domingo, 14 de janeiro de 2018

PL►Y: A Longa Caminhada de Billy Lynn

Joe e Garrett: a guerra como espetáculo. 

O diretor taiwanês Ang Lee tem dois Oscars na estante (por Brokeback Mountain/2005 e As Aventuras de Pi/2012), além de vários outros filmes que poderiam ter lhe rendido o mesmo reconhecimento da Academia ao longo de sua carreira. Seja filmando em sua terra natal ou nos EUA, sua lista de trabalhos é extensa e impressiona principalmente pela diversidade (ele já adaptou Jane Austen com o brilhante Razão e Sensibilidade/1995 e fez até uma versão de Hulk/2003 quando a Marvel nem imaginava ter seu próprio estúdio).  Quando filma fora do oriente sua maior virtude é o olhar estrangeiro sobre a cultura americana, o que sempre confere um toque incomum sobre gêneros que pensamos conhecer tão bem - isto não quer dizer que sempre consegue reconhecimento do público e da crítica, pelo contrário, quando mais dissonante for o seu olhar sobre o da audiência, mais risco ele corre. Lançado em 2016, o filme A Longa Caminhada de Billy Lynn perdeu espaço para outro filme de guerra coberto de expectativas para as premiações, no caso Até o Último Homem/2016 que marcou a ressurreição de Mel Gibson para Hollywood. É fácil perceber a maior identificação do público com o filme de Gibson, que segue uma cartilha mais tradicional do filme de guerra americano, quando Billy Lynn oferece mais uma reflexão sobre as marcas da guerra e seu choque com a indústria do entretenimento. Billy (o novato Joe Alwyn) é um jovem de dezenove anos que é transformado em herói por conta de um incidente numa batalha no Iraque. Com seu retorno aos EUA , ao lado dos companheiros de batalha, o assédio da mídia é incessante, numa rotina de encontros e eventos que deixa a impressão de que os soldados (e seus traumas) estão todos deslocados naqueles espaços.  Entre a realidade do showbizz e da guerra, o filme utiliza flashbacks para contar um pouco do que aconteceu com o protagonista e seus companheiros enquanto se preparam para participar de um show do Destiny's Child (este mesmo, o antigo grupo de Beyoncé) durante um jogo de futebol americano e as negociações para que a história daquele herói se torne um filme. Ironicamente, Ang Lee torna o campo de batalha em segundo plano, girando em torno dos rapazes, sua inadequação àquela estrutura, o inevitável reencontro do protagonista com sua família e suas perspectivas para o futuro. O filme é baseado no best-seller de Ben Fountain e tem algumas fragilidades, como o pouco desenvolvimento dos personagens coadjuvantes ou não fazer a mínima ideia de como lidar com o relacionamento de Billy com a irmã (Kirsten Stewart na pele de Kirsten Stewart) ou a dançarina com quem se envolveu sexualmente no passado. Embora nasça de uma ideia interessante, A Longa Caminhada de Billy Lynn não tem fôlego para ser muito mais do que uma crônica visual sobre a guerra vendida como espetáculo da era W. Bush. Sem receber muita atenção nos cinemas americanos o filme foi lançado diretamente em DVD por aqui, uma pena, já que Ang Lee utilizou uma inovadora tecnologia para filmar (filmado em 3D com resolução 4K e 120 quadros por segundo, ou seja, cinco vezes mais rápido do que o utilizado nos últimos 90 anos), esse apuro visual fica evidente na cena do show (que resulta o melhor momento do filme), mas não serve para muita coisa num filme que poderia ser muito mais incisivo do que conseguiu ser.

A Longa Caminhada de Billy Lynn (Billy Lynn's Haltime Long Walk/EUA - Reino Unido - China) de Ang Lee com Joe Alwyn, Garrett Hedlund, Arturo Castro, Mason Lee, Beau Knapp,  Kirsten Stewart, Chris Tucker, Steve Martin e Vin Diesel. ☻☻

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