domingo, 2 de janeiro de 2011

DVD: Um Olhar do Paraíso


Tucci e Ronan: Bons atores num filme em ponto morto.

Considero um bom diretor aquele cara que sabe o que quer fazer num filme e consegue contar isso numa tela de forma harmônica com os demais envolvidos. A maioria desses que conseguem agradar o público até ganham Oscars e, com ele, liberdade para fazer projetos cada vez mais ambiciosos. Talvez por isso o caso de Peter Jackson me instiga. O neozelandês sempre teve atração pela fantasia, não fantasias infantis, mas que apelam para o sombrio. Foi assim que nasceu sua repercussão no insano Fome Animal (1992), ganhou status com uma indicação ao Oscar de roteiro original no verídico Almas Gêmeas (de 1994, que revelou Kate Winslet), o levou para Hollywood em Os Espíritos (1996) e gerou o seu auge oscarizado da trilogia Senhor dos Anéis (2001, 2002 e 2003). Depois das bilheterias robustas e elogios seu projeto seguinte foi refilmar King Kong (2005). Encarei isso como um passatempo de alguns milhões de dólares. Em 2008 ele resolveu adaptar o livro The Lovely Bones, que é narrado por uma menina que é violentada por um vizinho e contempla a dissolução de sua família enquanto não descansa em paz. Essa premissa está longe de parecer atrativa para o grande público, mas Peter Jackson tinha nome suficiente para fazê-la um sucesso, ainda mais que agregou nomes de gabarito como a prodígio Soirse Ronan (indicada ao Oscar de coadjuvante por Desejo e Reparação), Rachel Weisz (Oscar de coadjuvante por O Jardineiro Fiel), Mark Wahlberg (indicado ao Oscar de coadjuvante por Os Infiltrados - assumindo o posto que era de Ryan Gosling), Susan Sarandon (Oscar de Atriz por Os Últimos Passos de um Homem) e o sempre correto Stanley Tucci (que merecia maior atenção por O Diabo Veste Prada). O problema é que Jackson parece não saber muito bem qual história quer contar. Jackson acerta no tom inicial, onde mostra as expectativas Suzie Salmon, uma garota de 14 anos (Ronan) na década de 1970 diante da vida adulta que se anuncia junto aos interesses amorosos. Essa promessa de futuro é rompida com o plano de um vizinho solitário (Tucci) que começa a nutrir uma bizarra atração pela menina. Jackson consegue equilibrar drama e suspense até esse momento com perfeição, mas começa a errar a mão na parte em que antes era um mestre: a fantasia. Quando suspeitamos que a garota foi morta o diretor nunca deixa claro onde a garota está, parece presa num mundo imaginário - e proporciona cenas que nem sempre funcionam. Embora existam algumas idéias bem sacadas na influência da defunta no mundo dos vivos, esse miolo deixa a impressão que após terminada as filmagens o diretor achou que tudo estava muito sombrio e tentou criar um apelo cômico para a trama com delírios adolescentes e a presença de uma avó maluquete (Sarandon) - mas isso acaba desviando o foco da narrativa quando ele deveria se concentrar na menina diante do impacto de sua morte nos laços de sua família. Enquanto o pai (Wahlberg, esforçado) tenta descobrir a identidade do assassino a mãe acaba abandonando a família, mas tudo é mostrado superficialmente, sem explorar os tons que tornaram o início do filme tão atraente. Curiosamente é nesse momento que a presença do vilão parece um refúgio para a platéia. Encarnado pelo eterno coadjuvante Stanley Tucci, o vizinho é capaz de provocar arrepios a cada aparição, principalmente quando percebemos que aquele sujeito que se finge agradável está à espreita da irmã de sua última vítima. Quando o filme chega em seu ponto morto, é Tucci que faz as coisas funcionarem (já que todos os personagens parecem abandonados pelo caminho, até mesmo a protagonista) e por isso foi o único lembrado no Oscar (de coadjuvante) do ano passado nessa produção. Quando as coisas voltam a entrar nos trilhos o espectador já está um bocado aborrecido de ver que até um diretor consagrado como Jackson é capaz de tropeçar em sua pretensão e não perceber que está errando a mão na boa história que tinha em mãos.

Um Olhar do Paraíso (The Lovely Bones / EUA - 2008) de Peter Jackson com Saoirse Ronan, Stanley Tucci, Rachel Weisz, Mark Wahlberg e Susan Sarandon.

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