sábado, 21 de abril de 2012

CATÁLOGO: The Wall


Geldof: A passividade que atira para todos os lados.

O veterano diretor Alan Parker anda sumido, desde o incômodo A Vida de David Gale (2003) não lança um longa metragem. Parker tem um talento incomum para construir cenas e um interesse muito especial pela música pop, uma vez que assinou sucessos como Fama (1980), The Commitments (1991) e Evita (1996), além de The Wall (1982), famigerado longa metragem baseado no álbum homônimo do Pink Floyd. Houve uma época que eu me sentia um verdaderio ET por não ter visto o filme, todo mundo tinha uma opinião sobre ele, sobre suas cenas surreais, o fluxo delirante dos pensamentos do protagonista, suas críticas à escola e outras coisas. Bem, chegou a minha hora de tecer a minha humilde opinião sobre o filme com roteiro de Roger Walters. Devo admitir que há um bocado de ideias no filme, mas dizer que todas são interessantes é um engano. Dá para entender os motivos de ter causado grande impacto e polêmica quando foi lançado em 1982, mas passado trinta anos, o filme envelheceu mais do que deveria. Por vezes tive a impressão que Parker criou clipes para as músicas do álbum e que Waters se preocupou em criar um historinha preguiçosa para amarrar as ideias presentes nas canções. Sei que o álbum é conceitual, mas em sua transposição de som para imagem não existe necessariamente cinema. Obviamente que existem cenas belíssimas, momentos que beiram o cinema experimental que um bando de universitários da faculdade de cinema podem fazer com mais coesão e coerência do que vemos aqui, mas o longa não consegue empolgar para que acompanhemos hora e meia de reclamações sobre o mundo cruel. A trama gira em torno de um roqueiro chamado Pink (Bob Geldof que como ator é um bom músico) e seus dilemas pessoais. Pink tem uma legião de fantasmas para exorcizar enquanto vive uma crise depressiva gerada pela fama. Ele revisita a escola (que o transformou em carne moída?), a mãe zelosa (que o tornou passivo?), os horrores da guerra e a traição da esposa (que se cansou de sua autopiedade passiva?). Sei que o filme pretende ser crítico ao "sistema", mas não custava nada ter procurado alvos mais originais, o próprio protagonista não sabe que rumo tomar em sua vida e quando resolve reagir prefere quebrar quartos de hotel, se automutilar e tornar-se um líder nazi-fascita contra aqueles que são considerados diferentes pelo senso comum. Não há nada pior do que o perseguido tornar-se perseguidor. Os momentos em que o filme alcança seus melhores momentos ainda são os embalados por Anoher Brick in the Wall - com todas aquelas famosas alfinetadas ao sistema educacional  - e Comfortably Numb (cujo a letra nem é de Waters, mas de David Gilmour) quando o menino Pink perpassa os momentos de seu futuro obscuro. Sei que o filme não pretende ser um longa bonitinho de começo, meio e fim, mas acredito que  a ideia de romper o "muro" que ao mesmo tempo protege e oprime o protagonista não era soar como o texto de alguém que acabou com todos os cogumelos da vizinhança. Sombrio e deprimente, ainda que esteticamente cuidadoso, o filme é uma jornada árdua pela mente de um personagem à beira da loucura. Se tivesse olhado para fora do seu umbigo (e não estou falando de Pink) o resultado seria mais interessante, talvez até fosse um filme de verdade e não uma colagem de videos impactantes.

The Wall (Reino Unido-1982) de Alan Parker com Bob Geldof,  Christine Hargreaves, Eleanor David e David Bingham. 

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