domingo, 30 de julho de 2017

Na Tela: Dunkirk

Dunkirk: Nolan vai para a guerra. 

Ainda que Christopher Nolan tenha em seu currículo três indicações ao Oscar (pelos roteiros de Amnésia/2000 e  A Origem/2010 - pelo qual também concorreu ao prêmio de Filme do Ano), existe uma certa mágoa com a Academia que perdura desde que o seu magnífico O Cavaleiro das Trevas (2008) ficou de fora das categorias de filme e direção. Se com Interestelar (2014) muita gente já viu sinais de desgaste na criatividade do moço, com Dunkirk ele quer mostrar que é um diretor maduro, capaz de revisitar um drama de guerra histórico com personalidade e estilo bastante próprios. Feito em proporções épicas em todos os quesitos técnicos, Dunkirk é um espetáculo para se apreciar na telona, com som ensurdecedor e toda a sorte de sons e recursos de que o cinema possui para se tornar uma experiência verdadeiramente imersiva (sem 3D, por favor). Houve gente que reclamou do som alto do filme, que a cada explosão ou zunido de avião parece transportar o espectador para dentro da Operação Dínamo, mais conhecida como a evacuação de Dunquerque - onde os aliados da Bélgica, Império Britânico e França esperavam ser resgatados após serem cercados pelo exército alemão no início da Segunda Guerra Mundial. O resgate ficou conhecido por todas as atribulações que  geraram uma verdadeira batalha no litoral franco-belga. Trata-se de uma conhecida história de derrota que Nolan transforma em uma trama sobre sobrevivência. Desde a primeira cena o diretor já insere o espectador nos horrores da guerra com o jovem soldado Tommy (Fionn Whitehead) vê seus amigos serem mortos um a um quando ruma para o litoral. Chegando lá ele percebe que as coisas não serão muito fáceis se quiser chegar em casa. Em melhor situação não está o piloto Farrier (Tom Hardy) que em meio aos problemas com seu avião terá que proteger quem aguarda o resgate no litoral ou até mesmo Sr. Dawson (Mark Rylance) que parte com o filho, Peter (Tom Glynn-Carney) e um amigo deste, George (Barry Keogahn que em breve aparecerá no premiado The Killing of a Sacred Deer) para ajudar no resgate das tropas com seu barco particular de fim de semana. Com esses três núcleos, Nolan mostra histórias de anônimos que se envolveram numa operação com tudo para dar errado, mas que era a única chance de regate dos soldados que já haviam perdido a batalha. No entanto, o filme não se preocupa em contar a história pessoal de cada personagem, pelo contrário, os coloca logo em situações limite e, por isso mesmo, imprevisíveis. Assim, Nolan contrapõe os conflitos macros da narrativa com os pequenos conflitos das relações humanas em sua generosidade e mesquinharias. Os efeitos especiais e sonoros são uma atração a parte e compõem boa parte do espetáculo que o filme se propõe. Se em Amnésia (2000) o diretor brincava com a edição para reproduzir o efeito na mente do espectador, para depois abusar dos efeitos especiais e movimentos de câmera em  A Origem para alcançar o mesmo efeito, aqui ele utiliza uma sonoridade avassaladora  para deixar o espectador tão atordoado como seus personagens. Admiro a capacidade do diretor querer causar vertigens na plateia com todo som e fúria da guerra, mas poderia ter utilizado menos a trilha sonora constante (que em alguns momentos está sobrando em cena). Provavelmente Dunkirk será lembrado nas premiações, mas não é a obra-prima que Nolan gostaria que fosse - tenho a impressão que parte de sua alma ficou perdida na ilha de edição, afinal de contas, sua montagem mesclada das três histórias em tempos distintos serve mais para confundir do que envolver a plateia. Houvesse seguido uma narrativa mais linear, Dunkirk talvez  tivesse um efeito ainda mais impactante no espectador que sente-se meio perdido nos pedaços que precisa juntar. Pode se dizer que Dunkirk exacerba todas as características que os críticos do diretor sempre apontam: é grandiloquente, megalomaníaco, ambicioso, pretensioso mas também é a obra mais imersiva e séria de um diretor que já não precisa provar mais nada para ninguém. 

Dunkirk (Reino Unido/França/EUA/Países Baixos - 2017) de Christopher Nolan com Fionn Whitehead, Mark Rylance, Rom Hardy, Barry Keoghan, Cillian Murphy, Tom Glynn-Carney, Jack Lowden e Kenneth Brannagh. ☻☻

Um comentário:

  1. Bom que gostou do filme, Julieta! Só que ainda percebo muito de ficção em Dunkirk - o que não diminui em nada os seus méritos, não é? O filme realmente impressiona.

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