segunda-feira, 21 de março de 2016

Na Tela: Boa Noite, Mamãe

Suzanne e Elias: confronto de cicatrizes. 

Fazer um filme de terror é mais difícil do que se pensa, especialmente se você pretende um resultado que seja levado a sério - e não caia no lugar comum da mais apelativa sanguinolência. Durante boa parte do austríaco Boa Noite, Mamãe a dupla de diretores Severin Fiala e Veronika Franz tenta fazer um filme elegante a partir de uma matéria prima interessante. O filme conta a história de dois irmãos gêmeos Lukas e Elias (vividos pelos gêmeos Lukas e Elias Schwarz) que vivem numa casa isolada ao lado da mãe - que surge de rosto coberto, após o que parece ser uma cirurgia plástica. Ela parece cada vez mais nervosa, rígida e sempre disposta a punir as crianças. No ritmo lento da narrativa, cresce a tensão entre a família. Fala-se de um divórcio e um acidente, sem deixar claro o que realmente aconteceu. Entre uma cena e outra, os dois meninos começam a desconfiar que aquela mulher não é a verdadeira mãe - e um conjunto de cenas surreais dão apenas uma amostra do que está por vir. Toda a campanha de divulgação investe no questionamento da identidade materna no filme. A mulher seria uma intrusa? Seria uma sequestradora (afinal, em momento algum os meninos tem contato com o pai)? Mas o espectador mais esperto irá perceber que o segredo do filme é outro (especialmente se ficar atento à uma das cenas iniciais, que, de certa forma, se repete em outros momentos do filme). O resultado poderia ser ainda mais instigante se os diretores não jogassem fora toda a sutileza arrastada no último ato - que revela-se um verdadeiro teste para os nervos do espectador, em uma sucessão de cenas desagradáveis de tortura física e psicológica. Para além da casa isolada, do bicho de estimação que irá sofrer  e de crianças sinistras, o filme tinha realmente uma grande ideia na mão ao explorar a convivência de uma família traumatizada, mas se perde nas cicatrizes não curadas de um acidente. A metáfora para isso é a própria cirurgia da mãe que aguarda recuperação (na intenção de que as marcas fiquem para trás), no entanto, as feridas internas dos outros permanecem aguardando o momento de ser expostas. Boa Noite, Mamãe poderia ser mais interessante se não pesasse a mão em seu desfecho um tanto óbvio e de forte inspiração trash - mas como se trata do primeiro longa metragem eu até perdoo... mas o próximo tem que ser melhor. 

Boa Noite, Mamãe (Ich Seh Isch Seh / Áustria - 2014) de Severin Fiala e Veronika Franz com Lukas Schwarz, Elias Shwarz, Suzanne Wuest e Hans Escher. 

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