sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

FILMED+: A Árvore da Vida

Em determinada cena de A Árvore da Vida, o pai durão define para o filho o que é subjetivo: “É algo que está na sua cabeça. Algo que não existe!”. Certa vez, li um texto de Ana Maria Bahiana que ressaltava o quanto a experiência de ver um filme é extremamente subjetiva. O que comove, assusta, diverte ou chateia depende somente da forma como você, com todas as suas vivências, interpreta o que o autor propõe durante a projeção. Existem aqueles sentimentos que vivenciamos diante de uma obra que não nos aflige, por isso, muitas vezes, acabamos nos acomodando e comendo a mesma pipoca de um determinado gênero várias vezes. Tive vários amigos que diziam não achar graça em cinema, que não viam nada demais em filmes e que desde o começo já sabiam como o longa acabaria. Não era difícil notar que o problema não estava nos meus amigos, mas nos filmes que estavam vendo. De certa forma, eles estavam vendo os filmes errados e repetidas vezes ao longo da enxurrada de clones que vemos estrear todos os anos. Foi nesse momento que comecei a lhes emprestar o meu acervo pessoal de filmes: tome Spike Jonze, Paul Thomas Anderson, Almodóvar, Darren Aronofsky, Alexander Payne, Wes Anderson – e mais tarde - David Lynch e Lars Von Trier na veia. Apesar do estranhamento inicial, eles começaram a me pedir mais filmes emprestados e passaram a rever seus conceitos enquanto espectadores. Quando acompanhei a trajetória de A Árvore da Vida em Cannes, em meio a aplausos e vaias, eu sabia que o diretor Terence Mallick estava radicalizando seu estilo ao extremo após suspeitarem de sua genialidade ao dirigir, de forma mais tradicional, o pouco elogiado O Novo Mundo (2006). Mallick é diretor de apenas quatro filmes em quarenta anos de carreira e pelo tempo que A Árvore da Vida ficou na ilha de edição (sendo lapidado por cinco pessoas, incluindo o brasileiro Daniel Rezende) dá para se entender o motivo. Quando o filme ganhou a Palma de Ouro em Cannes era como se nascesse para o mundo diante do amor e ódio de quem o assistiu. A Árvore da Vida não tem começo, meio ou fim, mas isso não impede que fale da origem da vida e o fim dela a partir de uma família que tenta lidar com a morte de um filho. A cena da morte não aparece, mas é ela que move as lembranças que vemos e as reflexões (em off) dos membros deste clã enquanto Mallick nos deslumbra com as cenas mais lindas que se viu numa telona durante esse ano. Impregnados de religiosidade, os personagens nos guiam numa jornada sobre a morte e a vida, a criação do mundo, os primeiros seres vivos, e sobre os caminhos da razão e da emoção dos seres humanos. Além da habilidade ímpar de mesclar som (a narração e a trilha sonora são magistrais), o diretor contou com atuações inspiradas de Brad Pitt (que ajudou a viabilizar o projeto e sua projeção em escala mundial) como o pai  contraditório (como todo ser humano) e a esplêndida Jéssica Chastain (meu Deus, que mulher é essa?) como a mãe que é o amor em pessoa. É esta mãe que anuncia os dilemas que perpassam o filme: “Na existe o caminho da natureza e o caminho da graça, cabe a nós escolher qual devemos seguir” é quase uma apresentação do filme. Mas o protagonista da trama acaba sendo o desconhecido adolescente Hunter McCraken (quando adulto ele será vivido por um automático Sean Penn) que vive o filho mais velho que tem momentos de rebeldia diante da dicotomia entre o pai e a mãe. Ele que retoma a ideia da natureza ou a graça quando diz que o pai e mãe estão sempre brigando dentro dele – e sempre estarão. Até as belíssimas cenas finais onde as memórias dessa família se encontram numa praia celestial, Mallick nos guia numa jornada que é uma experiência cinematográfica única e nos deixa livres para amá-la ou odiá-la.  Acho que ele quer dizer que a subjetividade seja a única coisa que realmente exista, embora sejamos todos frutos de uma mesma árvore.

McCraken: reflexões sobre a vida e a morte.

A Árvore da Vida (The Tree of  Life/EUA-2011) de Terrence Mallick com Brad Pitt, Jessica Chastain, Hunter McCraken, Fiona Shaw e Sean Penn. ☻☻☻☻☻

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