sábado, 14 de agosto de 2010

DVD: ILHA DO MEDO

DiCaprio: Dois sucessos, dois homens entre a realidade e a imaginação.

Nunca pensei que um dia Leonardo DiCaprio estaria em dois dos melhores filmes de um ano, talvez só nos idos tempos de Gilbert Grape (1993), que lhe deu sua primeira indicação ao Oscar na categoria de coadjuvante. Mas depois ele foi tragado pela fama e teve que se tornar galã de mais caras e bocas do que propriamente atuações marcantes. Sorte que o cara andou se metendo com Martin Scorsese e começou a mostrar que podia ser levado a sério. A primeira vez é sempre mais difícil e ele acabou deixando a desejar rechonchudo num duelo com Daniel Day Lewis em Gangues de Nova York (2002), da segunda vez fui um daqueles que o consideraram jovem demais para ser Howard Hughes em O Aviador (2004), mas a Academia fingiu não ligar, lhe deu uma indicação e... só. A coisa não ficou muito melhor no oscarizado Os Infiltrados (2006), já que os atores tinham pouco a fazer num jogo de gato e rato onde as ironias do roteiro eram as protagonistas, mas DiCaprio estava correto ao ponto de ser indicado ao Oscar por sua atuação em outro filme: Diamante de Sangue  de Edward Zwick, lançado no mesmo ano. Em 2010, a parceria com Scorsese chegou ao quarto elemento: Ilha do Medo. Um nome pouco apropriado para o original Shutter Island. De cunho psicológico o filme foi adiado no lançamento previsto para o ano passado e acabou chegando aos cinemas em março desse ano, se tornando o filme de maior bilheteria da carreira de Scorsese. Foi justo? Foi, está certo que o filme está longe de ser genial como Taxi Driver ou Touro Indomável, mas Scorsese consegue construir um clima claustrofóbico com maestria e com um tempero de paranóia que só a época de caça às bruxas comunistas é capaz de ter. Baseado no livro de Denis Lehanne (que tem um verdadeiro fetiche por tramas com crianças maltratadas) o filme se passa numa ilha sanatório, onde dois agentes federais (DiCaprio e Mark Rufallo) vão investigar a fuga de uma paciente (Emily Mortimer) reponsável pelo assassinato dos filhos. Não bastasse se passar num sanatório, o filme tem um clima estranho, onde todo mundo parece estar escondendo alguma coisa, dos loucos aos médicos (Ben Kingsley e Max Von Sydow). Enquanto a paranóia cresce nós tentamos juntar os pedaços para saber o que o protagonista nervozinho está realmente fazendo ali. Seria uma armadilha por suas ligações com comunistas? Estaria ali em busca do incendiário (Elias Koteas) que matou sua esposa (Michelle Williams)? Se contar mais estraga. Mas podemos dizer que o cara vive sonhando com a esposa morta e com seus fantasmas da Segunda Guerra Mundial, o que somado ao seu nível de estresse não torna nosso herói muito confiável. Scorsese capricha no elenco que lhe retribui com atuações precisas (ainda podemos ver Patricia Clarkson e Jakie Earle Haley em magníficas participações), sem falar na estupenda trilha sonora compilada por Robie Robertson que nos coloca no clima logo no início. No entanto, apesar das ousadias muita coisa fica postiça no filme, especialmente a surpresa. Falta sutileza ao final que faz tudo parecer uma pegadinha, uma pegadinha classuda - afinal falamos de Scorsese - mas ainda assim uma pegadinha. Sorte que é nesse momento que DiCaprio tem seus melhores momentos na projeção, mantendo a dignidade do personagem no momento onde o filme fica mais cambaleante. Quando vi o filme no cinema temi por DiCaprio nas semelhanças que o filme poderia ter com A Origem - e ao ver o filme de Nolan notei que existem grandes semelhanças entre as tramas, mas as diferenças parecem ter servido para o ator seguir por outro caminho, o da introspecção. Veremos qual deles o levará às premiações no ano que vem. Se Sandra Bullock levou o Oscar depois de dois sucessos num ano de vacas magras, quem sabe o currículo de DiCaprio ajuda no ano que vem?

Ilha do Medo (Shutter Island) de Martin Scorsese, com Leonardo DiCaprio, Mark Rufallo, Michelle Williams e Ben Kingsley. Cotação:☻☻☻

Nenhum comentário:

Postar um comentário