quarta-feira, 8 de abril de 2015

PL►Y: Gloria

Paulina: simplesmente gloriosa. 

Gloria é uma dessas personagens que a maioria das atrizes maduras sonham conseguir, sorte que a chilena Paulina García o recebeu e, com ele, elogios unânimes e o prêmio de melhor atriz no Festival de Berlim em 2013. Ou seria que é sorte de Gloria encontrar uma atriz com o talento de Paulina para emprestar-lhe mais do que o carne e osso, mas uma alma que transcende as limitações da película? Gloria é uma mulher de cinquenta e muitos anos que não tem pudor de exibir o tempo de vida que possui. Divorciou-se do marido há dez anos, os filhos estão crescidos - ela conversa com eles sempre que pode - e se divide entre trabalho e balada com grande desenvoltura. Ou seja, a protagonista do filme de Sebastián Lelio é bastante independente, desinibida e espirituosa, não por acaso, seu maior problema seja encontrar um homem à altura. A plateia se anima quando ela conhece Rodolfo (Sergio Hernández), mas ele - que ainda está comprometido com a ex-esposa e as duas filhas crescidas - irá deixar claro que Gloria terá sérios problemas para ser considerada uma prioridade em sua vida a dois. O legal é que embora se magoe, a protagonista está bem distante de imaginar que sua vida deva girar em torno de um relacionamento e, por isso mesmo, sua tristeza está mais em perceber o quanto é difícil olhar para frente quando a sua geração tende a olhar para trás. Muitos críticos percebem uma analogia da personagem com a situação do Chile, tanto que o longa tem cenas de panelaço e até conversas sobre a situação do país, mas nada que faça o filme ser pesaroso ou aborrecido. Gloria utiliza sua personagem para mostrar que os tempos mudam, mas algumas pessoas preferem continuar as mesmas. Por isso mesmo, sua relação com Rodolfo proporciona um saboroso tom cômico à história, já que Paulina García consegue construir uma mulher que praticamente esmaga o seu parceiro em cena, incluindo as cenas de nudez que revelam o quanto existe de audácia no filme de Lelio. Sendo assim, a cena final não poderia ser diferente de uma verdadeira ode à mulher idealizada pelo seu diretor. 

Gloria (Chile/2013) de Sebastián Lelio com Paulina García, Sergio Hernández, Diego Fontecilla e Eyal Meyer. 

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