sexta-feira, 21 de agosto de 2015

CATÁLOGO: Perdendo a Noção

Coogan (de camiseta branca): ideias e asneiras. 

Na ativa desde o final dos anos 1980, Andrew Fleming ainda consegue ser um diretor bastante imprevisível devido a irregularidade de suas produções. Ele estreou com um filme trash (Sonho Mortal/1988), mas ganhou alguma notoriedade com o provocativo Três Formas de Amar (1994), onde colocava Josh Charles, Stephen Baldwin e Lara Flynn Boyle para dividir a mesma cama. O filme causou tanto rebuliço com suas conotações sexuais que dois anos depois ele conseguiu alcançar sucesso com Jovens Bruxas (1996). Desde então seus filmes nunca mais chamaram muita atenção do público ou da crítica. Dia desses me deparei com Perdendo a Noção, seu sétimo filme e que parte de uma ideia inusitada: um professor de arte dramática desesperado resolve salvar sua aula da extinção bolando um musical chamado Hamlet 2 (?!). Não se trata apenas de bolar uma continuação da história criada por Shakespeare, mas misturá-la ao uso de uma máquina do tempo que faz o príncipe da Dinamarca encontrar até Jesus Cristo! Não preciso sem dizer que se trata de um grande devaneio, mas que o roteiro tenta utilizar como pretexto para a defesa da liberdade de expressão. Fleming poderia ter se agarrado nisso para fazer rir diante de um filme mais relevante, mas prefere tropeçar a cada três minutos em algumas bobagens. Para começar, seu protagonista, o professor Dana Marschz (Steve Coogan) é apresentado como um sujeito tão idiota que fica difícil se identificar com ele. Talvez parte da culpa seja de Steve Coogan que se torna uma espécie de sub-Jim Carrey (que teria sido um ótima opção para o papel). Com uma turma de rejeitados, ele precisa despertar o interesse deles e ainda evitar que sua aula seja cortada depois de passar anos fazendo adaptações de filmes para os palcos escolares (e sendo massacrado por um aluno crítico que leva o teatro mais a sério do que o professor). Os coadjuvante são apenas caricatos durante a história (sendo que os pais do aluno Armando serve para brincar com isso) e tudo gira em torno de Marschz, um ator frustrado, com um casamento falido (com Catherine Keener), que precisa alugar um quarto (para David Arquette) para ajudar nas despesas. Marschz é apaixonado por cinema, sempre cita filmes e atores (esses sempre anunciados com um adjetivo antes), quase tem uma crise quando encontra com Elizabeth Shue desistindo da carreira e trabalhando como enfermeira e de vez em quando revela uma pendenga mal resolvida com o próprio pai (por isso a ideia de Hamlet, sacaram?). A ideia de Fleming é interessante, mas o roteiro ruim quase coloca tudo a perder com doses desnecessárias de baixarias que ficam um tanto deslocadas na trama. No entanto, pode valer a pena esperar para ver o resultado da tal peça, com uma parafernália cênica bem elaborada e ameças de que tudo será interditado (por conta de canções como a inacreditável "Rock me sexy Jesus", que se torna um dos pontos altos do filme). Curiosamente, o título em português pode ter tanta relação com o personagem quanto com Andrew Fleming, que ainda encontra uma grande dificuldade para crescer como cineasta.

Perdendo a Noção  (Hamlet 2/EUA-2008) de Andrew Fleming com Steve Coogan, Catherine Keener, Skylar Astin, Elisabeth Shue, Amy Poehler e David Arquette. ☻☻

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