quarta-feira, 5 de outubro de 2011

DVD: Há Tanto Tempo que te Amo


Elsa e Kristin: irmãs reatando laços.

Uma atriz que admiro muito é Kristin Scott Thomas, lembro quando a vi a primeira vez em Lua de Fel (1992) de Roman Polanski num papel pequeno - esposa de Hugh Grant. Fiquei instigado com aquela atriz que não tinha medo de fazer pose de antipática enquanto a esposa de Polanski, Emanuelle Seigner era "a gostosa" do longa. O filme estava longe de ser perfeito, mas Kristin já mostrava que podia fazer bonito num papel maior. Ele em Quatro Casamentos e Um Funeral (1994), cultuada comédia assinada por Mike Newell - onde dessa vez fazia uma antipática refinada e com destaque na trama (ser apaixonada por Hugh Grant!). Não demorou muito para Kristin ser indicada ao Oscar quando foi escolhida para ser a heroína de O Paciente Inglês (1996). Curiosamente sua carreira ganhou prestígio, mas não decolou, nem adiantava trabalhar com nomes como Robert Redford (O Encantador de Cavalos/1998) ou Harrison Ford (Destinos Cruzados/1999) se os roteiros frouxos não ajudavam. A atriz foi recebendo papéis de pouco destaque com o passar dos anos - sempre com performances esforçadas-, mas quem é fã da atriz britânica teve que se contentar com papéis pequenos até que a atriz se aventurou pelo cinema francês em Há Quanto Tempo que Te Amo (2008) do diretor estreante Phillipe Claudel. Não é por que eu sou fã, mas a atriz alcança um momento excepcional em sua carreira como a ex-presidiária que tenta reconstruir a vida enquanto mora com a irmã, o cunhado e as sobrinhas. Pela atuação Kristin foi (merecidamente) indicada ao Globo de Ouro. Trata-se de uma personagem difícil, pesada, mal-humorada, com repentes de ira e tudo mais. É impressionante como a atriz consegue sintetizar o estado de espírito de sua personagem já nas primeiras cenas, quando o diretor lhe reserva closes que mostra o quão sem energia aquela mulher está. Mas os méritos não são apenas da atriz, sua parceira em cena, Elsa Zylbertein, também alcança momentos sublimes como a irmã bem intencionada, que coloca seus sentimentos fraternais acima de qualquer atitude da irmã. Afinal de contas, são irmãs, possuem uma história em comum, um sentimento que persiste apesar de todos os fatos que aconteceram. Claudel não se esforça em fazer um filme de grandes recursos visuais, trata sua trama com sobriedade, ritmo lento e com cenas que terminam antes do esperado, mas não perde o foco do roteiro - que parece uma reflexão sobre uma espécie de "cartilha do ex-presidiário". Os encontros com a família, as desconfianças que surgem, a busca de um emprego, os encontros com a assistência social, a primeira relação sexual (depois de quinze anos de enclausuramento), a diferença é que o olhar sobre esses fatos é sempre o de Juliette - que evita ter pena de si e falar sobre a tragédia que a levou para a prisão. Na verdade, o drama do longa é contado como um quebra-cabeça, onde as peças surgem aleatóriamente e que buscamos encaixar aos poucos. A desconfiança que se instaura no público se dissipa aos poucos quando a personagem reencontra um rumo para sua vida e ajusta os pontos com a nova fase em que se encontra. Esta fase começa se torna mais fácil para a personagem quando a trama começa a dedicar espaço para os dramas de quem a cerca, desde a mãe senil que se encontra num azilo, um intelectual viúvo e (com visíveis interesses amorosos) e um assistente social atencioso e depressivo. Sem apelar para o dramalhão, nem quando todas as circunstâncias do crime são expostas, o filme resulta num longa construído sobre pessoas comuns lidando com a força das circunstâncias que fugiram do controle e a busca de alguma redenção (mesmo que ela pareça cada vez mais distante).  

Há Tanto Tempo que Te Amo (Il y a Longtemps que je T'Aime/ França-2008) de Phillipe Claudel, com Kristin Scott Thomas, Elsa Zylberstein, Serge Hazanavicius e Laurent Grevill.

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