segunda-feira, 25 de maio de 2015

.Doc: Altman

Robert Altman: ícone do cinema americano.

O cinema de Robert Altman pode não ser para todos os gostos, mas é inegável que o diretor se tornou um dos maiores nomes do cinema americano - ainda que a indústria poucas vezes lhe desse o merecido reconhecimento. Altman foi um dos primeiros cineastas independentes americanos e pagou um preço alto por isso, como deixa claro esse documentário biográfico dirigido por Ron Mann. Altman começou a carreira com curtas e documentários, mas foi na televisão americana que seu nome ganhou maior reconhecimento. Foi em um de seus trabalhos na televisão que conheceu a sua terceira esposa (Kathryn Reed) que o acompanharia até o fim da vida. Mann cria o filme a partir de entrevistas do cineasta com filmagens da família, trechos de sua obra e entrevistas com familiares e amigos - com destaque para alguns de seus artistas favoritos (Elliot Gould, Julianne Moore, Lily Tomlin, o cineasta discípulo Paul Thomas Anderson - senti falta de Kim Basinger que trabalhou várias vezes com o diretor, sendo uma de suas atrizes favoritas) que tentam definir o que seria Altmanesco. Curiosamente, as definições soam sempre provocadoras perante a carreira de um homem que nunca se contentou em seguir os rótulos e padrões. Desde o seu início na telona, ele sabia que teria problemas com seu estilo único de dirigir na busca de um realismo latenta (em seu primeiro trabalho no cinema acabou demitido da Warner Bros por considerarem um disparate o fato dele colocar os atores falando ao mesmo tempo na mesma cena). Do auge de M*A*S*H (1970), que foi premiado em Cannes e se tornou uma febre mundial com seu humor debochado (e um tanto ácido sobre a paixão americana pela guerra), o diretor foi aos poucos sendo mais criticado pelo seu olhar pouco condescendente com o american way of life (o que também rendeu o sucesso de Nashville/1975 e sua mistura de música country e política). Depois do sucesso, ele poderia ter se acomodado e continuar fazendo a plateia rir, mas preferiu lhe oferecer o estranhamento de Voar é com os Pássaros (1970) ou a melancolia do western Onde os Homens São Homens (1971). Os altos e baixos de sua carreira foram constantes, mas não impediram que continuasse trabalhando, seja na TV, em cursos de cinema, na Europa ou nos palcos. Altman sempre foi reconhecido pela sua forma única de lidar com atores e, por isso mesmo, sempre teve os atores de Hollywood se oferecendo para seus projetos, o auge disso foi a disputa por pequenas participações em O Jogador (1992), um de seus maiores triunfos - e que lhe rendeu o prêmio de melhor diretor em Cannes numa crítica ao que Hollywood tinha de mais alienante. O filme acabou lhe permitindo realizar aquele que talvez seja sua maior obra-prima: Short Cuts (1993), que baseado nos contos de Raymond Carver cria em caleidoscópio humano magnificamente conduzido - sendo premiado no Festival de Veneza, indicado ao Globo de Ouro, Oscar, Independent Spirit e vários outros prêmios do cinema. O documentário ainda aborda os problemas de saúde vividos por ele, seu inconfundível bom humor (mesmo nos piores momentos de sua vida e carreira) e sua sorte surpreendente - que o salvou da falência várias vezes, inclusive quando não tinha dinheiro para terminar o premiado Gosford Park (2001) que foi indicado a sete Oscars (ganhando o de roteiro original para Julian Fellowes, que mais tarde criaria a série Downton Abbey seguindo a mesma cartilha). Ainda que sua carreira nem sempre lhe desse retorno financeiro, Altman sempre demonstrou grande paixão pelo que fazia e uma inquietação que sempre tornou sua obra surpreendente. O reconhecimento da Academia foi tardio, após ser indicado ao Oscar sete vezes, recebeu a estatueta honorária em 2006, oito meses antes de falecer enquanto preparava as filmagens de seu quadragésimo filme. O diretor se foi, mas seu legado permanece uma referência do cinema mundial e, ebora ele considere que fazer filmes é como contruir castelos de areia, talvez, a melhor definição do que seja altmanesco venha de Lily Tomlin: "Altmanesco é construir uma família" - quem ver o filme entenderá. 

Altman (Canadá/2014) de Ron Mann com Robert Altman, Kathryn Reed, Elliot Gould, Lily Tomlin, Paul Thomas Anderson, Julianne Moore, Robin Williams e Bruce Willis. ☻☻☻

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