domingo, 31 de julho de 2011

CATÁLOGO: Houve Uma Vez Dois Verões


Arteche e Mainieri: Gravidez toda quarta-feira.

Acabadas as férias de meio de ano me lembrei que que não fiz nenhuma menção aos filmes de férias, ou coisa parecida. Hibernei mais do que qualquer coisa nesta semana. Está certo que como dá para perceber o filme em questão não trata de férias de inverno, mas de verão, mas vale a pena rever o primeiro longa metragem de Jorge Furtado, que trouxe fôlego para um gênero ainda pouco explorado no cinema brasileiro: o filme para adolescentes. Não falo dessas bobagens caça-níqueis bancada por canais de televisão e com aquela cara de especial de fim de ano, mas um filme mesmo, com cara de cinema. Estes ainda somam poucos em nossa produção anual. Quando Jorge  Furtado lançou seu primeiro longa ele já era mais do que reconhecido como um dos melhores cineastas de nosso país, afinal seus curta-metragens são multi-premiados, consagrados e mais completos do que muitos longas que estreiam toda semana. Quando Dois Verões estreou eu ainda estava na faculdade e lembro que muitos amigos falaram dele por muito tempo e, apesar de não haver nada de revolucionário em sua trama, existe aquela guinada esperta que Furtado já demonstrou em seus longas seguintes (O Homem que Copiava/ e o hilariante Saneamento Básico/). Trata-se de um filme de férias e para adolescentes, espera-se aqueles romances temporários e intensos que chegam ao fim junto à volta para casa - ou então aquela tentativa de manter o romance em meio às dificuldades da distância e as distrações cotidianas. A diferença de ter Furtado na escrita do destino de seus personagens é que, como na maioria dos filmes de tipo, uma parte do casal é cheio de boas intenções e quer manter o vínculo - mesmo que a outra parte não demonstre ser muito merecedora. A trama é mais ou menos assim: Chico (André Arteche) vai para uma praia no litoral gaúcho com seu amigo Juca (Pedro Furtado), os dois tem que lidar com os hormônios à flor da pele e o sucesso modesto com as garotas. É quando Chico conhece Roza (Ana Maria Mainieri) e tem uma noite de amor na praia. Depois ela some e quando reaparece anuncia uma gravidez indesejada - e a postura escorregadia da garota só ressalta que tudo não passa de um golpe. Mas será mesmo? Ao falar sobre o amor, a graça mesmo está nas ironias do roteiro, a começar pelo nome da garota, Roza - assim mesmo, com Z, era de se suspeitar que seus sentimentos sejam tão verdadeiros como uma flor de plástico (e o seu hábito de "engravidar toda quarta-feira"). O mais interessante é quando todos os sentimentos nobres parecem perdidos de vez, Furtado enfilera piadas espertas e mantem a narrativa num tom de comédia romântica de forma surpreendente e legítima. Há de se elogiar os então novatos André Arteche e Ana Maria Mainieri, que conseguem explorar aspectos ambíguos de seus personagens com a maior leveza e que trazem para além da superfície a sensação de estarmos diante de um casal que simplesmente cresce diante do que sentem um pelo outro. Deastaco ainda a trilha sonora que conta com bandas regionais e até uma ótima versão de Cássia Eller para "Nasci para Chorar". Pode não ser uma obra-prima ou revolucionar o cinema nacional, mas mostra que é possível fazer filmes para adolescentes subvertendo as expectativas dos espectadores, resultando num filme de férias dos mais agradáveis.

Houve uma Vez Dois Verões (Brasil/2002) de Jorge Furtado, com André Arteche, Ana Maria Mainieri e Pedro Furtado. ☻☻☻

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