Calleb: talento que merece reconhecimento. |
terça-feira, 26 de março de 2024
PL►Y: Dogman
PL►Y: Nosso Amor
Liam e Lesley: |
Sabe aquele filme que quando lançam você fica interessado em assistir, mas com o tempo ele fica difícil de achar e você acaba esquecendo que ele existe? Isso aconteceu com Nosso Amor, filme estrelado por Liam Neeson (dando uma pausa nos filmes de ação que acumulam em sua carreira atualmente) e uma atriz que gosto muito, embora seus trabalhos sejam raros no cinema, a Lesley Manville (de Um Ano a Mais/2010 e Trama Fantasma/2017 . No último sábado chuvoso, eu procurava algo para ver naquele preguiça de depois do almoço e o encontrei quase de presente na televisão. O filme é dirigido pela dupla Lisa Barros D'Sa e Glenn Leyburn de forma bastante sensível ao acompanhar um casal com décadas de relacionamento e agora às voltas com um tratamento contra um câncer. Joan (Lesley) e Tom (Liam) já passaram por muitas coisas juntos e quando ela descobre um caroço no seio, a rotina de exames, tratamentos e cirurgias se tornam constante na rotina do casal que tenta levar os dias mantendo o companheirismo e bom humor. O filme opta por uma abordagem sincera daquela situação, abordando medos, inseguranças, dores e enjoos. Existe a inevitável cena da queda de cabelo, algumas discussões e pessoas que encontram pelo caminho que precisam lidar com o temor a respeito do que virá pela frente, algo que aflige também os dois. O casal de veteranos está excelente em cena, Liam encarna o esposo que disfarça suas inseguranças com piadas a todo instante, enquanto Lesley é a mulher serena com pé no chão que precisa lidar com o desconhecido. O filme segue sem firulas narrativas e sabe manter todo o sofrimento da situação na rédea curta, evitando exageros. Sabe dosar as cenas que deixam claro que existe um amor forte construído ao longo do tempo entre aqueles dois personagens (de forma que a ideia de um perder o outro se torna um temor para o próprio espectador). É um tipo de filme que se torna diferente justamente pela abordagem que se propõe sobre a vida de um casal que viveu muitos tempo junto e que pretende passar ainda mais tempo um do lado do outro. Um filme discreto, bonito e sincero que é uma raridade nos tempos atuais e que revela como seus atores são ótimos quando tem um bom material nas mãos.
Nosso Amor (Ordinary Love / Reino Unido - 2019) de Lisa Barros D'Sa e Glenn Leyburn com Lesley Manville, Liam Neeson, Esh Alladi, Maleanie Clark Pullen, David Wilmot e Amit Sha. ☻☻☻
segunda-feira, 25 de março de 2024
KLÁSSIQO: Mephisto
Klaus: A arte de ser repulsivo. |
domingo, 24 de março de 2024
PL►Y: Segredos de um Escândalo
Natalie e Julianne: brilhantes em estranha dinâmica. |
#FDS Diretoras: Pedágio
Kauan e Maeve: pecados pelo caminho. |
Pedágio (Brasil/2023) de Karolina Markovicz com Maeve Jinkins, Kauan Alvarenga, Thomas Aquino, Isac Graça, Aline Marta Maia e Erom Cordeiro. ☻☻☻☻
sábado, 23 de março de 2024
#FDS Diretoras: Anatomia de Uma Queda
Sandra Hüller e Swan Arlaud: entre a verdade e o sensacionalismo. |
Enquanto nutria minha vontade gigante de assistir Anatomia de Uma Queda, realizei uma retrospectiva dos filmes anteriores de Justine Triet. Antes de ser premiada com a Palma de Ouro no Festival de Cannes, a cineasta francesa havia realizado outros três longa metragens, todos também escritos por ela e seu esposo, Arthur Harari (ambos premiados com pelo último Oscar de roteiro original de Anatomia de uma Queda). O mais interessante é perceber que vistos em ordem cronológica, seus filmes revelam pontos em que uma produção revela um ponto de inspiração para seu sucessor, no entanto, nada realizado anteriormente pela diretora se compara ao brilhantismo que ela exibe aqui, seja na escrita ou no controle da narrativa. O mais interessante é que o filme nasce de uma ideia fixa na filmografia de Trier: casais em crise. Se em Na Cama com Vitória (2016) a relação do casal acaba parando nos tribunais, aqui, o que está em julgamento parece ser o próprio casamento dos personagens. O filme conta a história de uma escritora, Sandra (a excelente atriz alemã Sandra Hüller, indicada ao Oscar pelo papel) que vive afastada com esposo (Samuel Theis), filho (Milo Machado-Graner) e cachorro (Messi, um achado) nos alpes franceses da cidade em que o seu esposo nasceu. Quando o filme começa, ela tenta ser entrevistada enquanto marido coloca uma música altíssima para embalar a reforma do sótão. A entrevista é interrompida. O filho vai passear com o cachorro e ao voltar, ele se depara com pai morto sob a neve. Sandra escuta os gritos do filho e o que aparentemente era um acidente chega aos tribunais com a suspeita de que Sandra pode ser responsável pela morte do esposo. A partir daí, momentos bastante pessoais daquela casal começam a ser destrinchados e impostos para justificar um assassinato ou a tentativa de um suicídio. Aspectos pessoais da vida de Sandra (sua sexualidade, nacionalidade, profissão e obra) começam a impulsionar narrativas que questionam cada vez mais a sua inocência, num labirinto de versões e inferências sobre fatos que por vezes nem mesmo o espectador sabe mais o que pensar. Anatomia de uma Queda se torna assim um verdadeiro estudo sobre a construção da verdade, da difícil tarefa de chegar ao que de fato aconteceu quanto uma série de informações são apresentadas e manipuladas para chegar a um objetivo: a inocência ou a condenação de Sandra. Justine Triet conduz o filme com maestria ancorada por um roteiro excepcional e uma montagem esperta (também indicada ao Oscar), que sempre revela o necessário para manter a interrogação na mente do espectador. O filme é uma verdadeira aula de como manter o interesse do espectador com base nos diálogos encadeados e, por vezes, confrontados ao longo de duas horas e meia de narrativa. Anatomia de Uma Queda se constrói como quebra-cabeça, mas no fim não saberemos se todas as peças estão no lugar certo, especialmente depois do testemunho final deixado na interpretação do prodígio Milo Machado-Graner. É um daqueles filmes que faz você pensar por muito tempo e pode até se tornar uma referência para os surrados filmes de tribunal. O filme, que concorreu a cinco Oscars, incluindo o de Melhor Filme já está disponível no Prime Video.
