quinta-feira, 22 de agosto de 2013

DVD: Somos Tão Jovens

Thiago: semelhança física com Renato Russo sem amparo do roteiro. 

Sem dúvida um dos filmes brasileiros mais falados do ano foi essa cinebiografia de Renato Russo, o cultuado vocalista da Legião Urbana. Contando com os fãs fiéis do cantor e da banda que fazem a banda brasiliense ser uma das mais bem sucedidas de nossa música, o filme foi produzido para ser um sucesso nos cinemas - e realmente foi com quase dois milhões de espectadores. Contando a fase embrionária do rock de Brasília, o filme conta (obviamente) com ótima trilha sonora e personagens que ajudaram a dar cara para o rock tupiniquim. Particularmente, eu esperava mais de um filme que conta  com uma matéria prima dessas, especialmente por que não consigo acreditar que o verdadeiro Renato Russo seja essa figura ingênua que a produção imprimiu à atuação de Thiago Mendonça. O rapaz pode até ter suas semelhanças físicas com Renato, mas não consigo enxergar nele a essência do compositor de músicas antológicas como Que País é Esse?, Índios e Tempo Perdido. O Renato do filme aparece mais como um garoto de pretensões intelectuais, fã de punk rock e que é capaz de citar Sócrates após apresentar uma música aos amigos. Aos fãs da Legião, cabe ainda a empreitada de “identificar” as citações às composições de Russo espalhadas pelos diálogos. Ou seja, beira a chatice! O contexto histórico da banda é apenas pincelado (li em algum lugar que o filme aborda o período de 1973 à 1985 e não acreditei), assim como a classe social dos personagens que transitavam em torno do protagonista e lhe permitia o contato com bandas que faziam sucesso no exterior e estavam distantes de conseguir distribuidores no Brasil daquela época. Vale lembrar que hoje temos acesso a qualquer banda que toque nos cafundós da Finlândia através da internet, mas há mais de três décadas atrás dependíamos da camaradagem de amigos descolados para conhecer os artistas que furavam o cerco do jabá das rádios e emissoras de TV. Esse rico contexto histórico fica meio que de lado no filme, cabendo a graça às transgressoras invasões ao som das festas alheias para propagar a sonoridade punk. Essa parecia ser a única diversão dos jovens brasilienses que não tinham muito o que fazer para se divertir até o momento em que nasce o Aborto Elétrico - capitaneado por Renato - e que se tornou a banda punk pioneira de Brasília. O roteiro até que explora os conflitos presentes na banda, especialmente depois que começa a existir uma certa disputa com bandas conterrâneas (como a Plebe Rude) e Fê Lemos (vivido por Bruno Torres) e Russo começam a se desentender. O nascimento do Capital Inicial com os restos do AE, a presença de um Dinho Ouro Preto adolescente, assim como Herbert Viana juvenil (e de voz imitada e inconfundível) ajudam a perceber como era próxima a relação entre alguns dos maiores nomes do rock nacional. No entanto, o veterano diretor Antonio Carlos da Fontoura (famoso pelo polêmico Rainha Diaba de 1974 e por ter feitos fimes menores posteriormente) deixa tudo à beira do insosso, com relações juvenis triviais e a timidez de explorar os aspectos mais polêmicos da personalidade do seu protagonista. Fatores como a rebeldia, o uso de drogas e o homossexualismo do personagem aparecem apenas superficialmente, como se esses aspectos não fossem importantes para a constituição do personagem como o conhecemos.  Não se trata de cultuar esses aspectos da vida dele, mas demonstrar como um bocado de genialidade, dor e tristeza colaboraram para a constituição de um dos maiores porta-vozes da juventude de nosso país. Tentando fazer um Renato Russo que agrade a todo mundo, o filme perdeu uma ótima oportunidade de mostrar a personalidade que estava por trás de algumas das melhores composições do rock nacional. Somos tão Jovens me parece um desses filmes censurados na época da ditadura onde as cenas mais importantes ficaram de fora, assim, perdeu a chance de ser tão relevante quanto à obra de seu biografado.  

Somos Tão Jovens (Brasil/2013) de Antonio Carlos da Fontoura com Thiago Mendonça, Laila Zaid, Bruno Torres, Bianca Comparato, Marcos Breda e Sandra Carveloni. ☻☻

Nenhum comentário:

Postar um comentário