segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

CICLO FILMES D+: Janela da Alma

Elenco de peso falando sobre ver, olhar, observar, perceber...

Gosto do documentário Janela da Alma como se fosse um dos meus livros de filosofia favoritos, mas não pense que ele é chato e pesaroso, pelo contrário é um grande prazer vê-lo e revê-lo. Não por acaso o vi quando estava na faculdade, junto aos meus colegas da atividade de Cinema e Literatura. O mais interessante é que o filme de João Jardim e Walter Carvalho não se limita a falar sobre os problemas de visão como muitos pensavam, mas na forma como lidamos com o nosso olhar, o que apenas vemos e o que percebemos com mais profundidade. Composto de dezenove depoimentos, Janela da Alma mostra-se uma reflexão muitíssimo interessante, o título refere-se à frase de Leonardo DaVinci: "O olho é a janela da alma, o espelho do mundo" e utiliza além das entrevistas, alguns truques que brincam com a nossa percepção (quando vemos um superclose da pele humana, ou quando a câmera perde foca, desfoca, refoca... propositalmente como se fosse uma obra abstrata, tão abstrata quanto alguns dos temas na pauta dos diretores. Afinal, José Saramago (autor do célebre Ensaio sobre a Cegueira) afirma que vivemos numa época cada vez mais próxima da Caverna de Platão, já que somos bombardeados de informação, mas... podemos dizer que enxergamos a realidade? Nossas percepções podem nos ajudar a perceber o mundo, mas também podem ser muito traiçoeiras. O depoimento de Marieta Severo é bastante contundente nesse aspecto, ou então, atire a primeira pedra quem nunca teve os outros sentidos afetados quando perdeu as lentes? Todos os entrevistados tem algo interessante a dizer, seja o diretor alemão Win Wenders (que diz preferir ver o mundo enquadrado pela armação dos seus óculos), o músico Hermeto Pascoal, a atriz alemã Hanna Schygulla, deixando o momento mais bem humorado para o vereador cego Arnaldo Godoy (de Belo Horizonte) contando a sua experiência de viver sem enxergar nada. Aos poucos o filme ganha a forma de uma rede temática muito bem construída, sem pender para a chatice ou a esquisitice, sendo instigante ao abordar a construção cultural de como enxergamos o mundo. Não por acaso, alguns dos momentos mais tocantes são os referentes à animadora Marjut Rimminem e o filósofo (e fotógrafo) Eugen Bavcar, que mostram, através de suas obras, como veem o mundo. Essa peróla do acervo documental brasileiro surgiu quando Walter Carvalho e João Jardim conversavam sobre como a miopia ajudou a moldar suas respectivas personalidades (Walter tem 7, 5 pontos de miopia e João tem 8!), às vezes ver pouco pode ser sinônimo de enxergar muito. 

Janela da Alma (Brasil/França-2001) de João Jardim e Walter Carvalho com Marieta Severo, José Saramago, Win Wenders, Eugen Bavcar, Hermeto Pascoal, Antonio Cícero e Agnès Varda. ☻☻☻☻☻

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