sexta-feira, 2 de novembro de 2012

KLÁSSIQO: Gente Como a Gente

Hutton: Oscar aos 20 anos.
Assisti ao oscarizado Gente como a Gente de Robert Redford pela primeira vez nesta semana. Lançado em 1980 o filme é lembrado por dois motivos: o primeiro (mais público e notório) foi derrotar Touro Indomável de Scorsese nas disputas de melhor filme e direção (que foi para Robert Redford) no Oscar. O segundo motivo foi dar o prêmio de coadjuvante para o então novato Timothy Hutton que nunca mais alcançou a intensidade de seu trabalho neste drama familiar - o que o tornou um dos exemplos da maldição do Oscar. Visto hoje o filme pode causar grande estranhamento pelo tom quase arrastado com que a câmera invade o cotidiano da família Jarrett, que tenta juntar os cacos após a morte prematura do primogênito. O pai, Calvin (Donald Sutherland), a mãe, Beth (Mary Tyler Moore) e o filho mais jovem, Conrad (Hutton) são apresentados como uma família comum com seus problemas cotidianos durante quase uma hora de filme. É um risco Redford optar por começar o filme com essa apresentação cautelosa dos personagens, diálogos que não parecem importantes, gestos sutis, olhares e sorrisos tímidos. Nessa parte, a tragédia aparece apenas nos pesadelos de Conrad, pensamos que talvez por ser adolescente ele ainda não conseguiu filtrar a perda do irmão. Mas aos poucos conhecemos um pouco mais a história do rapaz que ficou internado numa clínica psiquiátrica após tentar o suicídio - ao que parece, uma situação que  afetou para sempre seu relacionamento com os pais. Embora tente preencher o tempo praticando natação com os colegas da escola e flertando com uma bela colega (Elizabeth McGovern, uma espécie de Ana Paula Arósio da década de 1980), os pais consideram que é melhor Conrad frequentar um psiquiatra, já que temem que ele tente suicídio novamente. O interessante é que conforme segue o tratamento com o doutor Berger (Judd Hirsch), Conrad instiga seus pais a mexer em feridas que julgavam estar cicatrizadas apenas porque não olhavam mais para ela. Nesse momento, Calvin e Beth percebem como o relacionamento de ambos está fragilizado após a tragédia. Embora o roteiro se concentre mais nos dramas do filho, é notável como Sutherland e Moore intensificam cada cena de seus personagens conforme seus conflitos interiores aumentam. Enquanto Donald Sutherland apresenta uma de suas atuações mais emocionais, Mary Tyler Moore embriaga sua personagem de uma tensão absurda, como se seu corpo houvesse parado de sentir o mundo ao redor - inclusive afeto pelo filho sobrevivente. Seu único gosto parece ser as constantes fugas viagens  que planeja, mesmo que infelizmente tenha que voltar para a casa e se deparar com o que gostaria de esquecer. Seria um mecanismo de defesa? Seria por culpar Conrad  pelo acidente que vitimou o irmão? O roteiro deixa a cargo do espectador a resposta. Robert Redford realiza um filme bastante tradicional que caminha lentamente para um tom cada vez mais claustrofóbico. Em sua estreia na direção, Redford descasca seus personagens de forma crua diante da câmera e nos transmite a sensação de ver a dissolução de uma família de forma tão realista que até esquecemos se tratar de uma obra de ficção. Embora o público impaciente de hoje possa considerar seu ritmo insuportável, vale conferir este filme nem que seja pela atuação pulsante de Timothy Hutton  - que após ser ator mirim na TV, tornou-se aos vinte anos o ator mais jovem a ganhar um o Oscar de ator coadjuvante. 

Moore e Sutherland: descascando as mágoas familiares. 

Gente Como a Gente (Ordinary People/EUA-1980) de Robert Redford com Donald Sutherland, Mary Tyler Moore, Timothy Hutton, Judd Hirsch, Elizabeth McGovern e Basil Hoffman. ☻☻☻

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