Anatomia de Uma Queda (França / 2023) de Justine Triet com Sandra Hüller, Milo Machado-Graner, Swann Arlaud, Samuel Theis, Antoine Reinartz e Anne Rotger. ☻☻☻☻☻
sexta-feira, 22 de março de 2024
#FDS Diretoras: Priscilla
Priscilla e Elvis: conto de fadas do avesso. |
Enquanto Baz Luhrman ainda desfrutava de todo sucesso de seu filme Elvis (2022), Sofia Coppola divulgou que contaria a história de Priscilla Presley, a esposa do Rei do Rock. Houve quem torcesse o nariz para a ideia, mas houve um grupo que considerou que seria interessante ver o outro lado da história que foi contada pelo exuberante diretor pelas mãos de uma cineasta de estilo completamente diferente como Sofia. Se a própria Priscilla havia elogiado o filme de Baz, ela agora se tornava produtora do filme de Coppola com seu roteiro adaptado de sua famosa autobiografia chamada "Elvis e Eu" lançada em 1985. A obra já havia sido adaptada para um telefilme em 1988 (que por aqui foi exibida no SBT), mas isso não era obstáculo nenhum para o trabalho de Sofia. Dona de um estilo único, vale lembrar que ela se tornou a primeira cineasta nascida nos Estados Unidos indicada ao Oscar de direção por Encontros e Desencontros (2003) e, desde então, seguiu uma carreira que não se curva perante os parâmetros da indústria de Hollywood. Priscilla é mais um exemplo disso, ela consegue ser o total oposto do brilho colorido glamouroso do longa de Baz Lurhman e se torna um filme bastante introspectivo ao criar um retrato bastante íntimo da personagem que se apaixona pelo maior astro da música mundial - quando era uma adolescente de dezesseis anos. Este deve ser o ponto mais incômodo do filme e a escolha de Cailee Spaeny ressalta ainda mais a diferença de idade entre Priscilla e seu futuro esposo, já que ela consegue ser muito convincente como alguém muito jovem, assim como a mulher madura que se torna. A protagonista morava em uma base militar na Europa durante a Segunda Guerra Mundial, no mesmo período em que Elvis foi para a guerra. Obviamente que a garota ficaria fascinada com a chance de conhecer o ídolo de todas as garotas de sua idade e Elvis também ficou visivelmente atraído por ela. Não demora muito para que ambos fiquem debaixo do mesmo teto, ou melhor, para que ela se mude para casa dele enquanto ele cumpre seus compromissos de astro do rock. Durante a maior parte do tempo, Priscilla passa seus dias sozinha, indo para a escola, convivendo com as rápidas visitas de seu amado e as famosas oscilações de humor de seu futuro esposo. Muita gente reclama que o filme se arrasta nessa rotina da personagem, mas são justamente estes momentos que fazem do filme uma obra bastante incômoda sobre a realidade desta personagem real. Fico imaginando uma menina de dezesseis anos que é escolhida para ser a esposa de um homem mais velho e é tratada como uma espécie de propriedade preciosa, mas que precisa lidar com todos os percalços da personalidade complicada de seu parceiro. Cailee está ótima em cena e foi considerada a melhor atriz no Festival de Veneza do ano passado com justiça. Em sua interpretação podemos ver a montanha russa de emoções que se tornou a vida daquela adolescente, que precisou se tornar mulher à sombra das vontades de um dos homens mais famosos do mundo. Por outro lado, temos Jacob Elordi que não se parece com Elvis, mas consegue emanar um magnetismo irresistível, além de saber dosar os destemperos do cantor longe das câmeras na privacidade do lar. Existe algo de realmente angustiante nesta trama de conto de fadas virado do avesso, algo que o faz ser um filme complementar ao filme de Baz Luhrman. Pode não ser um filme perfeito, mas é um exercício narrativo instigante proposto pela diretora. O filme está em cartaz na MUBI.
Priscilla (EUA - Itália / 2023) de Sofia Coppola com Cailee Spaeny, Jacob Elordi, Ari Cohen, Dagmara Dominczyk, Tim Post, Lyne Griffin e R. Austin Ball. ☻☻☻