sexta-feira, 27 de julho de 2012

TRILOGIA BATMAN - PARTE 3: Christopher Nolan

Nolan Begins
Depois da micagem de Batman e Robin (1997), a Warner não queria saber de Batman tão cedo. Depois que a Marvel estabeleceu um novo padrão para as produções de filme baseados em HQs (especialmente com o sucesso de X-Men/2000 e Homem Aranha/2002) a Warner (ao lado da DC Comics) começou a pensar em como poderia redefinir a franquia do Homem Morcego na telona. Estavam levando a ideia tão a sério que convidaram Darren Aronofsky para dirigir o filme. Darren lançara os sombrios Pi (1998) e Réquiem para Um Sonho (2000) e os estúdios ficaram fascinados com as possibilidades de um diretor tão engenhoso e sensorial pilotando a franquia. Convidado a dirigir Batman, Darren mostrou-se tão radical num filme por encomenda quanto em suas produções independentes. Chegou a convidar o septuagenário Clint Eastwood para encarnar um Batman mais maduro vivendo sua crise em lutar contra o crime - enfrentando o vilão Espantalho (papel que seria do roqueiro Marylin Manson). A ideia é até interessante, mas estava longe de que a Warner tinha em mente para dar fôlego aos filmes de Batman. Com Darren dispensado convidaram Chritopher Nolan para dirigir Batman. Os fãs do diretor de Amnésia (1999) começaram a se preocupar com os rumos que sua carreira tomariam, mas os fãs das HQs tinham o presságio de que os filmes do super-herói alcançariam um outro patamar. 

Neeson e Bale: Mestre e discípulo?

Quando Batman Begins estreou o público percebeu que o diretor não estava brincando quando assumiu a proposta de levar sua concepção do Homem Morcego para a telona. O filme se concentra na construção do mito de Batman, para isso mistura histórias como "The Man who Falls", "The long Halloween" e, principalmente "Batman: Year One" (que quase foi o título do filme). Nesse processo, valoriza os personagens clássicos em sua construção. Está presente a traumática perda dos pais num assalto (assim como no filme de Tim Burton, mas o tom é outro, mais clássico e operístico) este é o ponto de partida para a construção do lado mais sombrio do personagem. Nesse aspecto obscuro de um homem que escolhe um morcego para símbolo, a escolha de Christian Bale para o papel foi fundamental. O ator galês era visto com ressalva pelos produtores, uma vez que seu temperamento precedia sua fama, além disso, sua carreira em filmes independentes e sombrios (como Psicopata Americano/2000) ressaltava tanto seu talento quanto o fato de ser avesso às grandes produções. Já é clássica a história de que Bale foi fazer o teste do herói quando era quase pele e osso após sua atuação em O Operário (2004) e precisou convencer os produtores que poderia ficar musculoso para habitar a batcaverna em menos de um mês. Nolan bateu o pé pelo astro e o que vemos é a melhor personificação de Wayne/Batman. A opção de acolher os medos do herói como seu ponto de partida, foi fundamental para lhe dar a seriedade perdida no mundo colorido de Joel Schumacher. Batman, além de herói, é uma espécie de reflexo distorcido de seu alter-ego Bruce Wayne. Nascido das inseguranças e angústias de Wayne em lidar com a raiva, nasce um vingador mascarado para cuidar da cidade de Gotham City, mesmo que forjado pelo treino em artes marciais com um terrorista internacional, Ra's Al Ghul.  Nenhum filme se preocupou em mostrar como um ricaço como Bruce se torna um exímio lutador - nem como consegue desenvolver seus apetrechos (cortesia de Lucius Fox feito por Morgan Freeman). Esses personagens que compõem a identidade do herói, ainda encontra o lado afetuoso do fiel mordomo Alfred (Michael Caine, que nasceu para o papel) e o compromisso de Jim Gordon (Gary Oldman). Não satisfeito com o leque de personagens utilizado para tornar seu filme mais rico, o filme ainda recorre ao vilão Espantalho (Cillian Murphy) e ao corrupto mafioso Falcone (Tom Wilkinson) para personalizar o que há de pior em Gotham. Enquanto Espantalho se esconde na pele de um psiquiatra do clássico Asilo Arkhan - que planeja contaminar a cidade com uma substância alucinógena, o maior vilão que Batman terá de enfrentar é o mestre que imaginava estar morto. Com tom realista, fotografia sombria e uma trama cheia de elementos para administrar, fica visível que a Warner esteve no controle de tudo - e o filme transparece que Nolan não relaxa na direção, mas mesmo assim apresenta uma obra superior a todos os outros filmes do Homem Morcego. Se existe uma reclamação é a inconsistência de Katie Holmes como par romântico do herói. Tendo custado 150 milhões e  filme rendeu quase 400 milhões pelo mundo. O público ficou satisfeito, mas queria mais, especialmente depois do final que parecia remeter ao filme de Tim Burton. 


