sexta-feira, 7 de julho de 2017

NaTela: O Mago das Mentiras


Michelle e DeNiro: farsante bilionário. 

Acho curioso o interesse dos diretores americanos pela primeira grande crise econômica do século XX. Nos últimos anos vários filmes exploraram o assunto sob diversos prismas. Um deles é a busca do entendimento do que estava por trás de tudo o que aconteceu subitamente num cenário que parecia tão seguro e, de repente, virou pó diante de negócios que parecem surreais(compras de dívidas, pirâmides, quebra de parâmetros reguladores...). Outro ponto de interesse tem sido os personagens que fizeram esta bolha crescer e estourar dentro da economia americana de um mundo globalizado. O Mago das Mentiras de Barry Levinson se dedica a explorar a figura de Bernard Madoff, um dos sujeitos que ajudaram a configurar a economia americana antes da crise. Madoff era um dos investidores mais conhecidos do mercado americano e por duas décadas construiu sua fortuna sobre fundos de aplicação que simplesmente... não existiam! Sua fortuna era estimada em 65 bilhões de dólares construída sobre o nada - e que se transformou num verdadeiro vácuo que sugou não apenas seu patrimônio, mas também toda credibilidade e, também sua família. Feito para HBO pelas mãos de  Barry Levinson, o diretor poderia pegar o caminho mais fácil e demonizar a figura de Madoff, mas isso parece simples demais. Levinson preferiu mostrá-lo como um sujeito muito articulado, incapaz de perceber o quanto metia os pés pelas mãos. Vivido por Robert DeNiro, o investidor recebe gestos contidos e personalidade de muitas nuances, tendo momentos de raiva, mas também de culpa e melancolia, especialmente quando sua  família é tragada para a espiral que ele mesmo criou. Afinal,  como seus filhos, Mark (Alessandro Nivola) e Andrew (Nathan Darrow) trabalhavam com o pai e não perceberam o que era feito? E a esposa (vivida por Michelle Pfeiffer) nunca se questionou sobre a origem dos bilhões produzidos pelo esposo? A imprensa foi implacável em afirmar que todos sabiam exatamente o que acontecia, enquanto a família afirmava que somente Madoff sabia os detalhes dos bastidores. O Mago das Mentiras se beneficia de evitar os termos técnicos enquanto expõe como o protagonista se aproveitou de brechas e a conivência de várias pessoas que fizeram vista grossa para o que estava acontecendo para enriquecer cada vez mais. Segundo Barry, diante da crise, o mundo precisava de um bode expiatório - e ele foi o eleito -, no entanto, seria ingenuidade pensar que suas práticas eram exclusivas dentro do sistema econômico ou que elas deixaram de acontecer depois de sua ruína pessoal e prisão.  O Mago das Mentiras pode até se desequilibrar em alguns momentos entre o drama familiar e ser um retrato do que a estranha economia mundial se tornou, mas demonstra de forma contundente como existem engrenagens que não fazemos a mínima ideia de como funcionam em torno do nosso dinheiro.  

O Mago das Mentiras (The Wizard of Lies/EUA-2007) de Barry Levinson com Robert DeNiro, Michelle Pfeiffer, Alessandro Nivola, Nathan Darrow, Hank Azaria e Michael A. Gorjian. ☻☻☻

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