terça-feira, 8 de agosto de 2017

A TRILOGIA DE BRIDGET JONES

Colin, Renée e Hugh: O triângulo de "O Diário de Bridget Jones". 

Só recentemente eu assisti O Bebê de Bridget Jones/2016 e não resisti em fazer uma retrospectiva de um dos raros casos em que uma comédia romântica gera uma trilogia de fãs fiéis. Confesso que li "O Diário de Bridget Jones" de Helen Fielding para espairecer enquanto estava na faculdade e dei boas gargalhadas com as desventuras da inglesa acima do peso, cheia de inseguranças que dividia seu humilde coração entre um advogado bem conceituado chamado Mark Darcy (e o nome em comum com o personagem de Orgulho e Preconceito não é mera coincidência) e um canastrão irresistível chamado Daniel Cleaver. O livro vendeu feito água  e uma versão para o cinema era algo quase obrigatório. Assim que começaram os primeiros rumores sobre as filmagens vieram os testes para protagonista e, surpreendentemente, a texana Renée Zellweger desbancou inglesas consagradas como Kate Winslet e Helena Bonhan-Carter que estavam no páreo. Naquela época Renée começava a chamar atenção em Hollywood, fizera um belo trabalho ao lado de Tom Cruise (Jerry Maguire/1996) e de Meryl Streep (Um Amor Verdadeiro/1998) - e o Globo de Ouro de atriz de comédia pelo ácido Enfermeira Betty/2000 estava fresquinho quando foi eleita para ser a cultuada Bridget. Renée teve que ganhar peso, ensaiar o sotaque britânico e todo o resto parece que aconteceu naturalmente, já que a atriz tinha o timing cômico perfeito para a personagem.  Dirigido por Sharon Maguire, a atriz tirou de letra a personagem ao lado de Colin Firth (Darcy) e Hugh Grant (um Cleaver mais envolvente que no livro). O filme fez enorme sucesso ao apresentar uma protagonista fora dos padrões (afinal, a balança era sempre um problema) e com piadinhas que brincavam com eterno duelo entre ficar com o cara certo e ser tentada pelo cara errado. A obsessão por calorias, as inseguranças e trapalhadas estavam todas lá, a única coisa que perdeu espaço no filme foram os amigos de Bridget, Tom (James Callis), Jude (Shirley Henderson) e Sharon (Sally Phillips) apareciam pouco, já que o roteiro preferiu explorar mais a relação da personagem com sua família (formada por Jim Broadbent como pai e Gemma Jones na pele da mãe) e seus pretendentes. Só que pouca gente se importou, já que o filme foi indicado ao Globo de Ouro de melhor Comédia e Renée lembrada na categoria de melhor atriz cômica e até o Oscar considerou sua performance uma das cindo melhores daquele ano. Com tanto sucesso e irresistível simpatia, ver o segundo livro da personagem ganhar as telas era questão de tempo. 

No Limite da Razão: "Like a Virgin" das detentas. 

Lá estava Renée Zellwegger ganhando peso novamente para viver a personagem depois do Oscar de coadjuvante pelo drama  Cold Mountain (2003). Ainda que a atriz estivesse no auge, se as inseguranças de Bridget já te cansavam no primeiro livro era melhor ficar bem longe do segundo - já que ele evitava mostrar grandes transformações na personagem e a mantinha na mesma vivendo novas trapalhadas e ainda enrolada em seu relacionamento com Darcy (e a incompatibilidade entre os dois era cada vez mais visível). Ela insegura, ele típico britânico certinho com dificuldade de expressar seus sentimentos. Sorte que quando a versão de Bridget Jones: No Limite da Razão chegou às telas, os produtores souberam melhorar a trama do livro, mantendo as partes mais divertidas e retirando boa parte de tudo que começava a ficar cansativo na personagem. Eles tiveram o bom senso de colocar a crise profissional da personagem no passado, lhe dando mais estabilidade (ainda que alguns micos perdurassem como uma maldição), mas mantinham o triângulo amoroso entre a ela Darcy e Cleaver.  Era uma versão 2.0 do que vimos no filme anterior, com a diferença que depois de um tempo juntos, Darcy e Jones começam a duvidar que foram feitos um para o outro - mas depois do que acontece na famigerada viagem à Tailândia, Bridget começa a suspeitar que Cleaver também não merece muita atenção. Entre crises de ciúme, uma temporada no presídio (com direito à cantar Like a Virgin junto com as detentas) e um banho de chuva o filme fez menos sucesso que o anterior, testou a devoção dos fãs e rendeu para Renée mais uma indicação ao Globo de Ouro. Quatorze anos depois do segundo livro a escritora Helen Fielding lançou Bridget Jones: Louca pelo Garoto, onde a personagem aparecia com 50 anos e viúva com dois filhos para criar. Parece deprimente demais? Parece que os produtores acharam o mesmo e resolveram colocar o livro de lado e inventar uma outra história para o terceiro filme: Bridget seria mãe. O roteiro teve tantas versões rejeitadas por Hugh Grant que ele todos acharam melhor ele pular fora do projeto, dando sinal verde para o estúdio fazer o que bem entendesse. Só que agora, Colin Firth tinha seu Oscar de Melhor Ator (por O Discurso do Rei/2010) e  Renée Zellwegger andava sumida depois das plásticas que mudaram seu rosto para sempre. Resgatar a personagem era a chance de sair do limbo após seis anos sem filmar. O Bebê de Bridget Jones  chegou às telas em 2016 e serviu para os fãs matarem a saudade da personagem. 

