sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

CATÁLOGO: Psicopata Americano

Christian Bale: A casca saudável de um monstro.

Christian Charles Phillip Bale estreou no cinema nos idos de 1987 aos 12 anos em Império do Sol e hoje com mais de trinta filmes no currículo é um dos poucos casos de atores mirins que conseguiram se manter na carreira. Desde a estréia Bale deixava claro que não estava disposto a ser um ator jovem e agradável com bochechas rosadas, afinal, ele se empenhava no papel de um moleque rico e antipático que se perde em meio à Segunda Guerra Mundial. Antes de ser escolhido para encarnar o Homem morcego em Batman Begins (2005), o cara havia se dedicado a produções pequenas ou alternativas (como a versão de Adoráveis Mulheres feita em 1994 com Winona Rider ou o glam Velvet Golmine de 1998), mas nenhuma delas lhe deu o status que Psicopata Americano lhe ofereceu. Pra começar quando a cineasta Mary Harron resolveu filmar o polêmico livro de Brett Easton Ellis noventa por cento dos jovens atores de Hollywood quiseram o papel, inclusive Leonardo DiCaprio que faria deste seu filme pós-Titanic. A repercussão foi tão grande, a verba de produção inchou, os interesses cresceram, o roteiro foi mutilado e... Harron ameaçou sair da direção. Como não encontraram ninguém com estômago para lidar com a empreitada, DiCaprio caiu fora e Harron brigou pelo ator que havia pensado desde o início: (o galês) Christian Bale. Bale era um ator mais cult do que famoso e aceitou de bom grado o papel o qual lhe caiu realmente como uma luva. Bale é Patrick Bateman, um yuppie (figura urbana muito comum na década de 1980, que consistia num jovem bem sucedido, sofisticado e bem de vida) mas que debaixo de toda a casca de bem estar esconde um monstro. Bateman é capaz de pensar em matar alguém só porque o cartão de apresentação é mais arrojado, ou até mesmo porque o apartamento se localiza num lugar mais caro. Por que? Oras, como ele pode se considerar bem sucedido se existe alguém melhor do que ele? Bale consegue dar um senso de humor sádico a tudo isso - e o roteiro de Harron ajuda muito nessa tarefa. Impossível conter o estranhamento quando ele começa a falar sobre artistas típicos da década de 1980 (sim, trata-se de um filme de época!) como Whitney Houston (!) ou quando se encontra com sua noiva patricinha (Reese Whiterspoon, em um papel igual ao que fez em Legalmente Loira alguns anos depois) e parece ser torturado cada vez que ela abre a boca. A loucura de Bateman só cresce e ele começa a fazer cada vez mais atrocidades, seja matando colegas bem sucedidos, mendigos ou torturando prostitutas com arames ou serra elétrica. Apesar de toda a perfeição que exibe (inclusive a física) Bateman é completamente oco em seu caos interno. Rumo ao final suas atrocidades ficam cada vez mais absurdas (como explodir um carro quase que por acidente) e ao final não sabemos até que ponto sua loucura é real. Sorte que no meio do caminho ele conhece uma secretária (Chloe Sevigny) que mostra que debaixo de tanta loucura ainda existe um pequeno traço de humanidade, ainda que este traço seja imperceptível. Fascinante é a forma como Bale abraça toda essa jornada por uma mente perturbada sem pudores onde a única certeza é o desespero de um mundo de aparências ao som de  Information Society.

Psicopata Americano (American Psycho/EUA-2001) de Marry Harron com Christian Bale, Chloe Sevigny, Reese Whiterspoon, Jared Leto e Willem Dafoe. ☻☻☻☻

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