segunda-feira, 17 de julho de 2017

Na Tela: Nunca Me Sonharam

Educação no Brasil: ainda em sua longa jornada.

É sempre curioso como a sociedade repete para si que a educação é fundamental para melhoria da situação de um país. No entanto, poucos se perguntam que educação é essa que se oferece para os alunos. O Brasil é um país de proporções continentais e com uma diversidade que acompanha essa proporção gigantesca. Trata-se de uma diversidade não apena de cores, credos, culturas, mas também de condições econômicas, déficits e sonhos. Nunca Me Sonharam é um documentário sobre alunos do Ensino Médio de diversas localidades. Por sorte ele não pretende ser didático, defender uma corrente educacional ou massacrar mais uma vez a escola pública. O filme de Cacau Rhoden escuta principalmente jovens comentando suas opiniões sobre a realidade que observam e desejam com a escola que possuem. O resultado impressiona por apresentar a distância que existe entre suas angústias e o ensino, muitas vezes fornecido em uma estrutura precária repetindo que eles são responsáveis pelo futuro do país. E quem seria responsável pela educação desses responsáveis pelo futuro? Estes não seriam mais responsáveis ainda pela degradação dos recursos destinados à vastidão de alunos que dependem do Ensino Público? Nunca Me Sonharam evita posicionamentos partidários, mas apresenta entrevistas contundentes (também com educadores, psicólogos, psicanalistas, mães de alunos) que repetem que algo está errado, ou pelo menos, não se encaixa no discurso que é propagado (muitas vezes demagogicamente sobre a educação em nosso país). Imagino o trabalho enorme que Cacau teve para deixar o filme pronto, escolher as melhores falas de seus entrevistados e costurar sua narrativa documental sem perder o foco na dificuldade que a maioria das escolas possuem em criar uma sintonia com seus alunos. Sintonia esta importantíssima para o processo de ensino-aprendizagem e formação de seus estudantes. Manter o foco deve ser o mais difícil, já que a escola está sempre entrecortada por tantos fatores (estigmas, crises econômicas, políticas, sociais, o acesso à informação, a violência, cortes de verbas...) e uma juventude tão cheia de informação - o que potencializou ainda mais a indecisão, a ansiedade e a insegurança perante o mundo que lhes apresentam. Sorte que no meio do desespero, o filme apresenta iniciativas de quem conseguiu repensar sua prática e conseguiu driblar obstáculos com doses consideráveis de criatividade e esperança. A obra comove por ser dolorosamente real ao dar voz a pessoas que geralmente são silenciadas nas propostas educacionais, mas como documentário assusta por ser mais um sobre a educação brasileira em que se percebe que pouca coisa mudou nos paradigmas escolares nas últimas décadas. Imagino Cacau reencontrando seus entrevistados em 2027 e mostrando que futuro eles conseguiram construir. Imagino que todos terão muito trabalho para consertar o caos que vivenciamos nos últimos anos. Diante de todas as dificuldades que vemos retratadas no filme, desejar boa sorte e repetir bordões politiqueiros não é suficiente - e faz tempo... 

Nunca me Sonharam (Brasil/2017) de Cacau Rhoden ☻☻☻

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