com a filha e Fábio conseguiu alugar um outro no prédio ao lado - e sua janela fica exatamente de frente para o apartamento da esposa. A ideia já é suficiente para render piadas e reflexões sobre essa relação de separação tão próxima, mas o filme quer tratar de algo mais. Se o sentimento de isolamento de Fábio é mais evidente, com a filha do casal (Manoela Aliperti)  prestes a ir para a faculdade, a ideia de solidão também começa a rondar a mente de Ana Lúcia em seu ninho vazio. Não bastasse isso, a vida profissional do ex-casal também atravessará mudanças que servirão para o sub-texto que perpassa todo o filme: a renovação. Durante toda a história surgem personagens que por um motivo ou outro, conversam sobre as mudanças que observam na cidade. Espaços fecharam, outros são demolidos ou deram lugar para outros que emolduram a ideia do casamento desfeito de um casal que ainda se gosta e que nem sabe muito bem porque não funciona mais sob o mesmo teto. Se para Ana, sempre atraída por novidades e por sentidos cósmicos da existência, seu casamento não tem mais jeito, para Fábio é sempre possível tentar mais um pouquinho. Entre o novo e o velho, o conforto da rotina do casamento (ou o tédio alicerçado sobre a mesma rotina) ou a (nada) simples passagem do tempo, Villaça e Denise promovem um filme leve que não perde a oportunidade de fazer o público pensar sobre o mundo ao seu redor - cabendo destacar aqui como o diretor utiliza as locações na cidade de São Paulo de forma irresistível.  De Onde eu Te Vejo já está na minha lista de comédias favoritas do ano (e dos que verei várias vezes) e só para destacar ainda mais as qualidades do filme, ele foi quase todo filmado em estúdio - o que possibilita belos movimentos de câmera  e o uso preciso de especiais em boa parte das cenas. Arrisco dizer que é o melhor filme de Luis Villaça ao lado de Denise Fraga. 

De Onde Eu Te Vejo (Brasil/2016) de Luis Villaça com Denise Fraga, Domingos Montagner, Manoela Aliperti e Marisa Orth. ☻☻☻

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