sábado, 15 de outubro de 2011

FILMED+: Garotos Incríveis

Douglas: um sujeito que ensina e que ainda tem o que aprender.

Meus colegas de profissão vão querer me matar quando virem que no Dia dos Professores (que nem tem tanta graça este ano, já que caiu num sábado!!!) eu postei elogios a um filme com um professor que está longe de ser exemplar. Garotos Incríveis não é um filme de professor como estamos acostumados a ver (aquelas tramas edificantes sobre o professor que irá ensinar a um bando alunos desajustados o que devem fazer), para falar a verdade é mais do que um filme de professor, trata-se de um filme sobre pessoas em geral - estes seres-humanos esquisitos cheios de manias, fraquezas, contradições e surpresas.  Curtis Hanson estava no auge quando resolveu adaptar o delicioso livro de Michael Chabon para o cinema. Hanson emoldurou a trama como deveria, com uma levada libertária digna da década de 1960 - mesmo com a trama ambientada no século XXI (a trilha conta com Neil Young, Leonard Cohen e até Bob Dylan cantando a música tema "Things have changed" que ganhou o Oscar e o Globo de Ouro). Ambientado na Universidade de Pittsburgh, os personagens são pessoas intelectualmente privilegiadas e que possuem um lugar ao sol no mundo da literatura e quem não possui, pelo menos, ambiciona! A trama acontece numa semana especial para esse espaço acadêmico, onde a faculdade recebe a visita de editores dispostos a descobrir novos talentos e é nesta semana tão especial (a Semana da Palavra)  que o professor Grady Trip (Michael Douglas, no papel de sua vida) é abandonado pela esposa e terá que lidar com uma série de situações inesperadas. Não bastasse Trip ser amante da reitora (Frances McDormand, num papel mais charmoso que o habitual) e descobrir que ela está grávida, ele ainda enfrenta o assédio de uma aluna escritora prodígio (Katie Holmes, em um de seus raros bons momentos) e os conflitos com um promissor jovem escritor problemático, James Leer (Tobey Maguire antes de ser Spider Man). Mas todos esses problemas são externos ao mundinho particular de Trip, já que ele ainda receberá a visita de seu editor (Robert Downey Jr.) que está há anos esperando pelo seu novo e aguardado livro. Desde que lançou seu primeiro romance (o cultuado 'A filha do Incendiário') que Trip não entrega um novo trabalho, e se levarmos em consideração que isso já faz sete anos, sabemos que há algo de errado com Trip. Apesar do tempo ter passado, o professor Trip continua preso à uma insegurança quase adolescente que o impede de fazer escolhas (e isso fica muito bem ilustrado quando descobrimos que seu novo e interminável livro já ultrapassa as duas mil páginas) o que afeta diretamente sua inspiração e relaciomento com quem está aos seu redor. Entre essa dificuldade de tomar as rédeas da vida e um baseadinho aqui e ali - além de constantes "blecautes",  Trip conduz sua vidinha até que o criativo (até demais) James começa a envolvê-lo em uma encrenca atrás da outra (um cachorro assassinado, um casaco valioso roubado, mentiras, invasão domiciliar e o assédio do editor gay). Se anteriormente Hanson já havia demonstrado talento em lidar com vários personagens e tramas paralelas de LA Confidential (1997), aqui ele faz a festa com um material rico e infinitamente mais leve. Com atuações inspiradas do elenco encabeçado por Douglas (que alcança aqui uma atuação inacreditável), Hanson conseguiu fazer outra obra-prima. Para quem está cansado de explosões, efeitos especiais em excesso e atores metidos a engraçadinhos o filme é uma grande satisfação! Mesmo sem grandes reviravoltas, o filme consegue trabalhar as surpresas da narrativa sem . sair do tom. Inteligente e divertido, o longa pode parecer uma comédia maluca bem produzida, mas na verdade é um verdadeiro manifesto contra ficar em cima do muro. E ficar em cima do muro, definitivamente não é coisa de Curtis Hanson. Depois deste aqui conseguiu sucesso (e elogios) dirigindo 8 Mile (2002) protagonizado pelo rapper Eminem, um filme de contornos femininos com memorável atuação de Cameron Diaz (Em Seu Lugar/2005)  e caiu na besteira de achar que Eric Bana daria conta de cativar em seu Bem Vindo ao Jogo (2007). Sumido por um tempo, Hanson voltou à ativa com o filme televisivo Too big to fail (2011) que concorreu a onze prêmios Emmy. Para quem está com saudade do cara na tela grande, ele prepara para o ano que vem o drama esportista Of Men and Mavericks com Gerard Butler e Elizabeth Shue... hummm... ainda acho que L.A confidential e Wonder boys serão seus melhores filmes por muito tempo!

Garotos Incríveis (Wonder Boys/EUA-2000) de Curtis Hanson, com Michael Douglas, Tobey Maguire, Frances McDormand, Robert Downey Jr., Katie Holmes, Rip Torn, Jane Adams, Michael Cavadias e Alan Tudyk.

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