domingo, 30 de março de 2014

CATÁLOGO: Bubble

Alon, Daniella, Yousef e Ohad: um olhar jovem sobre Tel Aviv. 

Ainda que algumas pessoas considerem seu cinema repetitivo, o nova iorquino Eytan Fox tem uma assinatura muito própria. Em Bubble ele volta sua câmera mais uma vez para Israel, mais precisamente para Tel-Aviv, para mostrar como vive um grupo de jovens daquela localidade, especificamente os que curtem música eletrônica, cultura pop e os que tem amigos (ou são) gays. Apesar de estar na ativa desde a década de 1990, foi com Bubble que o diretor ganhou projeção mundial e conquistou mais fãs para o universo bastante particular de sua obra. Apesar de alguns críticos considerarem um filme artificial pela forma como retrata os jovens de Tel-Aviv como pessoas normais, o filme mostra como a vida de pessoas comuns é cortada inesperadamente pela violência - o que acontece em vários filmes americanos, brasileiros, franceses... afinal, a violência está em qualquer canto do mundo globalizado. O filme começa na fronteira entre Israel e a Palestina, onde um grupo de militares revistam os passageiros de um ônibus. Isso é um fato que é comum naquela paisagem seca e desolada. Poderia ser um dia como outro qualquer se uma mulher não desse a luz a um bebê morto. O triste episódio marca o encontro entre o soldado israelense Noam (Ohad Knoller) e o palestino Ashraf (Yousef Sweid). Noam está nos seus últimos dias de serviço na fronteira e Ashraf viajava com o cunhado xiita para os preparativos do casamento de sua irmã. A partir dali a câmera segue o cotidiano comum de Noam e seu trabalho numa loja de CDs, além de seu convívio de dividir o apartamento com, Lulu (Daniela Wircer) e  Yali (Alon Freidmann). Lulu vive seus dilemas de ter uma educação conservadora e ter vontade de transar com um editor de revista (Oded Leopold). Já Yali tenta encontrar o companheiro ideal enquanto trabalha num charmoso café no centro da cidade. O cotidiano dos personagens parece com o de muitos outros ao redor do mundo, não fosse pelo cenário e os comentários que demonstram que apesar da vida pacata existe sempre uma tensão no ar. Essa tensão fica mais evidente quando Ashraf se reencontra com Noam e os dois engatam um romance. Feliz com os rumos de sua vida, Ashraf arranja trabalho, passa a morar com o namorado e participar de eventos pacifistas na cidade. Os personagens falam de namoro, sexo e cultura pop de forma muito natural e isso os aproxima de jovens de qualquer lugar do mundo. Quando Ashraf começa a levantar desconfianças, o filme volta a lente para o outro lado daquele mesmo mundo, com atentados terroristas, homens bomba e preconceitos que servem apenas para atrapalhar a vida dos amigos. Eytan Fox pode passar a maior parte do tempo mostrando que seus personagens são pessoas comuns, pode desagradar alguns por demonstrar a intimidade de seus personagens homossexuais, mas não tem medo de fazer um corte brusco em sua narrativa, onde a dura realidade de preconceitos (raciais, sociais, religiosos, sexuais...) se cruzam e a saída escolhida por um dos seus personagens não é muito bonita de se ver. Apesar das boas intenções o desfecho me parece um bocado forçado, mas isso não estraga o efeito do filme. Talvez por isso o nome Bubble (bolha em inglês) funcione tão bem para o filme, já que esse é o apelido de Tel-Aviv e sua bolha de aparente bem estar - ou pelo menos a que vive os personagens - mas, cedo ou tarde, a fragilidade da bolha em suas nuances coloridas, compromete a sua própria existência e de quem vive dentro dela.

Bubble (Ha-Buah/Israel-2006) de Eytan Fox com Ohad Knoller, Yousef Sueid, Daniela Wircer, Alon Freidmann, Oded Leopold, Zohar Liba  e Yotam Ishay. ☻☻☻

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