sábado, 25 de fevereiro de 2017

BREVE: Um Limite Entre Nós

Denzel e Viola: atuações espetaculares num filme longo demais.

Ano passado o Oscar precisou lidar com a polêmica de no segundo ano consecutivo ter apenas atores caucasianos indicados ao Oscar. No meio de toda a barulheira, todo mundo sentiu falta de Idris Elba (Beasts of No Nation/2015) entre os indicados, mas foram outros atores que demonstraram a sua indignação. A verdade era que, para além das não indicações, havia um mercado com poucos filmes com papéis de destaque para atores afro-americanos. Foi necessário todo o burburinho em torno do #OscarSoWhite para que não apenas a Academia renovasse seus votantes diante da busca de uma maior diversidade, mas também que os produtores se voltassem para histórias com personagens que inspirassem atuações memoráveis. Não foi por acaso que filmes como Moonlight, Estrelas além do Tempo, Loving e Um Limite Entre Nós conseguiram espaço no Oscar, incluindo na categoria de Melhor Filme e nas categorias de elenco. Curiosamente, Um Limite Entre Nós se tornou um peso pesado da temporada por trazer dois atores icônicos para a Academia e que já interpretaram os mesmos personagens nos palcos (e foram premiados por suas performances). Faz tempo que Denzel Washington é o astro negro de maior prestígio em Hollywood, com dois Oscars na estante (coadjuvante por Tempo de Glória/1989 e ator por Dia de Treinamento/2001) ele pode levar a terceira para casa por sua atuação como o tagarela Troy Maxson, um homem que planejava ser um jogador profissional de basebal e viu seus sonhos serem destruídos por "não ter a cor certa". O tempo passou e Troy vive com a esposa e tenta educar os dois filhos sem maiores ilusões enquanto ganha a vida como gari. Os conflitos são inevitáveis quando o caçula vê no futebol a chance de melhorar de vida. A partir daí, Troy passa a ser um grande obstáculo para que ele realize seu sonho, o que começa a gerar conflitos em toda a família, inclusive de Troy com a própria esposa, a sempre sensata Rose Maxson (Viola Davis). Viola Davis se tornou a favorita ao prêmio de atriz coadjuvante por mais uma atuação memorável na telona  e já é a atriz negra com mais indicações na história do Oscar (uma de coadjuvante por Dúvida/2008 e outra de atriz por Histórias Cruzadas/2011), como é uma das atrizes mais celebradas nos Estados Unidos atualmente, provavelmente ela ainda irá fazer muita história em Hollywood. Aqui, enquanto Denzel cria um personagem expansivo (às vezes até chato, mas nunca caricato), Viola aposta na sutileza, como se guardasse suas forças para aquele momento em que explode diante da câmera. De fato, os dois formam uma dupla irresistível de assistir, que nos faz até perdoar que o filme tenha o maior jeitão de teatro filmado, com seus longos diálogos e quase cento e quarenta minutos de duração. Se o filme fosse mais enxuto provavelmente seria mais envolvente, mas entendo que Denzel (que assina seu terceiro filme na direção) quis preservar o olhar do dramaturgo August Wilson (que também assina o roteiro adaptado indicado ao Oscar) sobre um micro universo que reflete a tensão de uma época (ainda mais) complicada para a população afro-americana. Embora esteja entre os concorrentes a melhor filme no Oscar, Um Limite Entre Nós vale mesmo é por seu casal de atores espetaculares. 

Um Limite Entre Nós (Fences/EUA-2016) de Denzel Washington com Denzel Washington, Viola Davis, Stephen Henderson, Jovan Adepo e Russell Hornsby. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário