domingo, 25 de outubro de 2015

FILMED+: O Labirinto do Fauno

O Fauno e Ofelia: a fantasia que nasce da realidade. 

Existem filmes que deixam aquela sensação incrível de ter assistido a uma verdadeira obra-prima. Uma sensação tão subjetiva quanto esquisita, raramente sentida, uma mistura de alegria, estranhamento, satisfação e, às vezes, de nó na garganta. O Labirinto do Fauno se enquadra em todos esses quesitos citados . O mexicano Guillermo Del Toro realizou sua obra-prima em seu sexto filme - o terceiro em sua língua materna. Antes ficou famoso em Hollywood com aventuras de sucesso como Blade II (2002) e Hellboy (2004) - nos quais ajudou a consolidar uma linguagem mais séria nas adaptações de HQ para o cinema. Embora sejam diferentes em sua origem, existe um traço semelhante em todas as suas obras: a fantasia. Afinal, o uso de criaturas fantásticas na criação de seus enredos, sejam fantasmas, vampiros, demônios, insetos estranhos ou figuras folclóricas, todos eles aparecem em suas tramas de forma geralmente incomum, o que reflete o fascínio do diretor pelo que os literatos chamariam de maravilhoso. Foi com O Labirinto do Fauno que o diretor explicou seu interesse por essa abordagem cinematográfica, afinal, o longa retrata como a fantasia e a realidade podem ser muito semelhantes, ainda que com características distintas. O magistral roteiro conta a mesma história sobre dois prismas específicos a partir da menina Ofelia (Ivana Baquero). Ofelia muda-se ao lado da mãe grávida (Ariadna Gil) para a casa do padrasto, um rude militar espanhol chamado Vidal (o ótimo Sergi López), que enfrenta problemas para domar os rebeldes que vivem nas redondezas. Diante da violência do lugar, o interesse de Ofelia pelos contos de fada torna-se ainda maior, principalmente depois que ela encontra um fauno (Doug Jones, um sujeito que é craque em viver criaturas no cinema) que afirma que ela é uma princesa e precisa lutar  para libertar seu povo de criaturas do mal. Para isso ela deve ser virtuosa, obediente e corajosa, caso contrário as consequências serão terríveis. Enquanto conhecemos a aventura de Ofelia num mundo mágico, acompanhamos a trajetória dos rebeldes que são auxiliados pela empregada do capitão (papel de Maribel Verdu), que pretendem acabar com a tirania de Vidal. Além da brilhante condução nas duas horas de filme,  Guillermo Del Toro capricha não apenas nos cenários, nos figurinos, na fotografia, nos efeitos, na maquiagem, mas também na costura de suas tramas, demonstrando que a fantasia está longe de ser uma fuga da realidade, mas uma releitura do mundo que está diante dos nossos olhos. O Labirinto do Fauno é uma ode à fantasia em seu estado mais significativo, não a que a faz parecer alienante ou vazia, mas a que retrata o mundo concreto de forma mais lúdica para que possamos perceber os absurdos que nos cercam. Belo, trágico e único, o filme ainda está entre os dez melhores filmes dos últimos dez anos - e numa posição bem segura. 

O Labirinto do Fauno (El Laberinto del Fauno/Espanha-México-EUA/2006) de Guillermo Del Toro com Ivana Baquero, Sergi López, Doug Jones, Maribel Verdu, Ariadna Gil e Roger Casamajor.
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