segunda-feira, 17 de outubro de 2016

BREVE: Wiener-Dog

Keaton e sua cachorrinha: a humanidade segundo Todd Solondz. 

Em cartaz no Festival do Rio o americano Wiener-Dog divide opiniões desde sua exibição em Sundance. O motivo maior para as discordâncias é a assinatura de Todd Solondz, que se tornou queridinho indie em 1995 com o excelente Bem-Vindo a Casa de Bonecas e aqui demonstra não querer fazer nada além de contar a história de vários personagens que cruzam a vida de uma simpática cadelinha bassê. Há quem diga que o diretor se repete ao criar sempre histórias que são puro pretexto para expressar seu pessimismo com o mundo e a banalidade da existência. No entanto, Solondz não está nem um pouco preocupado com as críticas que recebe, tanto que no seu filme anterior A Vida Durante a Guerra (2009) não hesitou em retomar a mesma família de seu cultuado Felicidade (1997) e terminou com o roteiro premiado no Festival de Veneza! Aqui ele revisita a menina Dawn Winner (agora vivida por Greta Gerwig), protagonista de Bem-Vindo a Casa de Bonecas. Dawn cresceu e tornou-se técnica em veterinária e é uma das pessoas que cuidam da cachorrinha do título (e os fãs vão ficar animados quando ela reencontrar Brandon, vivido agora por Kieran Culkin... mas não vai muito além disso). O bichinho de estimação ainda passa pelos lares de um garotinho (Keaton Nigel Cooke) que se apaixona pela cachorrinha enquanto seus pais (Julie Delpy e Tracy Letts) são os mais severos possíveis com ela, afinal, eles percebem que a bassê traz alegria para o menino, mas não estão dispostos a mudar a rotina da casa por conta dela. Nessa primeira parte os diálogos ácidos do diretor estão a todo vapor e geram conversas que parecem becos sem saída entre a mãe e o menino. Os diálogos cortantes fazem parte da marca registrada do cinema de Solondz e ganham contornos ainda mais deprimentes quando entra em cena o professor de escola de cinema vivido por Danny DeVito que é desprezado pela indústria cinematográfica e por seus alunos. O humor feito no atrito com situações dramáticas chegam ao auge quando entra em cena a senhora amargurada vivida pela ótima Ellen Burstyn, que recebe a visita da neta (Zosia Mamet da série Girls) antes de se confrontar com uma bando de crianças ruivas que são versões dela mesma se houvesse seguido caminhos diferentes  na vida (versões que vão desde "se você tivesse perdoado a sua mãe" à "se você desse melhores gorjetas"), nesse momento surreal que Solondz demonstra sua genialidade fora da camisa de força que criou para sua carreira e atingindo com perfeição o tom agridoce que desejava ao longo do filme. Quem conhece o mundo de Solondz já pode até imaginar como o filme termina  - e esse é o ponto que pode fazer com que muitos não apreciem o filme. Obsessivo com as marcas de sua cinematografia, Solondz ainda consegue ser interessante, ele pode não ter mais o frescor de seus primeiros filmes, mas pelo menos apresenta a quem se aventura por suas obras um pouco de como a humanidade pode ser cruel nas situações mais simples e corriqueiras - e nem por conta disso ser o vilão da história. 

Wiener-Dog (EUA-2016) de Todd Solondz com Greta Gerwig, Kieran Culkin , Julie Delpy, Tracy Letta, Danny DeVito, Zosia Mamet, Keaton Nigel Cooke e Charlie Tahan. ☻☻☻

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