Ledger, Bale, Aaron: o palhaço, o cavaleiro negro e o branco.

Com todas as fichas na mesa depois de Batman Begins, Christopher Nolan lançou aquele que é considerado por muitos como o melhor filme de super herói de todos os tempos. Batman - O Cavaleiro das Trevas, um filme que rompeu a barreira do bilhão de dólares em arrecadação, ampliou todas as premissas de seu antecessor, adicionou novos elementos e se tornaou uma alegoria política muito bem vinda sobre o período que os EUA viviam. Sem o compromisso de ter que apresentar os personagens, Nolan teve mais tempo para trabalhar o maior inimigo de Batman: o Coringa. Além do apelo perante o público, o vilão  ainda rendeu publicidade ao filme por conta da morte de seu intérprete, Heath Ledger. Antes do filme estrear a atuação de Ledger já era saudada como uma das melhores do ano, digna de Oscar e tudo mais. Dizem que o filme teve que passar mais uma vez pela ilha de edição para retirar algumas cenas que poderiam ser desagradáveis após a morte do ator (acho aquela última cena do Coringa aberta demais para a estrutura do longa, acho que o desfecho era outro). Bale volta para a pele do herói e consegue convencer mais uma vez como um Bruce Wayne relapso que disfarça a identidade do herói, no entanto, sua química com Coringa faz toda a diferença neste filme. Afinal, ambos são lados da mesma moeda, a violência e a loucura está presente em ambos, mas de formas tão distintas como complementares. Na anarquia de Coringa, o auto-contole de Batman parece prestes a se diluir e torná-lo uma espécie de reflexo do palhaço maluco. Ao contrário do filme anterior, que era repleto de vilões, o Coringa dá conta de tornar a cidade num caos entre  recompensas por assassinatos, bombas espalhadas pela cidade, bandidos brigando entre si e dois barcos que dependem do bom senso para não irem para o espaço. Cheio de golpes elaborados, o Coringa de Ledger faz o de Jack Nicholson (Batman/1989) parecer uma piada. Talvez o motivo seja o fato de Ledger se envolver até na maquiagem do personagem (criada por ele mesmo) e que o torna mais assustadoramente estranho. Por mergulhar com tanta devoção numa das mentes mais perturbadas do cinema, Ledger recebeu o segundo Oscar In Memorian conferido pela Academia do Oscar. Curioso perceber que entre o palhaço e o morcego existe uma peça fundamental para a trama: o promotor Harvey Dent (Aaron Eckhardt). Dent inspira Gotham em sua sede pelo correto em meio ao caos, ao mesmo tempo que faz um triângulo amoroso com Wayne e sua amada Rachel (Maggie Gyllenhaal substituindo Katie Holmes). Dent funciona como um híbrido entre as duas forças protagonistas do filme e torna-se fundamental nos rumos que Christopher Nolan e seu irmão pretendem dar a Batman em seu desfecho nas telas.  Desaparecendo nas sombras, todo mundo só queria saber o que a sétima arte reservava para a sua próxima aventura (só sabiamos que permaneceria sem o Robin). O filme concorreu a oito Oscars (ganhou edição de som e ator coadjuvante/Ledger), mas pior do que perder seis categorias foi não ficar entre os cinco concorrentes ao Oscar de Melhor Filme e deixar Nolan fora da categoria direção. Essa gafe da Academia acabou rendendo uma revisão nos conceitos do Oscar, que passou a indicar mais de cinco filmes à categorias principal. 


Batman Begins (EUA-2005) de Christopher Nolan com Christian Bale, Liam Neeson, Katie Holmes, Michael Caine, Morgan Freeman, Gary Oldman e Cillian Murphy. ☻☻☻


Batman - O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight/EUA-2008) de Christopher Nolan com Christian Bale, Heath Ledger, Aaron Echardt, Maggie Gyllenhaal, Michael Caine, Morgan Freeman, Gary Oldman e Cillian Murphy. ☻☻☻

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