sábado, 5 de agosto de 2017

Na Tela: Um Instante de Amor

Marion e Alex: entre o amor real e o ideal. 

Eu ainda descubro quem inventa estes nomes genérico-bregas para filmes interessantes. Será que ele realmente pensa que alguém iria se interessar por uma obra condenada a carregar um título boboca feito este? Preferia muito mais que tivesse permanecido o nome em francês, sem nem precisar de tradução: Mal de Pierres já é sonoro e envolvente o suficiente para despertar a curiosidade de uma plateia. Coloque no cartaz a foto de Marion Cotillard e Louis Garrell (que nunca me convence, mas tem sua cota de admiradoras) e pronto, acredito que o filme receberia muito mais atenção nas poucas salas a que está destinado em nosso país. Mas, vamos lá... Um Instante de Amor é um filme de Nicole Garcia, atriz consagrada desde a década de 1960 e que desde os anos 1990 tem lançado obras como diretora com certa regularidade. O mais curioso é que seus filmes mais conhecidos como cineasta são obras em que consegue atuações marcantes de atrizes já consagradas, foi assim com Place Vendôme (1998) com Catherine Deneuve e com este Mal de Pierres estrelado por Cotillard. Trata-se de um drama romântico bem realizado e que, sem nos darmos conta, cria um mistério que só se revela no final. No entanto, a direção de Nicole é elegante o suficiente para evitar sensacionalismos e torna o desfecho convincente e até bonito (algo raro no gênero atualmente). O filme é sobre a jovem Gabrielle (Marion), que vive no interior da França na década de 1950 e sofre com a repressão dos seus pais. Na verdade, Gabrielle transborda desejo sexual por um romance que deve existir somente em seu imaginário - e a sociedade provinciana ao seu redor não ajuda muito. Depois dela se apaixonar por um homem casado, seus pais ficam preocupados e a acabam arranjando seu casamento com um homem rústico da região, José  (Alex Brendemühl). José é bastante diferente do tipo que Gabrielle se interessa, mas o relacionamento entre os dois se desenvolve de forma interessante. Entre acordos e fantasias o casamento de ambos sobrevive, até que as constantes dores de Gabrielle a leva até uma casa de tratamento e ela conhece o militar André Sauvage (Louis Garrell) e a sintonia entre os dois é inevitável. Impossível durante o filme não pensar sobre relação entre o amor real e o ideal, o desejo e a repressão, o concreto e o devaneio entre outros pontos que não vou mencionar para não estragar. O fato é que Nicole  Garcia realiza um belo filme com doses cavalares de sensualidade sem ser vulgar. Os ângulos escolhidos, as paisagens, a luz utilizada na fotografia compõem um todo bastante harmônico e coerente, além de contar com ótimas atuações (especialmente de Marion e o resiliente Alex, ambos em uma sintonia impressionante). Vi o filme sem esperar muito dele e realmente me surpreendeu, talvez seja por conta do olhar extremamente feminino que a diretora lançou sobre a história que nos faz entender os sentimentos mais conflitantes de Gabrielle se distanciando do mero capricho.  Não por acaso o filme foi indicado à Palma de Ouro em Cannes e concorreu a oito prêmios no César deste ano (incluindo filme, direção, atriz e roteiro).  Quem gosta de romance irá apreciar bastante o resultado. 

Um Instante de Amor (Mal de Pierres / França-Bélgica-Canadá / 2016) de Nicole Garcia com Marion Cotillard, Alex Brendemühl, Louis Garrell e Brigitte Roüan ☻☻☻☻

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