quinta-feira, 26 de setembro de 2013

KLÁSSIQO: Shampoo

Christie e Beatty: as confissões de Warren. 

Tem caras que parecem ter nascido com uma sorte inexplicável, um deles é Warren Beatty. Lembro quando ele filmou Dick Tracy (1990) e toda a mídia só falava do namoro entre ele e Madonna (que estava no auge). Naquela época, eu pensava que deveria ser muito bom ser Warren Beatty. Foi nessa época que descobri que o cara tinha namorado a maioria das mulheres mais cobiçadas de Hollywood desde o tempo em que era apenas o irmão de Shirley MacLaine. Imaginem agora o estrago que ele fez depois de ter ganho cada vez mais espaço na indústria cinematográfica? Hoje ele é casado com a escolada Annette Bening num dos casamentos mais admirados de Hollywood, mas na época me que encarnou o cabeleireiro garanhão de Shampoo, todos juravam (inclusive ele) que jamais uma mulher o fisgaria. Talvez por conhecer um pouco da fama de Beatty fora das telas e ver sua assinatura no roteiro desta comédia, que senti um certo sabor confessional em minha apreciação. Partindo da subversão do estereótipo de que todo cabeleireiro é gay, o filme apresenta George (Beatty) como um sujeito irresistível. Além de sua quase compulsiva vontade de fazer sexo com toda mulher que passa em sua frente, ele ainda é capaz de tornar beldades ainda mais atraentes no trato com os cabelos! George tem uma namorada, a adorável Jill (Goldie Hawn, digna de Oscar), mas não se incomoda de traí-la com uma mulher rica, Felicia (a pouco lembrada Lee Grant, que levou para casa o Oscar de coadjuvante), com a filha desta (vivida por Carrie Fisher antes de ser a Princesa Leia de Star Wars/1977) e até com uma ex-namorada, Jackie (Julie Christie) que cruza seu caminho quando ele busca patrocínio para abrir o seu próprio salão. Se envolver-se com tantas mulheres ao mesmo tempo já traz problemas, imagine se três delas estão envolvidas com o patrocinador do salão? Pois George, precisa convencer o esposo de Felícia, Lester (Jack Warden) que seria lucrativo investir no salão enquanto deve ajudá-lo a cuidar da amante, a temperamental Jackie. Visto hoje, o filme deve ter perdido muito do impacto que provocou em 1975 e algumas piadas bem sacadas devem passar sem ser notadas pela plateia do século XXI. Da forma como o filme brinca com a fama de Beatty, passando pela forma como ele carrega o secador de cabelo como se fosse uma arma, ou a cena em que cria trejeitos para se safar de um flagra, o espectador pode achar tudo meio bobinho demais. Talvez o ápice da narrativa seja a cena das duas festas totalmente opostas em que os personagens se metem lá pela metade da sessão. Uma é a impagável festa para comemorar a eleição de Nixon (onde os republicanos são alvo de todo tipo de deboche, além da claro dedo na ferida do falso moralismo). A outra é uma festa meio hippie, com drogas, sexo e rock'n roll, como se o filme exibisse os dois mundos que se colidiam na cultura americana da época. Colocar George transitando nesses dois mundos e atiçando a libido em ambos não acontece por acaso (afinal trata-se de um filme de Hal Ashby, que assinou o clássico Ensina-me a Viver/1971). Da mesma forma, inserir o "conservador" Lester em posturas diferentes nas festas também não deixa de ser uma provocação à sociedade americana da época e seu sempre maleável senso de oportunismo - ou seria hipocrisia? São essas entrelinhas que deram ao filme uma aura cult, valorizada ainda mais com as 4 indicações que teve ao Oscar, inclusive a de melhor roteiro (escrito por Robert Towne e Beatty) para o seu, aparentemente, desconexo trabalho. 

Shampoo (EUA-1975) de Hal Ashby com Warren Beatty, Goldie Hawn, Julie Christie, Jack Warden, Lee Grant e Carrie Fisher. 

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