segunda-feira, 7 de novembro de 2011

CATÁLOGO: O Sol de Cada Manhã


Cage: problemas na família e ódio do público.

Quem diria que debaixo de toda aquela bobagem de Piratas do Caribe (2003) existia um diretor acapaz de criar coisas mais sensíveis do que um monte de efeitos especiais um sobre o outro? Gore Verbinski surpreendeu muita gente quando lançou seu Weather Man, que recebeu por aqui o nome de O Sol de Cada Manhã (2005). Eu mesmo, lembro que na época olhava para o filme cheio de desconfiança, pensando se tratar de mais um desses besteróis americanos que pretendem agradar a família conservadora e republicana da era Bush. Sorte que assim que ouvimos a narração de Nicolas Cage toda a desconfiança começa a se dissipar, até que nos percebemos totalmente imersos nos dramas da família Spritz. Claro que ajuda muito o fato de Nicolas Cage estar em um ótimo momento. Inspirado, espirituoso, conseguindo equilibrar humor com certa inocência - que lembra muito os filmes de Alexander Payne. Alguém precisa dizer para Cage que ele fica infinitamente melhor em filmes como este do que as palhaçadas de ação em que vive pagando mico durante anos. Nicolas Cage interpreta David Spritz, mais conhecido como o Homem do Tempo de uma rede local de TV. Ele não chega a ser propriamente querido pelo público que vive lhe jogando sorvetes, milk shakes, refrigerantes e qualquer outra bobagem que possa destruir o seu terno (nunca havia pensado que os americanos culpassem esse profissional pelos dias de chuva). Não bastasse esse problema com o público, a coisa também não anda bem com a família. David ainda não se recuperou do divórcio e o fato da ex-mulher (a sempre confiável Hope Davis) ter arranjando um novo marido muito mais atencioso do que ele logrou ser. Sentindo que está perdendo território com os filhos, ele começa a sair mais com a filha com problemas de auto-estima e conversar com o filho (Nicolas Hoult) que está prestes a se meter em encrenca. Mas no grupo de relações de Spritz, ninguém supera seu pai. Robert Spritzel (Michael Caine, em mais uma brilhante atuação) é um famoso escritor que deixa claro em cada gesto e olhar a decepção que tem ao ver seu filho como um adulto que ainda não encontrou o rumo - e o fato de descobrir que esse pai inatingível está com câncer não faz as coisas melhorarem para David, apesar da promessa de um emprego melhor em outra emissora. Sei que parece um dramalhão, mas O Sol de Cada Manhã é uma comédia de humor negro, porém, apesar de todo o humor, Verbinski nunca deixa a coisa sair do tom melancólico que transborda até da fotografia azulada que destaca o frio na história (até a cena em que aparece o Bob Sponja dá vontade de chorar). Embora subestimado e rejeitado nas premiações, o fime cumpriu exatamente a sua função que era de mostrar que Verbinski sabia explorar as camadas mais complexas de seus personagens. Há quem considere o filme pessimista, mas percebo que é totalmente o oposto disso ao se preocupar em retratar pessoas comuns procurando o sol que se esconde entre as nuvens cor de chumbo.

O Sol de Cada Manhã (The weather Man/EUA-2005) de Gore Verbinski com Nicolas Cage, Michael Caine, Hope Davis e Nicolas Hoult.  

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