sábado, 2 de agosto de 2014

Na Tela: Eu, Mamãe e os Meninos

Guillaume e Guillaume: mãe e filho. 

Ano passado, o comediante Paulo Gustavo viu sua peça adaptada para o cinema conseguir quase cinquenta milhões nas bilheterias brasileiras. Minha Mãe é uma Peça contava com Paulo interpretando a histérica Dona Hermínia que pegava no pé dos filhos, do ex-marido, dos vizinhos... curiosamente na França um outro filme trazia um truque bem semelhante. O ator francês Guillaume Galienne (que tem como filmes mais famosos no currículo o premiado O Concerto/2009 e Maria Antonieta/2005) fez sucesso com Eu, Mamãe e os Meninos, onde aparece como o protagonista Guillaume e, também, vestido como a própria mãe. O truque funciona bem, já que todos os personagens sempre ressaltam as semelhanças entre os dois. Semelhança essa não apenas física, mas também o jeito de falar, andar e até um pouco do senso de humor. Por conta dessas semelhanças que o título é mais revelador do que o espectador imagina, já que os meninos são os irmãos de Guillaume e a mãe nunca o enxerga como um menino. Através de uma narrativa iniciado num monólogo sobre um palco, Guillaume apresenta como foi crescer com todos ressaltando que ele não era um menino como os outros. Essa composição do personagem ainda é afetada pela inspiração em outras mulheres de sua família e a trajetória de perseguição dos irmãos, dos colegas na escola, suas frustrantes paixões platônicas e o olhar do pai e da mãe sobre tudo isso. Sempre investindo no humor, existem momentos em que o filme parece uma espécie de paródia Almodóvariana (e a aula de dança espanhola ressalta ainda mais essa impressão), especialmente quando lembra a época em que o cineasta espanhol investia no exagero para desmontar seus personagens que pareciam caricaturas. Sorte que Guillaume é um ator talentoso e um diretor habilidoso para lidar com essa pesada referência num tema complicado. Afinal, a descoberta da homossexualidade é um momento delicado e que ele aborda sem choques ou maiores polêmicas. Pelo contrário, explora os medos de Guillaume em ter sua primeira relação (sempre frustradas), pavor de cavalos e o desconforto com um exame feito por uma médica pouco gentil (uma divertida participação de Diane Kruger), sendo impressionante como o diretor consegue estabelecer relações entre aspectos tão díspares de seu personagem. No entanto, debaixo de tantas gracinhas, o roteiro reserva momentos sérios como a reflexão sobre a expressão feminina através da respiração, a cena da piscina e o momento em que ele percebe um engano que servia mais para ressaltar uma diferenciação entre os meninos da casa do que propriamente seus interesses amorosos. Por sua sinceridade que ora parece autobiográfica, ora fantasiosa (destaque para o momento Sissy), Eu, Mamãe e os Meninos agradou tanto os franceses que concorreu a dez prêmios César (o Oscar francês), levando para casa os prêmios de Melhor Filme, Melhor Filme de Estreia, ator (para Guillaume), edição e roteiro adaptado.

Eu, Mamãe e os Meninos (Les garçons et Guillaume, à table/França-2013) de Guillaume Gallienne, com Guillaume Gallienne, André Marcon, Françoise Fabian e Charlie Anson. ☻☻☻

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