domingo, 4 de setembro de 2011

DVD: Em Um Mundo Melhor


Os dois amigos: pessimismo em tom pacifista.

Ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro neste ano, Em um Mundo Melhor está chegando nas locadoras e vale a pena ser conferido, mas não espere muita coisa. Não que a produção dinamarquesa seja ruim, mas todos os ingredientes utilizados na produção me deixaram com a sensação de "já vi esse filme", talvez não com a cadência lenta impressa pela diretora Suzanne Bier ou com a bela fotografia que podemos conferir nas cenas, mas nada me pareceu muito original. Os admiradores do filme (que ainda foi premiado com o Globo de Ouro de Filme de Língua Estrangeira) costumam ressaltar sua poesia em pregar a tolerância, mas acho que Bier não soube aproveitar o material que tinha em mãos. Pra começar o filme é centrado em dois garotos,  Anton (Mikael Persbrandt) é  apelidado de "cara de rato"  pelos colegas e sofre bullying (alguém ainda aguenta falar disso?) dos valentões da escola. O garoto é um solitário e o único amigo que consegue é um menino inglês recém chegado - Christian (William Johnk Nielsen), que recebe as boas vindas com uma bolada na cara. Mal sabem os valentões que o novo aluno está longe de ser passivo como o perseguido - e responde à violência com mais violência. Se por um lado existe algo de assustador na postura do inglesinho, existe ainda o contraponto desta trama infanto-juvenil com a do pai de Anton, Claus(vivido com competência por Ulrich Thomsen) é um médico que trabalha em um país africano - que além de sofrer com a miséria ainda padece na mão de malfeitores ditatoriais que violentam crianças mesmo depois que estão mortas. O interessante da trama nasce da sobreposição desses dois núcleos, já que o médico pacifista percebe a violência crescer nos dois meninos e chegando ao extremo no local onde trabalha. Só este ponto já possuiria força suficiente para segurar o filme, especialmente quando no imaginário dos moleques a educação e pacifismo do médico soam como fraqueza - sobretudo quando este procura um homem que o agrediu somente para apanhar mais um pouco na frente das crianças.  Embora Bier seja cheia de boas intenções ao contruir um filme desses, o resultado é tedioso por bater sempre na mesma tecla, mesmo que caminhe cada vez mais para um final feliz. Nada contra um happy end, o problema é que ao mergulhar em tantos clichês pessimistas o resultado final está longe de deixar a sensação de que há algo bom a ser tirado de tudo isso. Fora isso existem outras coisas que me incomodam no filme, os africanos mostrados mais uma vez em sua miséria financeira e humana - com crianças correndo atrás dos carros que carregam os brancos para dentro e fora deste universo que parece paralelo ao nosso (quantos filmes já te deram essa sensação?), a escola sempre passiva diante das agressões vividas por seus alunos, a internet como a porta do inferno, os pais solitários e infelizes como se o destino houvesse feito as escolhas por eles. Repetir o que outros já disseram me parece covardia, agrava mais ainda essa sensação por Bier não entregar nada de novo ou realmente original num filme onde um garoto cheio de mágoas é tratado como um pequeno terrorista. Se Bier tem o maior capricho com as locações naturais, não se pode dizer o mesmo com os personagens, eles parecem habitantes de uma trama sem sujeitos, sendo guiados por impulsos agressivos descerebrados. Isso só aponta o tal médico como herói e que seu jovem filho deve seguir o mesmo caminho - talvez por herança genética [sic]. Não é um filme ruim, mas também não é bom, imagino como ele ficaria na mão de um diretor mais vigoroso que não se contenta em dizer que o mundo se divide entre os que batem e os que apanham.

Em um Lugar Melhor (Haevnen/Dinamarca-2010) de Suzanne Bier com Ulrich Thomsen, Mikael Persbrandt e Gabriel Muli. ☻☻

Nenhum comentário:

Postar um comentário