quarta-feira, 22 de setembro de 2010

DVD: Legião


Bettany: Um anjo Miguel hardcore

A Bíblia diz que Deus criou o homem sua imagem e semelhança. Vários séculos depois o sociólogo Émile Durkheim (1858-1917) realizou uma sábia observação que numa sutil alteração mudava todo o sentido dessa sentença: O homem faz de Deus sua imagem e semelhança. Assim, ele ficou mais próximo do que podemos observar ainda hoje nos jornais: guerras santas, extremismos, preconceitos e todo tipo de coisa que está longe de figurar entre os preceitos divinos, mesmo que sejam praticados em nome Dele. Durkheim não foi ao extremo como Nietszche (1844-1900) que décadas depois declarou que Deus estava morto e entre os motivos estava sua decepção com a humanidade. Toda essa casca filosófica serve comentar um dos filmes mais aguardados e mais criticado do ano: Legião. Pra começar o mérito maior do filme (e motivo principal de tê-lo visto) é Paul Bettany. O moço é a espinha dorsal do filme do diretor Scott Stewart ao personificar o anjo Miguel numa trama estapafúrdia que beira o ridículo.  Desde o início a trama induz a pensar que Miguel é um anjo caído, tal e qual Lúcifer. Sem dizer nada ele corta suas asas e rouba uma pilha de armas antes de ser abordado por alguns policiais visivelmente alterados. Logo saberemos qual é a missão desse anjo sem asas, proteger uma garçonete que trabalha numa lanchonete perdida no meio do nada e que nem faz ideia que será alvo de uma batalha do extermínio angelical da raça humana. Não entendeu? Deus se revoltou com a humanidade e liberou os anjos para dar cabo da humanidade, especialmente o bebê que a tal garçonete está esperando. Por que o bebê é tão importante assim? Isso não fica muito claro, assim como muitas coisas no filme. O filme poderia até deixar umas coisas no ar se fosse melhor escrito, mas do jeito que está tudo fica meio apressado e despropositado ao final das contas - chega a irritar ouvir Miguel falando que deu à Deus o que ele precisava numa reviravolta brusca na trama. Além de Bettany o filme conta ainda com Dennis Quaid como o dono da tal lanchonete e pai do bom moço vivido por Lucas Black (que depois da bosteira de Velozes e Furiosos 3 parece estar disposto a ser levado a sério) que é apaixonado pela garçonete grávida de outro homem nunca revelado. Apesar da sinopse promissora muito da força narrativa do filme se perde após o primeiro ataque à lanchonete. Dramas rasos vão surgindo, os personagens começam a tagarelar falando de suas vidinhas confusas e as cenas de ação vão ficando cada vez mais repetitivas. Sorte que Bettany está lá para nos fazer acreditar que vale a pena ver o filme até o final, o problema é quando o filme chega ao final e percebemos que uma ideia tão boa foi mal aproveitada depois do início promissor. O filme saiu direto em DVD no Brasil após decepcionar nas bilheterias americanas, mas consegue ser mais interessante que a maioria dos filmes que entram em cartaz por aqui.

Legião (Legion/EUA-2010) de Scott Stewart com Paul Bettany, Lucas Black, Dennis Quaid e Adrianne Palicki.

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