terça-feira, 7 de maio de 2013

CATÁLOGO: Poucas e Boas

Morton e Penn: química esquisita. 

Longe de mim duvidar do talento de Sean Penn. Ele é sem dúvida um dos maiores atores surgidos na década de 1980. Ganhador de vários prêmios entre Oscars, Globo de Ouro e dos maiores festivais de cinema do mundo (Cannes, Veneza e Berlim), Penn é realmente notável. No entanto, às vezes ele me parece se acomodar e fazer cara de quem passou mal o dia todo (como em A Árvore da Vida/2011), junte isso ao seu temperamento e algumas pessoas vão entender a antipatia que desperta em alguns. É quando vejo o ator fazendo cara de enjoado que tento me lembrar daqueles momentos diferentes em sua carreira, onde ele mostra o grande ator que é. Um desses momentos é neste que é um dos poucos filmes cômicos em que atuou: Poucas e Boas de Woody Allen. O filme rendeu sua segunda indicação ao Oscar (a primeira foi pelo excepcional Os Últimos Passos de Um Homem/1994) e o ator se sai muito bem ao construir um tipo inesquecível na pele do violonista Emmet Ray. Ray é sempre considerado o segundo melhor do ramo, ficando sempre atrás de Django  Reinhardt. Ray e Django disputavam a atenção dos apreciadores de jazz durante a Grande Depressão e a trejetória deste medalha de prata é contada a partir de anedotas lembradas por seus fãs (que inclui o próprio Woody Allen). As histórias não tentam explicar o homem por trás do mito, apenas aguça a curiosidade de como um machista, cruel, cafajeste, cleptomaníaco e egocêntrico conseguia ser extremamente conquistador perante o público feminino. Apesar de sempre ter uma mulher por perto, os passatempos favoritos de Emmet era tocar violão, atirar em ratos num lixão e ver trens passando. Tirando o dia em que inventou entrar num palco pendurado numa lua, suas maiores confusões são as amorosas. Embora tenha se casado com uma sofisticada escritora (Uma Thurman), não são poucos os que acreditam que o grande amor de sua vida foi uma simplória lavadeira muda chamada Hattie (Samantha Morton). O medo de se apaixonar por uma pessoa tão singela como Hattie faz com que Emmet tenha alguns momentos de extrema grosseria (e que nos fazem se apaixonar pela graça quase infantil de Morton) e cometa o maior erro de sua vida - um dos motivos pelo qual caiu no ostracismo e desapareceu do mundo artístico. Woody Allen consegue até fazer o espectador acreditar que Emmet Ray existiu. Embora o filme não tenha (e nem queira) a grandiloquência de Zelig (1983) torna-se notável a direção de arte muitíssimo bem cuidada e a trilha sonora sempre presente . Precisa dizer que os diálogos são inteligentes e bem construídos? Que as situações mais engraçadas sempre tendem para o mais incomum? E que Allen prefere criar climas do que começo, meio e fim? Em se tratando do diretor, acho que não. Vale mesmo é dizer que Morton foi indicada a vários prêmios de atriz coadjuvante (incluindo o Oscar) por sua excepcional atuação e que Sean Penn bem que poderia investir em outras comédias - as cenas em que toca violão sorrindo está entre os momentos mais suaves de sua carreira. O filme é tão leve e despretensioso que quase não foi visto nos cinemas.     

Poucas e Boas (Sweet  & Lowdown/EUA-1999) de Woody Allen com Sean Penn, Samantha Morton, Uma Thurman e Woody Allen. ☻☻

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