sexta-feira, 16 de novembro de 2012

DVD: KABOOM

Dekker e Juno: hormônios e nada mais. 

Kaboom despertou minha curiosidade depois que ouvi alguns elogios e fiquei sabendo que recebeu até um prêmio especial no Festival de Cannes. A direção é assinada por Gregg Araki (que eu já conhecia de outro filme superestimado, Mistérios da Carne/2004) e acabei aceitando o desafio de assistí-lo. O engraçado é que tive a impressão de que a carreira de Araki dá voltas em torno dos mesmos temas. O diretor está na ativa desde 1987 e já recebeu até alguns prêmios por seus trabalhos (a maioria pelo filme de 2004), mas não sei se ele pensa que filmar mal é estilo ou ele é ruim mesmo. Kaboom é uma mistura de temas em subtramas que caminham para o caos absoluto em seus momentos finais. Anuncia-se como uma comédia de ficção científica, mas não consegue achar o tom da narrativa em momento algum, amontoa personagens que veem o sexo como uma forma de passar o tempo e nada mais. Ambientado numa universidade o protagonista é Smith (Thomas Dekker que ficou conhecido ao encarnar John Connor adolescente na série inspirada no filme Exterminador do Futuro), um rapaz gay que tem como melhor amiga uma lésbica pedante chamada Stella (Haley Bennet). O moço nutre uma atração secreta por Thor (Chris Zylka) seu colega de quarto surfista, mas isso não impede que tenha um rolo com a maluquete London (Juno Temple) enquanto a amiga Stella se envolve com Lorelei (Roxane Mesguida) -  garota que acredita ser uma bruxa. Em meio a esses relacionamentos o filme cria alguns mistérios, a maioria deles em torno dos sonhos de Smith que aos poucos começam a ter relação com a vida real e o desaparecimento de uma estudante ruiva (Nicole Laliberte) no campus. Quando homens estranhos usando máscaras de animais começam a aparecer o filme parece que irá enveredar por um suspense eficiente, mas não é isso que acontece. Araki parece mais preocupado em abordar os flertes de Smith com um fortão que conhece na praia (Jason Olive), com o tímido Oliver (Brennan Mejia) e o amigo desmiolado de Thor, Rex (Andy Fischer-Price). Nada contra o interesse do diretor pelos hormônios dos personagens, mas não existe muita graça nos encontros e muito menos algum sentimento na relação que se estabelece entre eles. O resultado é um incômodo artificialismo. Quando tudo mostra-se mais solto e mal amarrado surge a ideia maluca de uma seita que tenta explicar todos os acontecimentos de forma apressada e preguiçosa. Mais confuso do que a trama é a ambientação da história: lançado em 2010, o filme tem uma estética de início da década de 1990! Ou seja, parece vinte anos mais velho do que realmente é - isso sem falar que não parece um filme, mas uma série de TV de vinte anos atrás. Dos recortes às transições de uma cena para outra, tudo parece ultrapassado - incluindo os figurinos multicoloridos que transpiram a ressaca pós década de 1980. No roteiro escrito pelo próprio diretor, nota-se uma enorme dificuldade em manter uma linha narrativa. Sendo assim, não apenas fica difícil para o expectador se envolver com os personagens como não existe uma tensão crescente com o apocalipse anunciado desde o início da sessão. Araki repete aqui alguns de seus cacoetes, como misturar homossexualidade com elementos de ficção científica (abduções inclusive) e resgatar louras esquecidas em Hollywood em papéis maternais pouco relevantes (aqui ele faz isso com Kelly Lynch). Com sua estética trash, o filme beneficia-se de não levar-se a sério, mas termina parecendo inútil demais para ficar na memória.

Kaboom (EUA-2004) de Gregg Araki com Thomas Dekker, Juno Temple, Chris Zylka, Kelly Lynch e Haley Bennet.

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