segunda-feira, 31 de agosto de 2015

KLÁSSIQO: Pulp Fiction

Willis, Jackson, Travolta e Thurman: citações bíblicas, fofocas e violência estilizada. 

Quentin Jerome Tarantino nasceu na cidade de Knoxville no Tennessee em 27 de março de 1963 e sempre foi apaixonado por cinema, tanto que virou uma espécie de mito que antes de tornar-se um dos diretores mais cultuados de sua geração, ele ganhava a vida como balconista de uma locadora de VHS (o avô do DVD). O que pode ser uma profissão desinteressante para muita gente, serviu para deixar o jovem rapaz atento aos lançamentos cinematográficos, além de permitir acesso aos clássicos da sétima arte enquanto construía um invejável repertório de referências para seus filmes. Depois de sua estreia com Cães de Aluguel (1992), o moço tinha seu próximo longa entre os mais aguardados pelos mais antenados. Dois anos depois, Pulp Fiction (pautado nos livros de bolso de ficção policial barata) ganhava a Palma de Ouro em Cannes com seus diálogos sobre hambúrguer, citações bíblicas e ícones do cinema. Para os mais conservadores foi uma espécie de afronta ver o festival de cinema mais prestigiado do mundo reconhecer o talento de um sujeito que tingia com humor negro a amoralidade, as gírias e a violência do gênero. Além disso, o filme revelou o cuidado do cineasta em escolher o ator certo para seus personagens (independente do que o mundo pensa sobre ele) e reconceituou a forma como a trilha sonora é utilizada nas cenas - tanto que para além da violência, a cena mais lembrada do filme é a cena em que Mia (a musa tarantinesca Uma Thurman) e Vince (John Travolta, ressuscitado pelo filme), dançam numa lanchonete cheia de clones de estrelas antigas do cinema ao som de You Never Can Tell de Chuck Berry  (a cena é inspirada na dança do filme A Bande À Part/1964 de Jean Luc Godard, que por sua vez, também inspirou o nome da produtora de Tarantino: A Band Apart) e nem vou mencionar os créditos amarelos ao som de Misirlou de Dick Dale. Na trama, as histórias de vários personagens inusitados se misturam de forma inesperada. De um lado está o gangster (especialista em hambúrguer) Vince e seu parceiro Jules (Samuel L. Jackson), que adora citar a bíblia antes de matar alguém. Os dois trabalham para Marsellus Wallace (Ving Rhames), casado com a  ex-atriz Mia Wallace, e vivem se metendo em encrencas. É por conta de Marsellus que a Vince cruza o caminho do lutador Butch Coolidge (Bruce Willis), que namora a francesa Fabienne (a portuguesa Maria de Medeiros), mas tem problemas no ringue  e fora dele por conta de um relógio que ganhou de seu pai. A forma como Tarantino mistura seus personagens com idas e vindas temporais e encontros reveladores é o que faz toda a diferença, tanto que recebeu o Oscar de Roteiro Original. Pulp Fiction recebeu ainda outras sete indicações (filme, diretor, edição, ator/Travolta, atriz coadjuvante/Thurman e ator coadjuvante/Jackson) e sacudiu os padrões de Hollywood, borrando as relações dos filmes independentes com os grandes estúdios (que passaram a ter seus braços independentes em busca de novidades), além de estabelecer a montagem fractada para o grande público. Desde então, Tarantino tem alimentado seus fãs com filmes que parecem uma vitamina mista exagerada de gêneros e citações - se uma vez David Lynch disse adorar ver "47 gêneros diferentes em um único filme", Tarantino eleva essa adoração à enésima potência com uma linguagem muito própria e, surpreendentemente, cômica. 

Pulp Fiction - Tempo de Violência (Pulp Fiction/EUA-1994) de Quentin Tarantino com John Travolta, Uma Thurman, Bruce Willis, Samuel L. Jackson, Maria de Medeiros, Ving Rhames, Eric Stoltz, Tim Roth, Amanda Plummer, Rosanna Arquette e Harvey Keitel. ☻☻☻☻

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