sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

CATÁLOGO: O Sonho de Cassandra

McGregor e Farrell: boas atuações em drama de Woody Allen. 

Faz tempo que Woody Allen deixou de fazer filmes somente em Nova York, com Match Point (2005) o diretor migrou para a Europa em busca de novos ares - com o pretexto de ser mais barato filmar por lá do que nos EUA. Embora seja conhecido por suas comédias, Match Point era mais um drama de suspense do que qualquer outra coisa (o que marcava o retorno do diretor aos temas mais sérios). Depois Allen voltou à comédia despretensiosa (com Scoop/2006) e diante da recepção fria da crítica e do público lançou este O Sonho de Cassandra, novamente inglês e com nomes europeus no elenco, mas seu maior pecado foi repetir a estrutura de seu sucesso de 2005. O Sonho de Cassandra já anuncia em seu título que não é um filme leve (eu já comentei aqui antes sobre o mito grego de Cassandra que estava condenada a sonhar com o futuro e viver a agonia de não conseguir alterar os acontecimentos porque ninguém acreditava nela), mas o nome remete somente ao barco comprado por dois irmãos, mesmo assim, existe um bocado de tragédia no texto de Woody. Ian (Ewan McGregor) e Terry (Colin Farrell) são dois irmãos em situações de vida bem diferentes: enquanto o primeiro almeja ser mais bem sucedido do que lhe permite administrar o restaurante do pai, o segundo trabalha como mecânico enquanto tenta vencer o vício por jogatinas. Ian é um mulherengo que pede emprestado os carrões da oficina do irmão para conquistar a mulherada - dizendo ser empresário do ramo hoteleiro na Califórnia (um sonho luminoso numa cinzenta Inglaterra). Terry se contenta com a namorada apaixonada, Kate (Sally Hawkins), e brincar com a sorte em jogo de cartas. A apresentação dos personagens é sem pressa até o momento que Ian conhece a atriz Angela (Hayley Atwell vista recentemente em Capitão América e que aqui aparece totalmente diferente) e percebe que para ser feliz ao lado daquela garota precisa fazer muito dinheiro - enquanto Terry consegue uma dívida alta com agiotas.  Até este ponto todo mundo fala muito sobre um tal tio rico chamado Howard (Tom Wilkinson em presença rápida e marcante), o qual imaginamos que os dois irão pedir dinheiro para dar um jeito em suas vidas. O problema é que o tio quer algo em troca, no caso, matar um ex-funcionário que poderá levá-lo para a prisão se fizer algumas declarações. Ian e Terry então se veem num dilema: fazer o serviço ou não? Ironicamente os personagens até mencionam um sonho aqui e outro ali que nunca são detalhados, mas não precisa ser nenhuma Cassandra da mitologia para saber que as coisas não vão acabar bem se resolverem ajudar o tal tio (e o roteiro brinca com isso o tempo todo dizendo que estarão "ultrapassando os limites"). A melhor parte do filme se concentra nos conflitos entre os dois irmãos vivido por gosto por McGregor e Farrell. Não é difícil perceber quem tem a frieza ambiciosa necessária para motivar o possível serviço e quem tem a mente preparada para  elaborar os detalhes da situação.  Todo mundo sabe que mesmo quando não é genial, um filme de Woody Allen é melhor do que a média, até porque ele é um ótimo roteirista - fique atento aos personagens que nunca estão ali por acaso (é o caso de da risonha Kate que terá papel fundamental no desfecho da história) e existem reviravoltas que nunca parecem forçadas ou sem razão. No entanto, o problema aqui está no desfecho. É inevitável perceber a relação da solução encontrada pelo diretor com a do semelhante Match Point, só que com a desvantagem da última cena ser bem menos interessante do que a conversa policial do filme de 2005. No fim das contas, a impressão é que O Sonho de Cassandra é um genérico de MP, só que sem o frescor da novidade - e por isso, alguns fãs podem considerá-lo decepcionante.

O Sonho de Cassandra (Cassandra's Dream/EUA-Reino Unido-França-2007) de Woody Allen com Ewan McGregor, Colin Farrell, Tom Wilkinson e Sally Hawkins. ☻☻

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