quarta-feira, 17 de outubro de 2012

CATÁLOGO: A Ponta de Um Crime

Brendan e Brain: aprendizes de detetives.

Se você curtiu a engenhosidade de Rian Johnson no recente Looper (2012) vale a pena garimpar nas locadoras A Ponta de Um Crime, um filme de investigação ambientado numa escola, sem policiais e com fidelidade absoluta ao gênero noir. No início eu estranhei aqueles adolescentes misteriosos envoltos na atmosfera silenciosa, mas quando você entende a proposta do filme dificilmente  o abandona no meio do caminho. O filme acompanha Brendan (Joseph Gordon Levitt), aluno de uma high school que recebe um estranho telefonema da ex-namorada, Emily (Emilie de Ravin) dois dias antes de encontrá-la morta num túnel de esgoto. Com a descoberta do corpo, as palavras de Emily recebem um novo significado que o direciona até o submundo das drogas de sua escola. Esqueça a pretensão de Brendan não querer envolver a polícia na investigação e achar que pode encontrar o assassino de sua amada por conta própria, isso faz parte desta brincadeira (que se leva a sério até demais). Como parceiro de investigação, Brendan conta apenas com Brain (um ótimo Matt O'Leary),  nerd que parece alheio ao que acontece na escola, mas sabe exatamente quem é quem naquele universo peculiar. Agindo como informante, Brian interpreta as últimas palavras de Emily na direção de alguns alunos que traficam drogas. É assim, depois de apanhar um bocado, que Brendan entrará em contato com Dode (Noah Segan) - atual namorado de Emily -, o projeto de brutamontes Tugger (Noah Fleiss) e o soturno The Pin (Lukass Haas, que já passou dos 30 anos mas ainda convence como adolescente) que controla o submundo do colegial. Todos são suspeitos e, aparentemente, todos tem motivos para se livrar de Emily, até que um segredo da garota vem à tona.  Como um bom filme noir, na maior parte do tempo o investigador tenta juntar as peças que tem em mãos e com isso alguns personagens estão ali só para confundir, outros perdem espaço no decorrer dos fatos e outros (que pareciam confiáveis) se tornam cada vez mais turvos. Seguindo a cartilha do gênero, Johnson deixa seus personagens sempre ambíguos tornando seus atos sempre inesperados (se não fosse assim aquele desfecho no cômodo escuro não teria um terço do peso apresentado) e capricha nas garotas fatais que cruzam o caminho do protagonista. Além da confusa Emily, ele vive cruzando a com a beldade Kara (Meagan Good) e com a escorregadia Laura (Nora Zehetner) que se mostra uma autêntica femme fatale com seu rosto meigo e olhos enormes. Ao misturar dois gêneros distintos (o filme teen com o noir), A Ponta de Um Crime soa inovador e surpreende ao construir um universo próprio onde a escola parece povoado somente por alunos - e quando aparece o vice-diretor da escola ele mais parece um delegado. Essas analogias entre as personas de um gênero e de outro são bem mais interessantes do que algumas obviedades que o diretor poderia ter abandonado durante o filme, a que mais me incomoda é a trilha sonora forçosamente jazzística (própria dos filmes policiais clássicos em que o filme se inspira), com a atmosfera construída pelo diretor nem precisava dela - ter investido numa trilha sonora mais original tornaria o longa ainda mais inovador dentro do gênero. No fim das contas, A Ponta de um Crime é um belo exercício narrativo e se torna memorável pelo conjunto de personagens interessantes que apresenta num roteiro bem escrito que se desenrola cuidadosamente.

A Ponta de Um Crime (Brick/Canadá-2005) de Rian Johnson com Joseph Gordon Levitt, Lukas Haas, Nora Zehetner, Matt O'Leary, Nohan Segan e Noah Fleiss. ☻☻☻☻  

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