domingo, 1 de maio de 2011

DVD: Brilho de Uma Paixão

 Wishaw e Cornish: sofrendo nas mãos do amor romântico.

Brilho de Uma Paixão é um filme que prometia fazer bonito nas premiações no ano passado, mas desde que estreou em Cannes notava-se que algo tinha desandado em seu contato com o público. Na minha humilde opinião, isto ocorre porque a diretora Jane Campion (O Piano) teve a coragem de fazer um filme em ritmo de poesia, cheio de significados implícitos, metáforas e sutilezas. Existem cenas em que a ausência de diálogos já as fazem parecer com versos. Tanto cuidado não ocorre por excesso de virtuosismo ou experimentação, isso nós percebemos logo, já que o filme é narrado de forma bem simples e clássica chegando a parecer uma adaptação recente da obra de Jane Austen. Mas o filme é pautado na obra do poeta romântico e inglês John Keats (1795-1821) e carrega o título do poema que escreveu para sua amada musa inspiradora, a jovem estilista Fanny Browne (1800-1865).Graças a este romance que Keats produziu suas melhores obras, sendo reconhecido atualmente como um dos maiores autores do romantismo. Para muitos críticos, o filme se resume a dois aspectos principais: a atuação de Abbie Cornish no papel de Browne e os figurinos indefectíveis de Jannet Patterson. Tenho que admitir que gostei mais do filme quando o revi em DVD e posso me arriscar a dizer que capta o espírito do romantismo como poucos, já que mostra a nobreza dos sentimentos em contraste com as convenções sociais rígidas e a realidade social de contrastes da Inglaterra no século XVIII. Keats (Ben Wishaw, ator que espero ter seu talento reconhecido em breve) é um poeta que enfrenta problemas financeiros que sem posses ou vendas animadoras vive às custas de seu amigo Charles Brown [!?!] (Paul Schneider) - que também é poeta mas de uma grosseria notável e impressionante zelo por Keats . Como desgraça pouca é bobagem, John ainda tem um irmão doente que morrerá em breve. É quase por intermédio deste que começa a se afeiçoar à jovem Fanny (Abbie Cornish, que recentemente pagou o mico de estar em Sucker Punch  de Zack Snyder). Fanny e John tecerão uma relação cheia de carinhos, versos e restrições. Ambos sabem que a situação financeira do rapaz não permite, sequer, que fiquem noivos, mas mesmo assim se entregam ao sentimento - ainda que cheios de pudores, ou conforme ele mesmo diz, "escrúpulos". Mesmo assim, se contentam que ao invés de se entregarem aos prazeres da carne, se entreguem ao poder da poesia. Com belas cenas, fotografia caprichada e atuações competentes o filme caminha para o final tristonho que desde o início se anuncia. Talvez por ser tão abstrato quanto a poesia, muita gente não tenha entendido a narrativa a que o filme se propõe (ou até entendeu, mas não gostou do resultado). Embora Campion se dedique a fazer um filme diferente, no fim das contas é um filme romântico melancólico e que fica mesmo na memória pelo seu par principal, especialmente Cornish que despedaça nosso coração perante as restrições a que uma moça de família devia se submeter (dá para acreditar que Cornish não foi sequer indicada ao Oscar no ano em que Sandra Bullock ganhou a estatueta?). Obviamente que os figurinos são uma atração a parte, mas além de bonitos e curiosos (conheço um bando de garotas que usariam aqueles vestidos facilmente) dialogam com as sensações da personagem: os coloridos no início, o rosa no dia dos namorados, o branco da reconciliação, o negro da belíssima cena em que Fanni recita sua poesia no vazio branco do inverno. 


Brilho de Uma Paixão (Bright Star - Austrália/2009) de Jane Campion, com Abbie Cornish, Ben Wishaw, Kerry Fox e Paul Schneider. ☻☻☻

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