sábado, 18 de fevereiro de 2017

Na Tela: Até o Último Homem

Garfield: herói de guerra sem pegar em armas.

Não sou grande fã de filmes de guerra, sempre os considero muito parecidos entre si e são poucos os casos em que sinto algo realmente original além da tentativa de tornar em espetáculo uma das coisas mais estúpidas já criadas pela humanidade. Meus favoritos do gênero são Apocalipse Now (1979), Nascido Para Matar (1987) e Além da Linha Vermelha (1998), mas isso não impede que eu reconheça as qualidades que O Resgate do Soldado Ryan (1998) e até Sniper Americano (2014) possuem. Já com Até o Último Homem a situação é diferente, o filme que ocupa o lugar de filme de guerra no Oscar deste ano está longe de ser uma obra-prima. Ainda que conte uma história inacreditável de um herói de guerra que se recusou a matar no campo de batalha, o filme padece de vários tropeços pelo caminho. O mais interessante é que o filme possui todos os elementos que fazem a velha guarda da Academia ir ao delírio e manifestar seus sentimentos mais patrióticos. O filme foi indicado a seis Oscars e, entre eles, coroou a volta por cima de Mel Gibson em Hollywood - já que ele assina o longa e concorre nas categorias de melhor filme e melhor diretor. Gibson andava por baixo depois de fazer comentários desagradáveis sobre meio mundo e diante da perda de compostura caiu numa espécie de limbo. O ator que já foi um dos mais populares dos anos 1990 perdeu a popularidade e seus últimos filmes como ator não empolgaram, mas, ao que parece, como cineasta ele ainda sabe como agradar. A primeira hora de filme serve para apresentar a história de Bernard Doss (Andrew Garfield), filho de um pai durão (Hugo Weaving) e de uma mãe atenciosa (Rachel Griffiths) que resolve ir para a guerra com a intenção de ajudar em tudo que for possível, desde que não tenha que usar armas. Nesta primeira parte tudo é bastante previsível na história, desde as cenas de sua infância, passando pelo seu romance com uma bela enfermeira (Teresa Palmer) até o seu alistamento. Na parte onde suas convicções geram descontentamento no exército o filme parece deixar o humor um tanto deslocado de lado e ganhar um tom mais sério (ainda que tenha Vince Vaughn como sargento Howell), mas nada se compara quando os soldados chegam à Serra Hacksaw (o título original do filme), e vivem um verdadeiro inferno na batalha de Okinawa. É ali que Desmond irá ver os soldados sendo destroçados e colocar suas convicções à prova, também é nesta parte que Mel Gibson irá fazer algumas das cena mais brutais que já se viu neste tipo de filme. Pilhas de corpos mutilados, ensanguentados, sangue, suor, sujeira, explosões, corpos em chamas... são mais de 60 minutos de violência em estado cru de forma impressionante, cabendo a Andrew Garfield manter a integridade de um personagem incomum para todo esse cenário desolador. Gibson exagera na trilha sonora, no humor involuntário, nas cenas em câmera lenta e na duração da narrativa (duas horas e vinte minutos), embora eu considere um filme mediano, Gibson provou que ainda sabe exatamente como cair no gosto dos votantes do Oscar. Resta saber até quando (e o quanto) está perdoado. 

Até o Último Homem (Hacksaw Ridge/Austrália - EUA / 2016) de Mel Gibson com Andrew Garfield, Hugo Weaving, Rachel Griffith, Vince Vaughn, Sam Worthington, Milo Gibson e Luke Pegler. ☻☻

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