segunda-feira, 13 de setembro de 2010

DVD: Um Homem Sério

Stuhlbarg: pensando que Deus é uma Lei da Física.

A primeira vez que ouvi falar do último filme dos irmão Coen diziam que era uma espécie de adaptação do Livro de Jó para a década de 1960. Depois ouvi dizer que a dupla de manos mais bacana do cinema americano estava apenas querendo fazer troça de suas raízes judaicas em mais uma comédia estranha. Sinceramente, não sei qual dessas duas opiniões me despertaram mais interesse por Um Homem Sério, a última cria de Joel & Ethan. a empreitada valeu aos dois vagas no Oscar desse ano nas categoria de melhor filme e roteiro original, infelizmente a Academia resolveu ignorar completamente a alma do filme dos caras, o desconhecido Michael Stuhlbarg (que recentemente pude conferir irreconhecível em Almas à Venda). Devo confessar que prefiro quando os Coen dirigem comédias (e devo explicar que por inúmeros fatores eu considero o melhor filme dos caras, Fargo uma comédia), principalmente pelas referências retrôs que utilizam e o tom de estranhamento que colocam em cada detalhe em cena. Stuhlbarg encarna com perfeição o professor de física Larry Gopnik, um cara em busca de respeito e que tenta manter a sua vida sob o maior controle possível, tal e qual consegue organizar as suas equações assustadoras diante dos alunos. O problema é que ele vai descobrir que a vida é mais complicada que a pior das equações, afinal quem pode adivinhar as adversidades que encontraremos pelo caminho? Mas talvez o pior seja buscar por uma explicação plausível mesmo quando ela não dá a mínima evidencia de que exista (e acho que essa é a idéia do inusitado epílogo do filme). Gopnik irá atravessar uma maré de azar assim que um aluno coreano lhe oferecer suborno, daí em diante vai tudo ladeira abaixo. Sua esposa pedirá divórcio, seu filho irá se encrencar com compra e venda de maconha, seu irmão matemático será procurado pela polícia por uma fórmula maluca (que parece ser um cálculo que estabelece uma sequência de acontecimentos, mas que todos ignoram - menos o filho maconheiro). A alma do filme, como eu já disse é Stuhlbarg que consegue dar dignidade ao seu personagem mesmo nos momentos em que ele poderia parecer um idiota completo. Ninguém procura explicações com três rabinos diferentes como ele! Ninguém banca o funeral de um sujeito que merece seu desprezo como ele! Ninguém almeja ser sério e respeitado como ele! Sua fala mansa esconde um sujeito prestes a explodir diante do caos em que sua vida se transformou. Se ele acha que no fim tudo se ajeita e que uma leve concessão não terá consequências, as coisas podem piorar ainda mais. Não que exista uma relação de causa e efeito nos acontecimentos - isso já fica por conta do expectador que embarcar em mais essa graça genial dos Coen.

Um Homem Sério (A Serious Man/EUA-2009) de Joel & Ethan Coen, com Michael Stuhlbarg, Richard Kind, Fred Melamed e David Kang.
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