O Bebê de Bridget Jones: sai Cleaver e entra Dr. Shepherd.

Doze anos separam o segundo filme do terceiro e de lá para cá, não foi só o rosto de Renée que mudou. Com um mundo mergulhado em novas tecnologias e discursos de empoderamento feminino, fica visível que a produção passou por uma repaginada para dialogar com um novo tempo. Sendo assim, até a trilha sonora se rende à Ed Sheeran, festivais de música, aplicativos, passeatas e manifestações. A Europa não é mais a mesma e até a mãe de Bridget agora engrena numa carreira política precisando mudar o discurso conservador.  No entanto, essas alterações não são muito mais do que um verniz bem sutil diante da história, já que a personagem continua presa ao seu amor por Darcy e, com a morte de Cleaver, agora ela... tem outro pretendente! A diferença é que sai um calhorda e entra um personagem masculino adorável vivido por Patrick Dempsey (um dos galãs favoritos das mulheres maduras após ser o médico galã da série Grey's Anatomy). Ele vive um sujeito que criou um algoritmo capaz de encontrar o par perfeito de qualquer pessoa (e ficou milionário com isso). Eis que é deste triângulo que Bridget fica grávida e não sabe se é de Darcy ou Dempsey, ou melhor, Jack. Cria-se um imbróglio que nem o roteiro sabe lidar muito bem, mas que tenta colocar Bridget em um novo dilema: continuar investindo num relacionamento que não funcionou no passado ou tentar algo novo com um sujeito que pode lhe fazer feliz.  Pelo menos desta vez a personagem não está obcecada em perder peso, está levemente mais segura e torna-se até interessante ver Renée voltando às telas envelhecida após tanto tempo. Ainda que algumas intervenções estéticas se mostrem problemáticas no rosto da atriz, ela ainda tem carisma e sintonia com uma personagem que conquistou milhões de fãs pelo mundo e sua atuação livre de botox também tem um frescor muito bem vindo. Porém, eu gostaria o filme houvesse investido em uma trama mais simples e fizesse a personagem lidar com seu amadurecimento e não com o enorme clichê de não saber quem é o pai do próprio filho. Talvez se houver um quarto filme (o que eu acho bem difícil), a personagem possa manter o bom humor e ser levada a sério ao mesmo tempo. 

O Diário de Bridget Jones (Bridget Jones's Diary/ EUA - Reino Unido - França - Irlanda / 2001) de Sharon Maguire com Renée Zellwegger, Colin Firth, Hugh Grant, Jim Broadbent, Gemma Jones e Shirley Henderson. ☻☻☻☻

Bridget Jones no Limite da Razão (Bridget Jones: the Edge of Reason/ EUA - Reino Unido - França - Irlanda / 2004) de Beeban Kidron com Renée Zellwegger, Colin Firth, Hugh Grant, Jim Broadbent, Gemma Jones, Neil Pearson e Patrick Baladi. ☻☻☻

O Bebê de Bridget Jones (Bridget Jones's Baby/ Irlanda - Reino Unido - França EUA / 2016) de Sharon Maguire com Renée Zellwegger, Colin Firth, Patrick Dempsey, Jim Broadbent, Gemma Jones, Sarah Solemani e Agni Scott. ☻☻☻

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