quinta-feira, 22 de agosto de 2013

DVD: As Sessões

Hawkes e Hunt: plena sintonia em uma história real. 

A certa altura uma personagem precisa descrever o protagonista e ela diz: "ele só mexe a cabeça". Talvez por dar conta de um personagem desses com tanta competência,  As Sessões era alardeado como uma das grandes apostas para o Oscar conforme era apresentado em festivais de cinema independente. Infelizmente, acabou conquistando somente uma indicação ao Oscar de atriz coadjuvante para Helen Hunt. O filme é baseado na biografia de Mark O'Brien (John Hawks que ganhou o Independent Spirit de melhor ator), um personagem real que adoeceu de poliomielite ainda adolescente. O filme apresenta brevemente como ele tornou-se famoso por estudar na faculdade de Berkeley, formando-se em jornalismo - mas gostava mesmo era de escrever poesias. Aos 38 anos, Mark já vivia confinado à necessidade de viver preso a um pulmão de aço - que abastecia seu corpo para viver algumas horas fora dali. Com todas as adversidades, Mark era bem humorado e tentava levar uma vida comum dentro de suas limitações, mas seu olhar sobre a vida muda quando é convidado a escrever uma matéria sobre a relação entre os deficientes físicos e o sexo. A partir dali, seu objetivo passa a ser perder a virgindade. Em sua jornada pelo que parecia impossível, ele conta com os conselhos de um padre mais que compreensivo (o sempre confiável William H. Macy), ajudantes devotados (Moon Bloodgood e M. Earl Brown) e os serviços de uma substituta, papel de Helen Hunt. A tal substituta é uma espécie de (fisio?)terapeuta sexual que auxiliará Mark a conhecer as sensações de seu corpo, a intenção é que Mark possa controlar o corpo ao ponto de poder manter relações sexuais. Trata-se de um tema espinhoso, mas que o diretor Ben Lewin consegue abordar de forma leve, bem humorada e respeitosa aos personagens. É interessante como o roteiro torna seus sujeitos surpreendentes à medida que os revela ao público. Fazia tempo que Helen Hunt não recebia um papel tão belo e desafiador em sua carreira, ela eleva os conflitos de sua personagem a outro patamar ao exibir o esforço em se distanciar emocionalmente de Mark. Com um Oscar de melhor atriz na estante (por Melhor É Impossível/1997) e vários Globos de Ouro (a maioria por conta da série Mad About You/1992-1999) ainda me pergunto se a atriz não merecia outro careca dourado com essa indicação ao prêmio de coadjuvante no Oscar! William H. Macy também deixa seu padre entre a solidariedade e a curiosidade perante a sexualidade - da qual também está privado, mas por motivos totalmente diferentes. Mas dificilmente o filme teria sua força se não investisse no talento do ainda pouco conhecido John Hawkes na pele de Mark. Revelado como o tio esquisito de Jennifer Lawrence em Inverno da Alma/2010 (filme que lhe valeu uma indicação ao Oscar de coadjuvante), desde então o ator não para de trabalhar, mas é neste filme que o ator comove a plateia na pele de um personagem que exige total expressão com um corpo quase totalmente inerte. Cada olhar e palavra do personagem é defendido pelo ator em sua plenitude, de forma que é fácil entender como pode ser ameaçador aos homens que deixam as mulheres por perto dele. Hawkes entrega uma das atuações mais impressionantes do ano. Além de todo o mérito do elenco, não lembro de ter visto um filme onde o sexo é tratado de forma tão naturalmente terna. 

As Sessões (The Sessions/EUA-2012) de Ben Lewin com John Hawkes, Helen Hunt, William H. Macy e Moon Bloodgood. ☻☻☻☻

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